SEMINÁRIO DO CRATO: ARQUITETURA E RELIGIOSIDADE
Por: AlexandreVeras • 5/4/2018 • Artigo • 3.495 Palavras (14 Páginas) • 305 Visualizações
SEMINÁRIO DO CRATO: ARQUITETURA E RELIGIOSIDADE
Francisco Alexandre Veras de Freitas
Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN), Sobral, CE – Brasil.
E-mail: alexandreverasdefreitas@yahoo.com.br
Isabela Ribeiro de Castro
Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, CE – Brasil. E-mail: isabelarcastroo@hotmail.com
Romeu Duarte Júnior
Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, CE – Brasil. E-mail: romeudj@yahoo.com.br
A construção do Seminário do Crato, ocorrida entre os anos de 1874 e 1875, possui forte relação com a presença de Dom Luiz Antônio dos Santos (ver Figura 01) como primeiro bispo do estado do Ceará. Eram parte do escopo de suas ações a criação de seminários e a formação de padres obedientes à fé católica. Nesse contexto, portanto, o bispo fundou, em 1864, o Seminário Episcopal do Ceará, em Fortaleza, e, dez anos depois, iniciou a realização de um desejo antigo com a construção do Seminário do Crato (Seminário Diocesano São José), como forma de expressar sua retribuição ao povo cratense, pelo auxílio que este lhe havia prestado na construção do Seminário de Fortaleza.
Com seu funcionamento iniciado em março de 1875, antes da conclusão das obras civis, o Seminário São José teve suas primeiras atividades educacionais ministradas por padres lazaristas. Após os três primeiros anos de atividade, no entanto, fatores climáticos, econômicos e sociais – a grande seca que o Nordeste conheceu em 1877, uma das mais graves já vivenciadas no Ceará; as crises financeiras sofridas pela ordem religiosa mantenedora da instituição; e a ocorrência de surtos de varíola – contribuíram para que o Seminário fechasse suas portas, sendo reaberto somente no ano de 1922.
O escritor Irineu Pinheiro (ver Figura 02), em sua obra “O Cariri – povoamento, descobrimento, costumes”, destaca que, durante muitos anos, o Seminário foi importante local de instrução para jovens oriundos de cinco estados do Nordeste, a saber, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí. No educandário religioso, eram amplamente lecionadas, além de teologia e filosofia, as línguas portuguesa, francesa e latina, a música (ver Figuras 03, 04 e 05) e a arte da oratória, estimulada através da simulação de debates entre os estudantes. É interessante ressaltar, também, a existência de uma disciplina rigorosa no Seminário, contando com punições físicas e morais para os alunos que cometiam faltas.
Nota-se, ademais, que a instalação do Seminário do Crato se deu em período bem anterior ao da criação da Diocese do Crato, que só veio a ocorrer 39 anos depois, em 20 de outubro de 1914. A cidade do Crato foi, no âmbito do estado do Ceará, a primeira localidade escolhida para receber uma diocese e tal desígnio justificou-se, à época, pelo seu potencial social e econômico; por contar com um relevante edifício religioso, a Matriz do Crato, que, futuramente, poderia transformar-se e ser elevada à categoria de Catedral; pelas boas acomodações para o bispo e a instalação da cúria; e pela própria existência do Seminário do Crato.
O Seminário São José se projeta na serra do Araripe como uma grande testemunha silenciosa de importantes acontecimentos da cidade do Crato, na medida em que sua presença estimulou o desenvolvimento local; e influenciou profundamente o padrão moral da sociedade cratense e da zona sul do Cariri, além de simbolizar o esforço da Igreja Católica em seu papel educativo e evangelizador nas terras cearenses. Ademais, salienta-se que a edificação contribuiu expressivamente para a formação religiosa e intelectual de muitas gerações de jovens oriundos do Ceará e de estados circunvizinhos, mantendo-se fiel à sua vocação primitiva. Atualmente, a formação sacerdotal no Seminário São José é composta de três ciclos: o Ciclo Propedêutico, com duração de 01 ano, que ocorre na cidade do Crato, em prédio recentemente erguido no Bairro Grangeiro; o Ciclo Filosófico, com duração de 03 anos e o Ciclo Teológico, de 04 anos, ambos funcionando na própria sede do Seminário. A edificação permanece, portanto, como um centro regional de formação de novos sacerdotes católicos.
O prédio do Seminário São José situa-se em um terreno no Alto do Grangeiro (ver Figuras 06 e 07), doado, no século XIX, pelo Coronel Antônio Luiz Alves Pequeno e sua esposa ao bispo Dom Luiz Antônio dos Santos. O local de implantação do edifício, atualmente, é parte do bairro do Seminário, que, por sua vez, encontra-se na porção oeste da cidade do Crato, apresentando uma altitude elevada em relação ao bairro Centro. Da sua paisagem também faz parte a via canalizada do Rio Granjeiro, no talvegue da Avenida José Alves de Figueiredo, e o Rio Batateira a sudoeste. Por localizar-se em um ponto alto do bairro, o Seminário do Crato possui vista panorâmica para o Centro da cidade (ver Figuras 08, 09, 10 e 11) e destaca-se visualmente das demais edificações por estar inserido numa formação geológica elevada, o que contribui para caracterizá-lo como marco urbano de referência na cidade (ver Figuras 12, 13 e 14).
O entorno do prédio conta com a maciça presença de rústicas edificações residenciais de pequeno porte, aglomeradas sobre o aclive do bairro Seminário, e situadas, preponderantemente, ao longo de vias de traçado sinuoso. Dentre estas, destaca-se a antiga Rua da Misericórdia, atualmente conhecida como Rua Diógenes Frazão, que segue até o limite sul do Seminário São José para, então, converter-se na Rua Padre Lemos. Nesta mesma rua, e defronte ao acesso principal do Seminário, ressalta-se a presença de um largo e do antigo cruzeiro[1], de onde parte uma grande escadaria construída na encosta do aclive, ligando a via e o Seminário à Avenida José Alves de Figueiredo (ver Figura 15).
O terreno do Seminário situa-se em um aclive alto, com cota que se inicia em 454 metros e culmina em 466 metros (acima do nível do mar) - apresentando, portanto, 12 metros de desnível de terreno (ver Figura 16) – e ocupa uma área total de aproximadamente 2,87 hectares. Seu entorno é delimitado pelas ruas Álvaro Bomilcar (a oeste), Marcos Macedo (ao norte), Padre Lemos (a leste) e Diógenes Frazão (ao sul).
O conjunto de edificações que compõem o Seminário do Crato apresenta planta em formato de “W”, contendo dois grandes pátios internos entre três alas, as quais possuem plantas de formato retangular e se conectam em primeiro plano por uma ala intermediária que configura a elevação principal da edificação (ver Figura 17).
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