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Apostila Hermenêutica

Por:   •  21/8/2016  •  Trabalho acadêmico  •  1.100 Palavras (5 Páginas)  •  197 Visualizações

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                                             A VOZ ROUCA DAS RUAS  

                                                                                                               Osvaldo Ventura (*)

         O movimento “Diretas Já”, embora não tivesse alcançado de imediato seu objetivo maior, escreveu uma das mais gloriosas páginas da vida política de nosso país. Tendo como origem o clamor desesperado de um parlamentar progressista, em forma de Emenda Constitucional com pouca chance de ser aprovada, como de resto não foi, serviu, porém, para despertar a nação inteira do torpor cívico em que o arbítrio a mergulhara.

    A proposta de eleições diretas para Presidente da República teve o condão de fazer o brasileiro acordar do sono letárgico, esquecer o pesadelo, erguer a cabeça e fortalecer nas ruas aquele sopro vivificante de esperança vindo do Congresso Nacional. O começo foi tímido, mas em pouco tempo tornou-se um movimento amplo, geral e irrestrito, explodindo nas praças o desejo reprimido e o grito sufocado de cada cidadão.

    Enquanto a maioria esmagadora dos brasileiros clamava pelas diretas, os poderosos de plantão reuniam o que lhes restava de força para enfrentar um país em ebulição. Havia um brado geral de homens e mulheres, afrodescendentes, brancos e amarelos, agnósticos, metafísicos e materialistas, enfim, era a “voz rouca das ruas” que se manifestava por meio de suas organizações populares e suas entidades de classe, exigindo o sagrado e inalienável direito de escolher seu governante mor pelo voto direto, democrático e insubstituível.

    Contudo, em seus estertores, a ditadura se rearticula, dá um último suspiro e, infelizmente, derruba a proclamada Emenda Dante de Oliveira. Era o último fruto do ventre amaldiçoado do período ditatorial. A partir daquele momento histórico, renascia o supremo direito de o cidadão brasileiro escolher diretamente seu Presidente da República, ficando, ainda, a indelével lição de civismo e participação política de um povo nos destinos de sua pátria.

    A manifestação da vontade popular também pôde ser sentida em outro fato de grande relevância na história recente do Brasil: o impeachment do presidente Collor.

    Depois de confiscar os ativos financeiros de pessoas físicas e jurídicas, levando o país a uma situação de perplexidade e descontrole econômico, o governo Collor de Mello perdeu, em pouco tempo, todo o apoio que obteve nas urnas. A situação econômica do país era de total desgoverno. Planos econômicos se sucedem prejudicando a todos. O país sofre com uma hiperinflação e parece à deriva. A insatisfação se alastra por todas as camadas da população. Os movimentos organizados catalisam o descontentamento geral e começam a contestar nas ruas a incompetência do governo. O presidente reage e tenta neutralizar uma grande mobilização em curso. Desafia os opositores. A juventude se faz presente com suas caras pintadas de verde-amarelo. “A voz rouca das ruas”, por intermédio das organizações populares e entidades democráticas, clama pela saída de Collor. As instituições escutam. O Congresso busca uma solução. Não há clima para o golpe clássico. O próprio eleitor não pode destituir, pelo voto, o eleito que se torna indesejável. Só existe uma saída legal, ainda que inusitada para nossos padrões: o impeachment. Dá-se, então, o impedimento e uma transição absolutamente tranqüila. “A voz rouca das ruas” foi vitoriosa mais uma vez!

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