O ensino artístico: subsídio para a sua história
Por: Michel Motta • 12/9/2019 • Resenha • 2.181 Palavras (9 Páginas) • 214 Visualizações
MORALES DE LOS RIOS FILHO, Adolfo. O ensino artístico: subsídio para a sua história. Rio de Janeiro:IHGB, 1938. p.11-47 (Capítulo: A missão artística francesa).
“Quando D. João, príncipe regente de Portugal, foi elevado à categoria de príncipe real do Reino de Portugal, do Brasil e Algarves, compreendeu que o Rio de Janeiro, sede da Monarquia portuguesa, necessitava de estabelecimentos de educação que completassem as iniciativas levadas a efeito da América portuguesa desde 1808.” (p.11);
“Para completar aquele conjunto de iniciativas, faltava uma coisa ou instituto teórico-prático de aprendizagem artística e técnico-profissional. O assunto deveria, pois, merecer-lhe toda a atenção.
Resolve, assim, contratar na Europa, em 1815, um grupo de artistas e artífices que aqui viesse fundar uma escola de ciências, artes e ofícios.
O autor da idéia dessa fundação, D. Antônio de Araujo de Azevedo, Conde da Barca, vindo para o Brasil com D. João VI, era homem cultíssimo. O Padre Santos o classifica como varão verdadeiramente sábio e profundamente instruído.” (p.12);
“Amigo dos homens de valor, muito protegeu aqueles que se dedicavam às ciências, cultivavam as letras ou praticavam as belas-artes.” (p. 13);
“No Brasil, exerceu, também, importantes cargos. Sucedendo ao Conde de Linhares, foi ministro, de 1814 a 1817, da Marinha e Domínios Ultramarinos e interinamente da Guerra e dos Estrangeiros - como substituto do Conde de Galveias - e presidente do Real Erário.” (p.13);
“Aliás, ao insinuar e trabalhar pelo contrato da colônia de artistas, o Conde de Barca agia tal como fizera em Lisboa, juntamente com o Conde de Linhares - D. Rodrigo de Sousa Coutinho -, no sentido de facilitar o progresso das artes e de proteger os artistas. Não teve, porém, a felicidade de ver funcionar a menina dos seus olhos, a Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios, pois falecia com a idade de 65 anos, aos 21 dias de junho de 1817. O seu desaparecimento foi sentidíssimo.” (p.14);
“Teve como successor, no Ministério, o Desembargador Tomaz Antônio de Vilanova Portugal.
Agindo o Conde da Barca de maneira a contratar na França os artistas indispensáveis ao novo estabelecimento de ensino no Brasil, era coerente com os seus sentimentos francófilos. Representante, no primeiro Ministério organizado no Brasil, da corrente francesa, ele se opunha ao Marquês de Palmela, que representava a corrente inglesa.
O pensamento e os desejos de um francófilo só podiam ser compreendidos e satisfeitos por outro homem que partilhasse dos mesmos sentimentos. Barca teve a sorte de encontrar o homem necessário na pessoa de D. Pedro José Joaquim Vito de Menezes Coutinho - Marquês de Marialva e Marquês Estribeiro-Mor -, embaixador extraordinário de Portugal junto à Corte de Luiz XVIII.” (p. 14);
“Gozando, em Paris, do mais alto prestígio pelas luzes do seu talento, elegância e distinção, laxo em que vivia, e bens de fortuna, ele consultou o sábio Humboldt, que já conhecia a América a respeito do propósito que animava o grande Conde da Barca. E Humboldt o apresentou à pessoa mais adequada para dar solução ao assunto. Essa era Joaquim Lebreton, secretário da Classe ou Academia de Belas Artes do Instituto de França.
E como a Restauração, representada por Luiz XVIII, fizera que os artistas bafejados por Napoleão caíssem na desgraça, Lebreton, que tinha sido apaixonado bonapartista, encontrou não poucos homens de valor que, participando dos mesmos e sentindo-se deslocados em sua própria pátria, desejavam partir para o estrangeiro.
Não coube a Marialva, entretanto, a glória de concluir as negociações, pois teve de retirar-se de Paris. Isso não impede que se acentue que o sexto e último Marquês de Marialva e oitavo Conde de Cantanhede foi, incontestavelmente, uma personalidade de excepcional valor para o Brasil.” (p.15);
“Muito coadjuvou a Marialva, nos entendimentos necessários para a vinda da Missão Artística, e prosseguiu-os, até terminá-los, o encarregado de negócios em Paris, Franscisco José Maria de Brito. Grande amigo do Conde da Barca, exerceu, com habilidade e discrição, numerosas missões diplomáticas.” (p.16);
“A 9 de outubro de 1815, Brito oficiava pela segunda pela segunda vez ao Marquês de Aguiar, que exercia o cargo de ministro e secretário dos Negócios do Reino, remetendo-lhe o original da proposta de Lebreton.
Por sua vez, a correspondência entre Brito e Lebreton prolongada até o fim daquele ano, dá em resultado que o Encarregado de Negócios adianta 10.000 francos de seu bolso particular, para que a viagem se realizasse. Assim procedia para evitar as delongas naturais em negociações dessa natureza, mormente considerada a distância entre Paris e Rio de Janeiro.
Não foi sem dificuldades que o Governo francês permitiu a emigração, a granel, de artistas de incontestável valor, verdadeiras celebridades.” (p.16-17);
“E os missionários viriam formar no Brasil o promontório artístico-espiritual em que, dali por diante, se apoiaria a arte nacional.” (p.18);
“E o Brasil toma conhecimento de homens cujas vidas já eram, como representativas e valiosas, as que vão abaixo sumariamente descritas.
Joachim Lebreton, e não Le Breton - o chefe da ilustre companhia - nasceu, a 7 de abril de 1760, em Saint Meens, na Bretanha. Era literato, tribuno e crítico de arte. Fora diretor da secção dos museus, bibliotecas e conservatórios do Ministério do Interior da França; membro do Tribunal: criado por Napoleão para moderar os demais poderes do Estado; e acadêmico do Institut de France, onde pertenceu a duas Classes, ou fossem, as Academias des Beaux-Arts e des Sciences Morales et Politiques. Somente esses títulos eram suficiente, como valiosas credenciais.” (p.19);
“Trouxera consigo, para formar a pinacoteca da futura escola de arte uma valiosíssima coleção de cinquenta e quatro quadros, franceses e italianos na maioria. Muitos se estragaram e não poucos desapareceram.
O Dr. Afonso de Escragnolle Taunay declara, em seu valioso e completo estudo sobre A Missão Artística de 1816, publicado em 1911 na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que Rodolfo Bernardelli lhe comunicara as relações completas dos quadros trazidos da França por Lebreton. Bernardelli as coligira, por sua vez, ao arquivo do Consulado Francês, no Rio de Janeiro.
Depois de muitos anos de pesquisas, conseguimos organizar uma lista de 15 obras trazidas por Lebreton.” (p.20);
“A primeira relação
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