A Arquitetura
Por: Thalita . • 13/3/2019 • Trabalho acadêmico • 2.004 Palavras (9 Páginas) • 289 Visualizações
No artigo trabalhado foi abordado a fundamentação da psicopatologia fenomenológica existencial, observando como ela compreende e cuida o modo borderline de estar-no-mundo a partir de uma história de vida concreta. O artigo tem como propósito discutir, sob perspectiva da clínica fenomenológica existencial, o caso de uma mulher de 40 anos, onde recebeu o diagnóstico psiquiátrico de transtorno de personalidade borderline.
A partir de uma experiência clínica concreta, o artigo procura discutir a psicopatologia fenomenológica existencial, que adota como instrumento de compreensão do sujeito o método fenomenológico, buscando entender sua existência e suas várias formas de estar-no-mundo através de sua singularidade. Busca o significado da experiência vivida.
O ponto de partida da fenomenologia é a descrição, que é antes de qualquer interpretação ou de uma construção de conhecimento acerca do fenômeno. A compreensão fenomenológica permite que o ser que se mostra seja percebido a partir de si mesmo, ou seja, pela maneira própria como se mostra. O método fenomenológico, busca descrever o mundo a partir da perspectiva do sujeito e das suas experiências no mundo, das condições da sua existência e das suas possibilidades
A psicopatologia fenomenológica existencial concebe a doença a partir do próprio homem, como um modo de existência, compreendendo-a como uma construção que o sujeito elabora para dar forma e significação às suas experiências. que buscaram uma nova perspectiva para um homem. A postura do psicoterapeuta fenomenológico-existencial requer a colocação entre parênteses dos seus a priori e uma resposta genuína à pessoa tratada, porém não significa ignorar os dados descritivos conhecidos.
Na psicoterapia fenomenológico-existencial, o psicoterapeuta busca compreender, no caso desse artigo, o sujeito borderline, suspendendo o que conhece a priori a respeito da doença e considerando o sujeito a partir da sua forma de se expressar no mundo. As formas de expressão e os sintomas são considerados importantes na perspectiva psicopatológica fenomenológica, o que não significa que devam ser determinantes e que, a partir deles, se classifique o sujeito num quadro clínico. O desafio do psicoterapeuta fenomenológico-existencial é compreender o paciente borderline numa perspectiva antropológica, estando atento aos significados que ele manifesta em sua existência no mundo e como ele se relaciona com a realidade à sua volta. A partir da compreensão fenomenológica existencial, o psicoterapeuta busca, na relação terapêutica com o paciente borderline, construir novos sentidos para sua existência (Bin, 1998).
Yontef e Bin, dois grandes pensadores, discutem sobre O Distúrbio Borderline. Yontef (1998) fala que a personalidade borderline, chama a atenção para o fato de que, neste modo de "estar-no-mundo", o sujeito chega a perder, em alguns momentos de seu desenvolvimento, as fronteiras de tempo, de espaço e da relação com o outro. Para o sujeito borderline, há constante ameaça, sensação de fracasso ou sentimento de abandono pelo outro. Em qualquer separação do outro, tais sentimentos se manifestam com muita intensidade. Por isso que a relação com uma psicoterapeuta é bastante difícil.
Bin (1998) vem mostrar a existência borderline a partir de uma compreensão fenomenológica da temporalidade. Para ele, sujeito o borderline vive o tempo da sua existência numa exacerbação do presente, mas não num processo de presentificação: o passado e o futuro não existem para o sujeito borderline como algo que faça sentido para sua forma de "estar-no-mundo". Concordando com Yontef, Bin afirma que a existência borderline é demarcada pela imediaticidade e pelo vazio da presença, que é a busca da união imediata com a pura presença do outro, pois a experiência da presença, para o sujeito borderline, é vivida num sentimento de infinitude, ao passo que a perda do outro é percebida como a aniquilação do 'ser-aí'. É uma relação de confluência e de afastamento, ou, ainda, de acolhimento e de destruição do outro.
A relação entre psicoterapeuta e paciente, na abordagem fenomenológico-existencial, ocorre no entrelaçamento dos seus mundos fenomenológicos. Portanto, é necessário que o psicoterapeuta escute seu paciente e, também, a si mesmo. É uma relação caracterizada pela presença, por estar plenamente com o outro, o que envolve uma atitude de reciprocidade e de disponibilidade para entrar em contato consigo mesmo e com o paciente. Tal relação é caracterizada por um intenso envolvimento, como na confluência saudável, entendida, aqui, como uma relação de complementaridade, que ocorre na diferença, havendo uma identificação entre paciente e psicoterapeuta. Os psicoterapeutas fenomenológico-existenciais utilizam a redução fenomenológica como estratégia para compreender tanto as suas vivências quanto as do paciente na relação psicoterapêutica. Suspendem preconceitos, valores e teorias, buscando compreender o sujeito em sua alteridade, o que envolve uma atitude psicoterapêutica de ver e de escutar plenamente, potencializando a sua compreensão do inaudível e do que está além do que está posto. Trata-se de escutar a fala do outro em todas as suas dimensões (Amatuzzi, 1989). Nesta perspectiva, o psicoterapeuta está, seguramente, sendo ressignificado também, o que envolve um processo de auto-análise, de auto-escuta e de autoconhecimento permanentes de sua parte. Tal postura nos faz pensar que o psicoterapeuta não tem o controle de tudo. Seu poder, na medida em que detém um saber elaborado a respeito dos fenômenos vividos, é posto, efetivamente, a serviço do paciente, numa relação de mão dupla que proporciona um espaço para o encontro genuíno das experiências de ambos.
O caso que o artigo traz é de uma viúva, Maria, que tinha 40 anos quando foi encaminhada à SPA do curso de Psicologia pelo setor de psiquiatria de um hospital local. A queixa inicial da paciente, apresentada no setor de triagem do SPA foi de que estava perdendo sua sanidade mental. Afirmava que estava ficando violenta e que tinha pensamentos suicidas frequentes.
Maria morava em Fortaleza há 17 anos. Sua mãe biológica era amante de seu pai e morreu quando ela nasceu. O pai a levou para sua casa e Maria foi criada pela mulher de seu pai. Maria apenas ficou sabendo que não era filha legítima de sua "mãe" aos 20 anos, quando ouviu seu pai dizer à mulher que ela a tratava diferente por não ser sua filha legítima. Maria disse que ficou com muita raiva de seu pai por ele nunca lhe ter contado sobre sua mãe biológica. Entretanto, disse, também, que ficou com raiva por saber a verdade e que, talvez, preferisse nunca ter ficado sabendo.
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