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A Casa Portuguesa de Raul Lino

Por:   •  12/7/2021  •  Projeto de pesquisa  •  2.096 Palavras (9 Páginas)  •  461 Visualizações

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O Movimento e a procura das raízes

A cidade representa a diversidade, unindo as mais variadas expressões artísticas, culturais e diferentes modos de habitar. Estas manifestações, muitas vezes, acabam por receber influências estrangeiras, as quais não atendem e nem se adaptam à vivência, cultura, geografia e ambiente de um determinado país, cidade ou região. Diante dos fatos, e conforme menciona Raul Lino em sua obra [1], a partir do segundo terço do século XIX, a arquitetura portuguesa residencial enfrentou um período de decadência, no qual a produção arquitetônica nacional não obteve tamanho requinte e sucesso artístico como em outros tempos. Este fato possibilitou e facilitou a introdução de estilos e correntes estrangeiras no país. Portanto, esta era a atmosfera que pairava em Portugal durante a transição dos séculos XIX e XX: um país que havia começado a introduzir e produzir uma arquitetura pouco semelhante com a local, principalmente no que se referia a habitação urbana, a qual passava por um processo de verticalização, se distanciando, de certo modo, da arquitetura residencial portuguesa até então produzida.

Frente a estes acontecimentos, desenvolveu-se no país uma atmosfera nacionalista em busca do ´reaportuguesamento`, ou seja, da identidade arquitetônica genuinamente portuguesa. Segundo Rui Jorge Garcia Ramos[2], esse movimento que buscou preservar os valores específicos da ‘cultura, do habitar, da construção e da paisagem’, denominou-se de Casa Portuguesa e teve como principal expoente o arquiteto português Raul Lino, que através de estudos e da sua viagem feita pelo país, desenvolveu uma pesquisa sobre a Casa Portuguesa, compilando seus resultados em um pequeno exemplar denominado de Casas Portuguesas: alguns apontamentos sobre o arquitectar das casas simples. Esta obra apresenta as principais raízes que cooperaram para a construção da arquitetura portuguesa, investigando os modos de construir, os materiais disponíveis em cada região, os elementos marcantes e característicos de cada localidade, além dos principais estilos arquitetônicos empregados e difundidos no país, desde o período medieval até o início do século XX.

A Casa Portuguesa de Raul Lino

A Casa Portuguesa corresponde ao movimento em que Raul Lino desenvolve e idealiza a casa genuinamente portuguesa buscando qualificar a maneira do habitar frente às circunstâncias existentes no país, mais precisamente durante século XX. Desse modo, desenvolve uma arquitetura coerente às condições locais e cultura histórica, buscando recuperar a harmonia da paisagem que estava se perdendo nas cidades de Portugal. A estrutura base de seu trabalho fundamenta-se em função da implantação, da paisagem e da proporção, além da incessante busca pela oferta de qualidade do espaço interno e da estética atrelada às heranças arquitetônicas portuguesa. [3]

Em sua obra mencionada anteriormente, Lino reconhece e expõe a existência de características arquitetônicas peculiares em cada região de Portugal, enfatizando sua análise acerca de moradias unifamiliares produzidas no país e as heranças arquitetônicas do passado presentes nas mesmas. Além disso, nesta mesma obra denota os principais estilos arquitetônicos empregues no país durante o século XV ao início do XX, expondo, portanto, características da arquitetura renascentista, manuelina, gótica, árabe e barroca, as quais “contribuíram para a formação da arquitetura portuguesa”. Entretanto, vale ressaltar, que o seu ideal acerca da casa portuguesa se refere às suas próprias interpretações e convicções baseadas em seus estudos e análises da história da arquitetura de seu país. Lino não se apropriou de nenhuma herança cultural específica, pois acreditava que as construções tinham de expressar o caráter da época corrente e que a autenticidade da obra não poderia ser alcançada através de meras ´colagens`. Ressalta-se tal posicionamento, em um trecho exposto na sua obra teórica “Casas Portuguesas: alguns apontamentos sobre o arquitectar das casas simples,” publicada em 1933, onde Lino declara:

[...] o autor tendo ouvido alomear que o arco de ferradura é autenticamente árabe, à última hora resolve imprimir um par de ferraduras no meio da fachada, para que de arqueologia não deixe de haver também sua pitadinha… Bravo! Está terminada a obra; só lhe falta falar. Mas a obra não diz nada, parecendo tudo consentir. [4]

        Dessa maneira, denota-se que sua obra representa, sobretudo, uma análise profunda das referências e características arquitetônicas portuguesas e mesmo apresentando tais influências sua maneira de fazer esteve sempre presente em seus projetos, compostos de originalidade e da sua visão quanto ao modelo ideal de casa portuguesa. [5]

Assim, a linguagem empregada pelo arquiteto expõe “[...] uma postura teórica tão inovadora quanto moderna, baseada no entendimento do sítio, na reinvenção dos materiais tradicionais e na importância da vivência doméstica”.[6] Em vista disso, em seus projetos a preocupação de integrar a residência em uma paisagem campestre agradável sempre estará presente, mesmo quando a inserção se der em um ambiente citadino fará uso de pátios internos e de jardins anexos. Além disso, a maior parte das obras de Lino volta-se à produção de residências unifamiliares com alturas baixas, decisão projetual que busca retomar a visão do passado romântico e rural em oposição ao moderno e urbano. 

Quanto a composição volumétrica da casa portuguesa de Raul Lino, ressalta-se que este investe em elementos exteriores que, de certa forma, lembram e se aproximam da materialidade, composição e detalhes arquitetônicos de alguns estilos do passado histórico português residencial. Mas, ao mesmo tempo, afastam-se já que o arquiteto investe em tecnologias construtivas do século XX e busca criar sua própria síntese da herança residencial portuguesa, que será reproduzida, principalmente, por famílias abastadas da época. Assim, em planta, as arquiteto diretrizes projetuais do arquiteto voltar-se-ão para a ideia central de proporcionar bem-estar e uma boa vivência doméstica para os residentes. Desse modo, os espaços internos propostos por Lino foram desenvolvidos para adaptar-se às necessidades e especificidades de cada morador, priorizando a vivência coletiva e individual dos residentes, o que acarretava projetos mais elaborados, distanciando a sua arquitetura da casa rural portuguesa. Tal fato evidencia-se em um trecho de sua obra:

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