Será que dá para vestir a camisa da empresa? Wilson da Costa Bueno
Pesquisas Acadêmicas: Será que dá para vestir a camisa da empresa? Wilson da Costa Bueno. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: tarcilio2 • 4/4/2014 • Pesquisas Acadêmicas • 1.987 Palavras (8 Páginas) • 483 Visualizações
Será que dá para vestir a camisa da empresa?
Wilson da Costa Bueno*
"Nossos colaboradores são o maior patrimônio da empresa". Com certeza, se você já assistiu a algum vídeo empresarial, costuma ler house-organs empresariais, folhetos institucionais ou mesmo tem prestado atenção nos discursos de gerentes de RH em eventos da área, deve estar cansado desta frase, absolutamente hipócrita na maioria dos casos.
[...] A verdade. A maioria dos funcionários não se compromete as organizações e se recusa terminantemente a vestir a camisa, exatamente porque não se identifica com elas (e deveriam?). E isso acontece por inúmeros motivos, desde o clima organizacional que não é nada saudável, ambientes que não privilegiam a comunicação interna e inclusive problemas relativos à falta de reconhecimento por parte da empresa. É aquela toada de sempre: o "colaborador" até que colabora, mas e onde está a contrapartida da empresa?
No fundo, é como sabemos, uma questão de gestão de pessoas e de comunicação interna. Mas a gestão de pessoas e a comunicação estão vinculadas à cultura organizacional e, infelizmente, para boa parte das organizações, a gestão continua autoritária, com pouco incentivo à participação, assédio moral (será que a Ambev já resolveu o seu problema?) , desestímulo à divergência de idéias e opiniões (você conhece a frase: manda quem pode, obedece quem tem juízo?).
Nossas organizações, com raras exceções, continuam dinossáuricas em termos de gestão de pessoas e de comunicação interna, essa então a prima pobre da comunicação organizacional, mal tratada como uma Gata Borralheira nas mãos da bruxa malvada das chefias intermediárias.
No ano em que se comemora os 150 anos do livro emblemático de Charles Darwin que embasou a Teoria da Evolução como a que concebemos hoje, podemos concluir que o universo empresarial, no que diz respeito à gestão de pessoas e à comunicação interna, evoluiu muito pouco e ainda está agarrado a valores e posturas de séculos passados. Os tentilhões de Darwin eram mais evoluídos do que as cabecinhas de alguns "capatazes" de RH.
Uma organização moderna pratica a gestão do conhecimento (e valoriza também os seus funcionários menos graduados), tem chefias que promovem o diálogo, reconhece os esforços dos seus colaboradores e os incentiva, cria condições para um ambiente interno saudável e produtivo, convive com a diversidade e se caracteriza por uma comunicação interna democrática, transparente, ética.
Mas as nossas organizações (saudemos as exceções, é lógico, mas elas são muito poucas) preferem usar a chantagem da ameaça de demissão (se estiver descontente, há um montão de gente querendo o seu emprego!), demonizam a Rádio Peão (que apenas repercute o que está acontecendo internamente) e costumam buscar bodes expiatórios para justificar o mal estar interno .Isso é coisa do Sindicato, dizem elas, quando a gente sabe que os sindicatos andam mais pelegos do que nunca, com raríssimas exceções e muitos deles estão mais interessados em ocupar espaço nas estruturas governamentais do que em liderar os associados.
A comunicação interna anda um horror, reduzindo-se quase sempre a um veículo formal, absolutamente pausterizado, cosmético, repleto de baboseiras, mais um instrumento de convencimento (que não funciona) do que de interação. Os house-organs continuam repetindo a velha cantilena de "babar" sobre a empresa e principalmente sobre as chefias e direções, aquela história de "somos a melhor empresa para trabalhar", "ganhamos o selinho tal", "vencemos o prêmio de comunicação" etc etc. Enfim, uma hipocrisia e um cinismo que só enganam diretores e empresários acostumados a receber elogios porque têm um ego avantajado e preferem ouvir mentiras do que encarar a verdade.
Gerentes de comunicação interna talvez estejam concentrando seus esforços (muitos efetivamente não pensam em outra coisa) para ganhar prêmios de comunicação de entidades da área (puxa, sua empresa ainda não tem um? Todo mundo tem!), preocupados mais com o quadrinho na parede ou troféu em cima da mesa do que com a excelência do relacionamento com os "colaboradores".
Na verdade, quem não anda vestindo a camisa das organizações são as chefias e diretores que vestem a própria camisa, buscam sua promoção pessoal e descuidam dos relacionamentos com os públicos internos. São pródigos em arrumar justificativas para o descontentamento dos "colaboradores" (esse pessoal não quer saber de nada!) e incompetentes para planejar ações e processos concretos para qualificar a comunicação interna.
Funcionários desmotivados, com a auto-estima no chão, não podem mesmo (e não devem) vestir a camisa das organizações que lhes trata mal e que, na primeira oportunidade, lhes viram as costas, como fez a Embraer, uma empresa boa para fabricar aviões mas com um coração de aço, uma gestão de pessoas de fundo de quintal.
As empresas têm um discurso grandiloquente, pomposo, arrogante, mas não estão dispostas efetivamente ao diálogo e imaginam que, com papo mole, conseguem convencer-nos de suas "boas" intenções, mas são desmascaradas imediatamente quando a crise se aproxima.
Os funcionários só vestirão a camisa das organizações, quando se sentirem orgulhosos delas, comprometidos com os seus objetivos, missões, e reconhecidos internamente. O ato de vestir a camisa não depende apenas dos funcionários, mas da postura das organizações, da sua capacidade de envolvê-los, de conquistá-los. Não será com ameaça, com chicote que esse comprometimento será obtido e as organizações já deveriam ter percebido isso (afinal de contas, a ditadura - ou a ditabranda como prefere a Folha de S. Paulo - ficou defasada no tempo).
Não adiantam campanhas destinadas a fazer com que os funcionários vistam a camisa porque compromisso só se consegue com uma troca efetiva, com credibilidade, com confiança recíproca, com respeito e comunicação democrática.
Com certeza, chefias e organizações que estão nos lendo devem achar que tudo isso é utopia e continuarão a fazer como sempre fizeram: tratam mal os funcionários, avacalham a comunicação interna e depois gastam uma grana para se proclamarem socialmente responsáveis, cidadãs. Muitas delas estarão desde já empenhadas em fraudar pesquisas e comprar espaços para figurarem nos rankings das melhores empresas para trabalhar que enchem os cofres de revistas e consultorias todo final de ano.
A verdade é crua: os funcionários só vestirão a camisa quando isso valer a pena. Parece que muitas organizações andam oferecendo peças
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