Arquitetura Bizantina
Tese: Arquitetura Bizantina. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: martataveira2 • 26/2/2015 • Tese • 2.233 Palavras (9 Páginas) • 371 Visualizações
Marta Taveira Escola Superior de Teatro e Cinema / História do Teatro I
N.º: 1101464 1º Semestre
Auto da Alma, de Gil Vicente
Gil Vicente nasceu a cerca de 1465 e faleceu por volta de 1537 – há dúvidas em relação a estas datas e à própria origem do dramaturgo, mas estima-se que foi por esta altura. O pai do teatro português criou a sua obra no século XVI, mas nasceu no século anterior, com isso verifica-se que o poeta tinha os olhos postos simultaneamente nestes dois séculos que em tanto se diferenciam e opõem, não só a nível político como artístico: o século XV tem ainda os ideais religiosos bem assentes, ou seja pode considerar-se que detinha de uma cultura teocêntrica (que coloca Deus no centro de tudo) - enquanto que no século XVI se deu o auge do Renascimento: mudaram-se os ideais acabados da Idade Média e colocou-se o Homem no centro do mundo (antropocentismo). Para compreender o "universo" das obras vicentinas é importante perceber o contexto histórico em que se insere a vida do poeta, que, para além de ser um período de transição, foi também uma época de grandes revoluções nas formas de pensar.
Do século XII até ao XV deu-se a Época Medieval, cujo teatro era religioso, didático e que servia, por assim dizer, como "meio de propaganda" - através da dramatização eram ilustradas passagens da bíblia, o que permitia aos religiosos difundir e reforçar a fé cristã. A intenção do drama litúrgico era a de mostrar Deus na vida quotidiana, fixando na memória dos fiéis a história sagrada e a vida de Cristo. O teatro funcionava como ajuda à fala com o outro, otimizando, assim, a relação da Igreja com o público - o principal objetivo do teatro não era o divertimento ou entretenimento dos espectadores mas sim a prática religiosa nele incutida. Inicialmente estas representações eram integradas na missa, no entanto, ao longo dos séculos, este drama litúrgico foi-se desenvolvendo e foram criados vários géneros teatrais: os Milagres (que eram representados no exterior das igrejas, cujos temas não eram obrigatoriamente religiosos mas retratavam exemplos de homens bons e da força de Deus - escapavam à narrativa bíblica), os Mistérios (que eram representados por toda a gente; realizavam-se nas grandes celebrações comunitárias e duravam vários dias; cada confraria tinha a obrigação de montar uma 'mansão' que representasse ou o Céu, ou o Inferno, ou um outro local; era um teatro ambulatório e que veio introduzir os três modelos de palco: longitudinal, em círculo e na horizontal), as Sotias (que eram de caráter profano e cómico, escritas e representadas por comediantes amadores originários da média burguesia, cujos cenários eram muito reduzidos e o tema principal era a ideia de um mundo às avessas) e as Moralidades (que será desenvolvido no decorrer do trabalho, visto ser o género teatral em que Gil Vicente se insere). O teatro passou portanto, das igrejas para as praças.
A partir do século XIV, surge o Renascimento que vem a pôr fim à Idade Média. O homem renascentista aparece em oposição ao homem medieval que era fraco a nível cultural e intelectual e que vivia sob uma hierarquização estática. Esta corrente funcionou como movimento de ruptura que valorizava o saber, a redescoberta dos ideais da antiguidade clássica e uma renovação das práticas religiosas (devido ao descontentamento dos crentes em relação à corrupção desenvolvida na Igreja). Todos estes assuntos direcionaram o homem para um ideal humanista e antropocentrista - "Na sua nova liberdade e dignidade então proclamada, o homem surgirá como o livre artesão de si mesmo e do mundo" (COSTA,1989:28) - o que vinha a contrapor a ideia de que Deus estava no centro do universo e que tudo acontecia a partir e por causa dele, considerava-se então o homem como o Deus dele próprio - "A homini dignitate do Renascimento, por evolução natural do seu conteúdo teórico, através da Idade Moderna, resultará na divinização do homem: como Deus encarnado na humanidade (...)" (ibidem). Segundo Dalila Pereira da Costa (1989), Gil Vicente manteve "a conceção tradicional portuguesa": o teocentrismo mantendo-se alheio às várias correntes que predominavam no decorrer da sua época - entre elas a corrente humanista que caracterizava o homem como cultivador da ciência nova racional. Aliado a um teatro de divertimento, de festa na corte, há, no teatro vicentino, a ideia de homem como o seu ser último, o homem do livre arbítrio - como se verifica nas três Barcas e no Auto da Alma.
Inserido na matéria de História do Teatro I, os autos de Gil Vicente pertencem ao campo da Moralidade (desenvolvida entre os séculos XIV – XVI). Este género teatral é posterior aos Milagres e Mistérios e teve um grande papel no teatro medieval. A Moralidade vicentina caraterizava-se não só pelo seu caráter didático, como, e principalmente, pela personificação de defeitos e virtudes do Homem em figuras (ou personagens) que na passagem da vida são confrontadas por dois extremos: o Bem e o Mal - centrados na ideia de que o homem se deve manter do lado do Bem e conseguir resistir às tentações e aos vícios que a vida lhe oferece. Este género teatral não tinha personagens individualizadas (de personalidade diferenciada das outras e que evolui no decorrer da peça) eram sim criadas representações de entidades abstradas com uma lição de moral definida e sem piscologismos. Eram chamadas de personagens-tipo, cujo caráter se baseava em vícios e defeitos do grupo social que representava - trazendo consigo, através dos erros que cometia, a moral que o autor pretendia transmitir. Por exemplo: o frade era conhecido como um cortesão boémio dado aos prazeres da vida e desrespeitador dos votos de castidade (visto que andava sempre acompanhado por uma moça), este modo de vida entrava, certamente, em contradição com a sua classe social - os elementos do clero deveriam ser um exemplo puro para todos os cristãos, ao invés de caírem nas tentações mundanas. E era através desta personalidade vincada e pecadora que Gil Vicente criticava a classe social a que a personagem se inseria.
O principal objetivo era transmitir aos espectadores lições morais, religiosas e políticas, ou seja, para além de toda a riqueza das personagens e comédia envolvida, prevalecia a força da palavra neste teatro que impunha ao espectador uma moral. Mantinha-se a doutrina religiosa (pois os pecados que eram julgados eram os mesmos ditados pela religião: adultério, avareza, ganância, entre outros) mas a prática teatral era profana. Embora não tenha encontrado informação explícita sobre
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