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Arquitetura e Açaí em Belém

Por:   •  21/2/2017  •  Ensaio  •  1.504 Palavras (7 Páginas)  •  253 Visualizações

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Arquitetura e Açaí em Belém

Donato Mello Junior

Curso de Arquitetura da Universidade Federal do Pará

        

Uma indicação honrosa, uma consulta amável, um voto de confiança e um convite especial trouxeram-me à Belém após longa hesitação íntima face à responsabilidade de uma missão nova, nunca sonhada: - ensinar Arquitetura no Brasil no Curso de Arquitetura da Universidade Federal do Pará.

Conhecia Belém como qualquer outro que nunca esteve em Belém, isto é não conhecia Belém. Após quase cinco meses de ensinar e estudar Belém, de viver sua cultura, de viver seus hábitos, de conviver com sua inteligência, de respirar seus ares, de saborear suas frutas, comecei a conhecer seu espírito e a sentir o coração de Nossa Senhora de Belém do Grão Pará.

Belém – o nome dos mais belos e doces êle nos recordas um Natal há 350 anos e nos lembra a Virgem de Nazaré.

Na sequência de aulas e mais aulas, na convivência humana de reuniões, palestras, exposições, tertúlias e passeios; no silêncio do estudo, na meditação, das pesquisas e dos escritos, vivi Belém intensamente – a Belém da Cidade Velha, a Belém de Landi em suas igrejas, a Belém da “Belle Époque” de Antônio Lemos e a Belém moderna de Alacid Maroja.

Nem todo o belemense conhece Belém, também nem todo carioca conhece o Rio. Admiram-se muitos daquilo que eu admirava...

Conhece o belemense o Ver-o-Peso, o Teatro da Paz, a Basílica de Nazaré, o Forte e o Mosqueiro, mas poucos conhecem a Capela de São João Batista, o engenho de Murutucú, a N. Sra. Do Rosário e dos Brancos ou o S. José de Botas.

Todos ouvem os sinos de Belém, mui poucos subiram! a tocar no bronze antigo dos campanários do Carmo, Sant’Ana, Sé ou Santo Antônio. Quem conhece as imagens da Ordem Terceira do Carmo, da Ordem Terceira de São Francisco da Penitências ou as de Santo Alexandre? Alguns estudiosos. Irão melhor conhece-las na grandiosa exposição “Santos de Nossa Senhora de Belém do Grão Pará” a realizar-se dia 22 de dezembro no Teatro da Paz e que terei a honra de colaborar.

        Todos vão ao cinema. Poucos ao Bosque Rodrigues Alves, ao Museus Goeldi. Quase toda a História do Pará está nos Códices da Biblioteca e Arquivo Público e raros os pesquisadores. Quem conhece os mapas de João Teixeira? Pouco. Quem procura o belo livro dos tucanos na riquissima Biblioteca de Goeldi?


        Quantos se emocionam ante a beleza elegante do açaí ou ante a majestade verde das mangueiras, as famosas mangueiras velhas de Antônio Lemos?

        Quantos reparam, há (dois) meses, no sacrifício coletivo das mangueiras indefesas da Tito Franco? Alguns justificaram-me ao deplorar-lhe o destino; quase protestei, mas havia razões nem sei se bem razoáveis.

        Muitos paraenses (não orientados) revestiram fachadas de formas agressivas e cacarias azulejadas e multi-coloridas num estilo “raio que os parta”. Donde veio o mau gosto? Também vemos alguns (bem orientados) se orgulharem da coleção fabulosa de suas fachadas azulejadas, fisionomia de uma época mais autêntica e exemplar.

        Procurei conhecer seus azulejos, afamados até no exterior, e levei-os para a aula.

        Fui ver várias vezes os paineis historiados de azulejos coloniais do antigo convento de Santo Antônio, relíquias dignas de Tombamento. – Poucos sabem da sua existência e do seu valor.

        O paraense ainda não se deteve bastante ante as telas da Catedral, da Sta. Ana das Mercês ou de S. João.

Nem sabe de tetos (pintados) em Santo Antônio ou Sto. Alexandre. Quem se emociona ante as muralhas do Forte, ante as torres das igrejas? Quantos se abalançaram a conhecer o Murutucú?

Fui ver tudo isso, curioso a apalpar, ante o sorriso ou a indiferênça de alguns, mas também encontrei uns poucos estudiosos e pesquisadores decifrando o passado.

O paraense vive as emoções do Círio, espetáculo inesquecível de fé, tradição e folclore, e se orgulha dos mármores ricos da sua Basílica. Mas não conhece o valor da fachada de lioz antigo, do Carmo, nem sabe onde estão as pedras tumulares de seus bispos maiorais. Nem ligam para o meio fio ou para as calçadas antigas de lioz autêntico, nem sabem às vezes que vieram de além-mar.

Quantos de Belém conhecem o Cristo de Vigia? a sacristia (escorada) de Vigia?, as telas (implorando restauração) de Vigia? Há 18 monumentos tombados (no Pará pela D.P.H.A.N.) e outros dignos de proteção pelo Estado.

O belemense não liga para o rio Guamá nem para a baia do Guajará. Esqueceu-se de fazer uma longa artéria a beira rio. As crianças “bem” não conhecem o rio pois a cidade voltou-lhes as costas. O forasteiro corre ao Boulevard e ao Forte para ver o espetáculo fabuloso e gratuíto de suas tardes coloridas. O pessoal da terra vai apressado ao mercado e não repara na cenografia de formas, côres e movimento de seus barcos.

(...) e enormes arranha-céus, símbolos de seu progresso e do seu desenvolvimento desordenado e parece envergonhado de seus sobrados de dois ou três andares. Mas Belém é autêntica em seus sobrados simples e sinceros, em suas rocinhas esquecidas.

Apontaram-me algumas arquiteturas modernas de Belém, melhor diria modernosas...... Na verdade existem alguns bons e elegantes exemplos de arquitetura, num mar de vulgaridade. Abundam formas mal copiadas e inadequadas, inclusive das colunas do magnífico palácio da Alvorada de Niemeyer. O paraense precisa “parar” de reformar fachadas antigas. Acredito que vai parar. Há arquitetos na terra.

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