A JUSTIÇA COMO QUALQUER COISA: O CONCEITO POLÍTICO DA JUSTIÇA
Artigo: A JUSTIÇA COMO QUALQUER COISA: O CONCEITO POLÍTICO DA JUSTIÇA. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: natojrsoares2585 • 26/9/2014 • Artigo • 5.222 Palavras (21 Páginas) • 346 Visualizações
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JUSTIÇA COMO EQÜIDADE: UMA CONCEPÇÃO POLÍTICA DA JUSTIÇA
Valéria Lima Bontempo*
Resumo: Este artigo mostra as idéias centrais do filósofo contemporâneo, John Rawls,
sobre sua teoria da justiça, ou seja, a justiça como equidade. Mostra ainda, as razões do
filósofo para deslocar a fundamentação de sua teoria da justiça da esfera moral para a da
política. Diante do fato do pluralismo razoável de doutrinas morais, religiosas e filosóficas,
que caracteriza as sociedades democráticas modernas, o filósofo avalia que uma
concepção de justiça que pretenda ser aceitável por todos os cidadãos não pode fundar-se
numa única doutrina abrangente. Assim, a justiça como equidade, enquanto uma teoria
moral mostrou ambigüidades e inconsistências, necessitando limitar-se à esfera da política.
Palavras-chaves: Justiça, equidade, política e John Rawls
Abstract: This article illustrates the central ideas of the contemporary philosopher, John
Rawls, on his theory of justice, or justice as fairness. It also shows the reasons for the
philosopher to move the rationale of his theory of justice to the moral sphere of politics.
Considering the fact of reasonable pluralism of moral doctrines, religious and
philosophical, that characterizes modern democratic societies, the philosopher who
evaluates a conception of justice that wants to be acceptable by all citizens can not on a
single comprehensive doctrine. Thus, justice as fairness as a theory has moral ambiguities
and inconsistencies, requiring limited to the sphere of politics.
Keywords: Justice, fairness, policy e John Rawls
I - A justiça como equidade e o seu contexto
Pode-se dizer que as perguntas propulsoras das idéias rawlsianas são: - Como podemos
fundar uma teoria da justiça aceitável por todos? Sobre qual base compartilhável é possível
estabelecer um acordo quanto às formas institucionais mais adequadas à liberdade e à
igualdade? O que é justo ou injusto nas sociedades democráticas modernas, as quais são
permeadas por doutrinas abrangentes razoáveis, porém incompatíveis entre si?
* Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Professora de Filosofia da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
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Diante da inexistência de qualquer entendimento acerca do que é justo e injusto nas
sociedades contemporâneas várias propostas tentaram orientar o estabelecimento da justa
medida na distribuição dos bens materiais e imateriais produzidos nas sociedades
democráticas modernas. Dentre os principais critérios sugeridos para uma justa
distribuição desses bens estão: a cada um de acordo com seus méritos, a cada um conforme
suas obras, a cada um segundo suas necessidades, a cada qual a mesma coisa, a cada qual
segundo sua posição e o próprio princípio da utilidade , conforme previsto pelo
utilitarismo, dentre outros. O filósofo contemporâneo, John Rawls recusa todos esses
critérios e aponta a eqüidade como a idéia fundamental para a garantia da justiça.
O pensamento ralwsiano foi gestado num contexto de profundas revisões em torno do
ideário liberal. As críticas oriundas tanto dos libertarianos como dos comunitaristas e
multiculturalistas tiveram um papel fundamental no desenvolvimento de suas idéias. Face à
versão do liberalismo centrada apenas na preservação das liberdades, Rawls é tomado por
Nozick - um dos expoentes do libertarianismo - como um de seus principais opositores. Ao
buscar elaborar uma teoria da justiça pautada no equilíbrio entre os valores de liberdade e
igualdade, Nozick entende que Rawls coloca em risco o próprio conceito de liberdade. Tal
aspecto, claro, é refutado por Rawls, pois as liberdades fundamentais do indivíduo são
consideradas invioláveis.
Já as objeções centrais dos comunitaristas – e entre eles cabe destacar Michael Sandel,
Michael Walzer e MacIntyre - referem-se ao caráter deontológico da teoria Rawlsiana.
Inversamente aos comunitaristas, Rawls defende a prioridade do justo sobre o bem. Em
função do fato do pluralismo de doutrinas razoáveis que marcam as sociedades
democráticas contemporâneas, Rawls sustenta que não é possível - como fazem os
comunitaristas - defender uma concepção de justiça válida e aceita por todos a partir de
uma única concepção do bem. Mas é inegável que as divergências com os comunitaristas
remeteram o filósofo a especificar vários aspectos de uma noção do bem presentes em uma
concepção política da justiça.
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Quanto aos multiculturalistas, pode-se afirmar que Rawls não diverge em relação à
complexidade e à pluralidade das sociedades democráticas modernas. Contudo, o autor
também não converge com eles no que diz respeito
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