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A CAÇA AS “BRUXAS” CONDUZIDA PELA INQUISIÇÃO: COMO O MALLEUS MALEFICARUM FOI DE SUMA IMPORTÂNCIA PARA SUA REALIZAÇÃO E SUA RELAÇÃO COM A ATUALIDADE

Por:   •  20/11/2016  •  Resenha  •  2.318 Palavras (10 Páginas)  •  376 Visualizações

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A CAÇA AS “BRUXAS” CONDUZIDA PELA INQUISIÇÃO: COMO O MALLEUS MALEFICARUM FOI DE SUMA IMPORTÂNCIA PARA SUA REALIZAÇÃO E SUA RELAÇÃO COM A ATUALIDADE

DOERTZBACHER, Vania Nádia[1]

RESUMO

O seguinte artigo tem por objetivo auxiliar o leitor na compreensão acerca da realidade por trás da famosa “Caça as Bruxas”, realizada pela Inquisição no decorrer de três séculos, entre os anos de 1450 e 1750, que teve como o seu principal documento o livro Malleus Maleficarum (O Martelo das Feiticeiras) escrito em 1487 pelos inquisidores Heinrich Kramer e James Sprenger, que dividido em três partes, amparava o inquisidor na identificação do mal e em como a declaração e julgamento deste ‘ente’ deveria ocorrer. O documento Malleus Maleficarum é considerado por muitos historiadores como uma das páginas mais grotescas do Cristianismo, e ao ser analisado sob o prisma da realidade atual, onde mulheres buscam a igualdade entre gêneros, desnuda o longo caminho percorrido e o que se deve ainda seguir em direção ao tratamento igualitário.

PALAVRAS-CHAVE: Malleus, Inquisição, Bruxas.

INTRODUÇÃO

Com o advento da globalização, temas que antes demoravam ou até nunca chegavam ao conhecimento popular, agora estão a uma distância de um aparelho conectado ao uso de internet, o que pode ser uma coisa benéfica, se usado com sabedoria.

Ultimamente, muito se tem discutido sobre o feminismo, e em como a mulher está conquistando seu espaço no rivalizado mundo que outrora fora de dominação masculina. Mas o que poucos procuram saber, são as raízes por trás dessa desigualdade, indo direto ao conhecimento popular e raso, com os mesmos argumentos reiterados e discussão infinita que não nos leva a lugar algum.

Segundo Rose Marie Muraro[2], em sua introdução ao livro Malleus Maleficarum, antes de tudo é necessário entender o papel feminino na história humana em geral para se aprofundar nos quesitos levantados pelo livro.

Nas culturas primitivas de caça de pequenos animais e coleta, homens e mulheres governavam em harmonia entre si. Ainda existem vestígios de grupos assim em nosso tempo, como os maoris (Indonésia), pigmeus e bosquímanos (África Central), as mulheres são tratadas como seres sagrados e tem suas tarefas divididas com os homens, sem desigualdade.

Com o início da caça dos grandes animais e escassez de coleta de recursos vegetais e animais pequenos, veio a diferenciação entre os sexos, pois a força física passou a ser essencial para a sobrevivência. O homem passa a compreender a função biológica de reprodução e passa a controlar a sexualidade feminina.

A lei do mais forte passa a governar com o estabelecimento dos grupamentos humanos sedentários, o que torna as sociedades patriarcais, pois as mulheres passam a ser mera propriedade masculina, sendo extremamente controladas pelo homem da família.

E será abordado a seguir o momento e que a sexualidade feminina floresce, na Alta Idade Média, sendo continuamente e brutalmente reprimido novamente pelo poder patriarcal, até meados do século XVIII.

DESENVOLVIMENTO

1.1 A “CAÇA AS BRUXAS” PELA INQUISIÇÃO

Quem nunca ouviu a famosa frase “As bruxas estão soltas” em referência a situações ou épocas abatidas por consideráveis infortúnios? São raros os momentos em que para-se para pensar o verdadeiro significado por trás de tais frases, que ao serem reutilizadas, perdem seu valor através do tempo.

 A definição do termo bruxa trás como resultado a distorção da imagem feminina, que dotada de poderes sobrenaturais e de aparência e comportamento desagradáveis, é um ente que deve ser repudiado, repelido e combatido pelos homens.

 Termo tão vulgarmente dispersado nos dias atuais e romantizado no século XIX, na realidade foi usado para designar os hereges entre o final da Baixa Idade Média e início da Idade Moderna em 1450, e o final da Idade Moderna em 1750, na chamada Caça as Bruxas, que teve como principal documento o livro Malleus Maleficarum, ou Martelo das Feiticeiras, escrito em 1487 pelos inquisidores Heinrich Kramer e James Sprenger.

 Durante a Alta Idade Média, a condição feminina aflorou. A mulher passa a possuir acesso às artes, ciências e literatura. Desde a antiguidade, as mulheres eram conhecidas por possuírem um saber próprio em relação a medicina. Na Idade Média, o saber se aprofunda, tornando a mulher camponesa pobre o principal recurso em relação a saúde para com os pobres. As parteiras que iam de casa em casa, sendo as melhores anatomistas de seu tempo.

 Com a ascensão feminina, as mulheres se tornam uma ameaça, tanto em relação aos médicos, que vinham a tomar lugar através das universidades; como pelas organizações de grupos entre si, que tinham o objetivo de trocar os segredos da cura, mas que acabavam por formar fortes confrarias, que ameaçavam o poder vigente.

 A religião católica, e posteriormente, a protestante, contribuem de forma decisiva para a volta da centralização do poder, através dos tribunais da Inquisição, que visava realocar dentro de regras de comportamento dominante as massas camponesas, principalmente as mulheres.

 Sendo assim, os séculos de perseguição às bruxas não podem ser considerados uma histeria coletiva, já que foi uma perseguição calculada e planejada pelas classes dominantes, para maior centralização e poder.

 Em um estado teocrático, a transgressão da fé era também a política. Mas também reinava naquele período a transgressão sexual, crescente entre a população de classes inferiores. Assim, os inquisidores ligaram a transgressão sexual à transgressão da fé, e as mulheres passaram a ter um grande “X vermelho” pintado em si, por serem os principais alvos de punição.

Mas a razão natural está em que a mulher é a mais carnal que o homem, o que se evidencia pelas suas muitas abominações carnais. E convém observar que houve uma falha na formação da primeira mulher, por ter sido ela criada a partir de uma costela recurva, ou seja, uma costela do peito, cuja curvatura é, por assim dizer, contrária à retidão do homem. E como, em virtude dessa falha, a mulher é animal imperfeito, sempre decepciona a mente. (MALLEUS, Parte I, Questão VI).

A mulher passa a ser interpretada como o símbolo da transgressão da fé, o ser abominável que tenta o homem. O sexo é colocado como o grande pecado, portanto, é mau e proibido, sendo exclusivo para procriação, e o poder se torna imune a crítica.

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