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ARTIGO CIENTIFICO CAÇADAS DE PEDRINHO DE MONTEIRO LOBATO

Por:   •  5/11/2018  •  Artigo  •  5.131 Palavras (21 Páginas)  •  379 Visualizações

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INTRODUÇÃO

        Nesse artigo não se busca analisar a obra em sentido literário, mas sim sobre os elementos linguísticos utilizados pelo autor do livro “Caçadas de Pedrinho” para se referir a alguns personagens contidos na obra. Buscando alcançar entendimento histórico cultural da época e a viabilidade da utilização do livro nos dias atuais. Analisando sobre a perspectiva dos direitos humanos e da dignidade da pessoa humana, inclusive ao que se refere aos direitos da criança e do adolescente já que a problemática se dá sobre a utilização da obra nas séries iniciais.  Como também os impactos do racismo na sociedade Brasileira.

Ao longo da história da humanidade, foram frequentes os encontros entre grupos sociais cujas diferenças eram percebidas principalmente pelos traços físicos. Essas características passaram a servir, então, como critério para classificar os diferentes grupos humanos. Nesse contexto, as diferenças físicas foram utilizadas como rótulo qualificativo e indicativo de suposição de superioridade e de inferioridade, diferenciando colonizadores e colonizados sob a premissa do etnocentrismo. Como teoria, tenta justificar uma superioridade étnica a partir de supostos atributos herdados biologicamente. É uma visão de mundo carregada de ideologia e que para muitos hoje é pensada como falsa consciência da realidade, pois esconde um fato não confessado desde aquela época: a relação de poder e dominação de determinados grupos sobre os outros.

Porem a história humana assim como o direito está em constante evolução e aos poucos essa triste história segregatista vem se alterando fruto de reinvindicações e de movimentos sociais que trabalham para combater o racismo.

É partindo desse pressuposto que surge a polêmica em torno da obra publicada pelo escritor Monteiro Lobato, intitulada “Caçadas de Pedrinho”, que relata uma aventura da então turma do Sítio do Pica Pau Amarelo. A primeira edição do livro data do ano de 1933, início do século XX, época em que o Brasil começava a respirar as questões ligadas à busca pela identidade cultural nacional. Que foi acusada de propagar o racismo e a violência contra os animais.

NEGRA DE ESTIMAÇÃO

O livro Caçadas de Pedrinho não é o único do autor que efetua tantos termos pejorativos ao personagem de Nastácia. Já no livro Reinações de Narizinho abre a primeira página apresentando todos os personagens. À Nastácia cabe o epíteto de “negra de estimação”. Nesse livro, Lobato refere-se à personagem 56 vezes usando o termo “a negra”, ao invés de seu nome. Pelo menos 13 vezes tal chamamento é acompanhado de alusões pejorativas aos seus “beiços” ou, às vezes, “beiçaria”, ao tamanho avantajado de sua boca, “a maior boca do mundo”, “de caber dentro uma laranja” ou, ainda, a sua ignorância: “tudo que ela não entendia era [para ela] inglês”. (FERRES JUNIOR, NASCIMENTO & EISENBERG, 2015, p. 105).

        Dentre os que defendem a obra literária o argumento mais utilizado é de que o “momento histórico” autorizava certas liberdades de que o escritor lançava mão em sua literatura infantil do período pós-escravocrata de cunho nostálgico. Porém, é necessário observar que o contexto histórico não é uma imunidade ou conformidade, como se todo contemporâneo de Stalin devesse cultivar o stalinismo.

        Entende – se que a obra possui cunho pedagógico e trouxe ao mundo da imaginação crianças de varias épocas, mas assim como na parte onde se erra comum a caça de animais e ao ser adaptado a Tv o personagem Pedrinho ao invés de caçar a onça, ajuda ela a fugir do temível caçador, se deve atentar as expressões que desmerecem a raça negra.

Numa das edições do livro, há uma nota que contextualiza a morte da onça, para evitar o incitamento à morte de um animal em extinção. “Essa grande aventura da turma do Sítio do Picapau Amarelo acontece em um tempo em que os animais silvestres ainda não estavam protegidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), nem a onça era uma espécie ameaçada de extinção, como nos dias de hoje”, diz a nota. “Pode fazer ressalva à onça, mas não ao negro? É o fim da picada.” (FERRES JUNIOR, NASCIMENTO & EISENBERG, 2015, p. 109).

        Nas histórias de Monteiro Lobato o racismo é visto claramente, desde os livros da Coleção do Sitio do Pica – Pau Amarelo, este voltado ao personagem Tia Anastácia, mas também em outros livros como O Presidente Negro, onde a discussão já demonstra um cunho de racismo mais pesado, se baseando em ideias de eugenia de raças, aludindo à ideia de que a raça negra e suas misturas deveriam ser extintas do planeta. Porém se identificavam isso apenas na visão literária onde o autor poderia ter se usado de expressões racistas justamente para causar esse mal estar nas pessoas, e que estes pudessem enxergar o negro e ter empatia, esses erram alguns dos discursos de quem defendia a obra. Isso tudo já era sabido e discutido, até que em 2011 se tornou pública uma carta do escritor enviada a Arthur Neiva, em 10 de abril de 1928, publicada na revista Bravo! Do mês de maio de 2011. Ali vemos que o criador do Visconde de Sabugosa e de Barnabé defendia a Ku Klux Klan e seus ideais, que envolviam a morte do outro, repugnando-lhe a formação do povo de seu próprio país:

"País de mestiços, onde branco não tem força para organizar uma Kux-Klan (sic), é país perdido para altos destinos [...] Um dia se fará justiça ao Ku-Klux-Klan; tivéssemos aí uma defesa desta ordem, que mantém o negro em seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca — mulatinho fazendo jogo do galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro destrói a capacidade construtiva". (CARTA CAPITAL, 2013, p. 38).

        Monteiro Lobato ao escrever história de uma sitio misturados com as lendas culturais brasileiras a disseminou com seus pensamentos eugenistas, mascarados de um período pós – escravocrata que se é utilizado como desculpa histórica para aceitação das afrontas a uma raça que é mais de 56% do Brasil. (DIAS, 2013).

        Não sabemos com certeza se Lobato tinha objetivos e propósitos terceiros e estranhos, mas a historiadora Pietra Diwan, em sua obra sobre a eugenia no Brasil, consegue detectar que o escritor poderia querer usar a literatura como meio para dizer indiretamente o que não se pode dizer às claras. Ela cita uma das cartas de Lobato, de setembro de 1930, em que o criador de Caçadas de Pedrinho afirma: “É um processo indireto de fazer eugenia, e os processos indiretos, no Brasil, work muito mais eficientemente” (DIWAN, 2007, p. 111).

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