Resenha Crítica do Filme “O Som ao Redor”

Resenha crítica do filme “O som ao redor”

O filme dirigido por Kleber Mendonça Filho, O Som ao Redor, começa acompanhado de uma sonoplastia que nos instiga sobre as intenções que ele carrega e é ilustrado por fotos em preto e branco que mostram trabalhadores rurais, pessoas humildes e em contraste, fotos da casa grande. Logo após essas imagens, há um corte para um cenário atual e colorido de crianças brincando em um condomínio. Esses contrastes vão ganhando potencial durante o filme, identificando essas diferenças sociais. No seu decorrer nos será contado a história de alguns personagens da classe média do Recife que moram numa mesma rua e suas relações. O filme se divide em três momentos: “O cão de guarda”, “O guarda noturno” e “O guarda costas”.

Em “O cão de Guarda", o som se apresenta como um incômodo, mesmo as cenas passando em primeiro plano. O som, que se apresenta como ruído, invade os espaços chamando muita atenção para esses transtornos que são presentes no dia-a-dia. A obra nos apresenta isso através de alguns elementos; a princípio conhecemos a personagem Bia, uma mulher de classe média, mãe de dois filhos. Bia sofre de insônia e não consegue dormir devido aos latidos do cachorro da vizinhança, a partir daí a personagem tenta diversas formas de parar o latido do cachorro. Em seguida, uma senhora trata mal um guardador de carros e ele reage arranhando, com um ruído agudo, o carro da mesma; e por último, um vendedor de CDs que toma conta da rua com seu carrinho de som divulgando suas vendas.

Conhecemos também a história do João, que é corretor de imóveis, e apresenta não estar muito feliz com seu trabalho. No longa, o rapaz começa um relacionamento com Sophia, uma jovem que conheceu numa festa. Ao passar a noite com João, Sophia tem seu carro arrombado e o aparelho de som roubado. Conhecemos então o Dinho, primo de João, que se aproveita de seu privilégio para fazer o que quer na rua, assim como os furtos de sons de carros da vizinhança. O jovem é protegido por seu avô Francisco, que é o homem mais poderoso da rua. Francisco é dono de um engenho e também vive na cidade, conhecido como “dono da rua", pois é o proprietário dessas casas. O filme mostra ainda a relação patrão-empregada, através de duas perspectivas diferentes, na primeira quando Mariá, que já praticamente aceitou sua situação, a falta de alternativas, está prestes a se aposentar, é tratada como se fosse da família por João, e em contraste podemos ver Luciene, doméstica na casa de Francisco, tem uma jornada de trabalho rígida e hierarquica.

Em seguida, chegam os seguranças oferecendo um serviço de proteção para os moradores da região. O filme mostra sempre um ruído inconveniente ao fundo quando se passado na rua, mas quando os personagens estão dentro de suas casas há um silêncio, caracterizando a segurança que existe nesses lares segregados propositalmente, assim também como em seus carros, como exemplo, a cena em que a personagem Bia estoura a bola de uma criança com seu carro e o som não pode ser escutado de dentro do veículo. Com a chegada dos seguranças começa a parte dois do filme, chamada “Guardas Noturnos”.

Neste capítulo, que se passa em uma noite na rua, conhecemos o Clodoaldo, líder dos seguranças. As diferenças sociais ficam nítidas nesta parte da obra, primeiramente quando os seguranças vão ao encontro de Francisco, dono dos imóveis, falar sobre a segurança e ele então pede para que não interfiram no comportamento de seu neto Dinho, o menino branco e rico que rouba na rua. Enquanto isso, nesta mesma noite, enquanto os vigias tomam conta da rua, um jovem da rua incomoda com um alto som dando cavalinho de pau com seu carro e nenhuma atitude