Avaliação do 1º Bimestre - Linguagem Jurídica
Por: RAFAEL BELMONTE • 28/11/2021 • Exam • 1.386 Palavras (6 Páginas) • 99 Visualizações
1. Explique a seguinte afirmação de Tatiana Slama-Cazacu, que introduz o primeiro parágrafo: “A língua é um bem pessoal, na medida em que é um bem coletivo”. (1,0)
Um bem é tudo aquilo que, por ser útil, pode ser apropriado por um indivíduo ou grupo. Com a língua não é diferente: ela pode ser apropriada, no entanto, só será na medida em que ser útil. Considerando que a utilidade da língua reside na possibilidade de comunicarmos, e isso envolve mais de um indivíduo, em outras palavras, um coletivo, ela só será um bem individual, portanto, se o coletivo em que o indivíduo se insere, tiver se apropriado deste bem igualmente.
2. Por que Roman Jakobson afirma que “o indivíduo não sabe apenas falar, mas sabe também como os outros falam”? (p.20) (1,5)
Porque para falarmos precisamos de um conteúdo prévio, que não se restringe apenas a saber o significado das palavras. É necessário conhecer a gramática da língua- não necessariamente sua norma padrão. Ao conhecimento da gramática intuitiva da língua, aquela aprendida enquanto criança, Chomsky dá o nome de “competência”. Para o indivíduo “materializar” uma língua com o ato de falar, ele tem que ter a mesma “competência” que outro falante da mesma língua. Assim, sabe como falar, e como os outros falam, já que as regras essenciais que os guiam são as mesmas.
3. Diferencie enunciado de enunciação. (Cap.5) (1,0)
As duas palavras estão associadas ao verbo “enunciar” que tem como sinônimo “falar”. Este, por sua vez, remete ao substantivo “fala”, adotado por Saussure para denominar o uso concreto e individual de um bem coletivo e abstrato, a língua.
Dito isto, enunciação é o processo de concretização da língua (processo de fala), observado enquanto o enunciador produz seu discurso. Portanto, encerrado o discurso, esse ato também se encerra. O produto desse ato é o que fica registrado, o enunciado. Ele carrega informações embutidas em sua estrutura que restabelecem o momento que foi concebido, ou seja, restabelecem a enunciação. Pelo verbo, identificamos o sujeito do discurso, e o tempo (se é concomitante a enunciação, anterior ou posterior), e pelos advérbios, que podem ou não compor o enunciado, descobrimos o espaço do discurso.
4. Compare o que Ernani Terra diz sobre norma culta (Cap. 9) com o texto de Marcos Bagno (Norma linguística e preconceito social: questões de terminologia), apontando semelhanças e diferenças. (2,0)
Ernani Terra e Marcos Bagno reconhecem que a variedade urbana usada entre a população com mais acesso à Educação possui mais prestígio social, enquanto que a variedade comum das periferias possui menos. Também estão de acordo com a ideia de que a norma-padrão é só um modelo de uso, estando na verdade muito distante dos falantes. A variedade mais prestigiada é, portanto, a mais próxima da norma-padrão, graças ao letramento de seus falantes.
Porém, sobre norma culta, as suas interpretações se destoam: para Terra, a palavra “culta” empregada para adjetivar norma ou variedade refere-se à cultura letrada, que se opõe a variedade popular. Dessa maneira, ele não só admite a adoção dos termos variedade e norma culta para designar o uso mais próximo do correto, como também propõe uma gramática descritiva acerca da norma culta. O autor acredita, pois, que dentro da variedade culta existem formas distintas – todas corretas - de usar a língua, cabendo a esta gramática descrevê-las. Já Marcos Bagno critica a terminologia “norma culta”, por enxergá-la preconceituosa enquanto oposta à variedade popular. Adotar essa terminologia significaria, para ele, afirmar que o que é popular deixa de ser culto, e vice-versa, o que é falso, já que não existe povo sem cultura. Por fim, Bagno descarta o termo “variedade culta”, substituindo-o por “variedades mais prestigiadas” em oposição às variedades estigmatizadas, chamadas por Terra de “populares”.
5. Explique resumidamente (em no máximo 15 linhas) as 3 grandes teorias linguísticas. (1,5)
Estruturalismo, de Ferdinand de Saussure – Nessa teoria, a língua é vista como uma estrutura. Isto é, como uma entidade própria, imutável, e desvinculada de seus falantes. A preocupação dos seus adeptos está pautada simplesmente nas regras previamente positivadas. No entanto, a menos que haja “licença poética”, esse olhar rígido deprecia o uso desalinhado com a norma padrão.
Gerativismo, de Noam Chomsky – Chomsky encara a língua como uma atividade mental, presente a partir de certa idade em todos nós. Segundo ele, a capacidade de nos comunicarmos verbalmente é inata, vindo a se manifestar durante a infância, em que de acordo com ele adquirimos a mesma maturidade linguística que os adultos possuem. Aqui, o foco de estudo são os falantes.
Sociolinguística, de W. Labov – A língua é, nessa teoria, um produto da atividade social. Assim, seu uso varia em função de vários fatores (meio socioeconômico, geografia, situação, etc.). Labov enxerga a língua como um feixe de possibilidades, admitindo um estudo, da mesma, muito mais tolerante.
6. Explique a seguinte afirmação feita por L.A. Marcuschi: “os sentidos dos gestos não estão nos gestos, mas nas práticas sociais”. (1,0)
Os gestos são expressões linguísticas não verbais, o que significa que servem para a comunicação entre, no mínimo, dois indivíduos. São signos, e por isso possuem um significado (mensagem), e um significante (ação gestual). De forma semelhante à explicação de Ernani Terra sobre o gato (pg. 41), podemos afirmar que o gesto (significante) não carrega em si nenhuma motivação para refletir certa mensagem (significado). O que determina o significado é exclusivamente a convenção social (as práticas sociais). Isso explica porque um mesmo gesto (significante), em diferentes países, possui diferentes significados.
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