CATEGORIAS DE INTERPRETAÇÃO DO FENÔMENO RELIGIOSO
Por: Mary Taty • 24/3/2019 • Relatório de pesquisa • 3.817 Palavras (16 Páginas) • 262 Visualizações
CATEGORIAS DE INTERPRETAÇÃO DO FENÔMENO RELIGIOSO
Vanderlei Albino Lain1
Resumo
Mesmo com o processo de secularização na modernidade, vemos a presença do fenômeno religioso na atualidade, de forma diversa e plural, nas mais variadas formas e configurações em nosso cotidiano. Indicaremos algumas categorias de interpretação do fenômeno religioso, fundamentados nos estudos de Mircea Eliade e Rudolf Otto, entre os quais estão o sagrado, os mitos e os ritos. Enfatizaremos a importância de uma postura dialogável e pacífica diante deste contexto de diversidade religiosa em nosso cotidiano.
Palavras-Chave: Fenômeno religioso, sagrado, pluralismo religioso, diálogo religioso.
Résumé
Même avec le processus de sécularisation dans la modernité, nous voyons la présence du phénomène religieux de nos jours, sous une forme diverse et plurielle, dans les formes et configurations les plus variées de notre vie quotidienne. Nous allons indiquer certaines catégories d'interprétation du phénomène religieux, basées sur les études de Mircea Elia et Rudolf Otto, parmi lesquels sont le sacré, les mythes et les rites. Nous soulignons l'importance d'une posture de dialogue et de paix face à ce contexte de diversité religieuse dans notre vie de tous les jours.
Mots-clés: phénomène religieux, sacré, pluralisme religieux, dialogue religieux.
Introdução
Atento aos acontecimentos culturais do passado e do presente, observar-se-á a presença do fenômeno religioso, de maneira manifesta, em todos os tempos e locais onde se apresenta o humano. Excedendo-se além de seu campo específico, o fenômeno religioso é também proeminente em outros campos do saber, observável direta ou indiretamente entre acontecimentos históricos, sociais, políticos, filosóficos, artísticos, antropológicos e tecnológicos.
1 Vanderlei Albino Lain é Graduado em Filosofia e em Teologia, Especialista em Metodologia do Ensino Religioso e em Educação a Distância, e Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Católica de Pernambuco, local onde leciona (Centro de Teologia e Ciências Humanas). Autor do livro ‘Nova consciência: a autonomia religiosa pós-moderna’, e organizador da coleção ‘Mosaico religioso: faces do sagrado’, volumes 1 e 2. E-mail: vtlain@bol.com.br.
Mesmo com as objeções que apontam para sua negação na modernidade, nos é visível à constância do fenômeno religioso no seio das práticas humanas. A constatação da presença universal do fenômeno religioso é ratificada pelo antropólogo Bronislaw Malinowski, ao afirmar que “não há povo, por mais primitivo que seja, em que não se veja a religião” (MALINOWSKI apud JORGE, 1994, p. 11).
De forma alusiva, a indicação de Henri Bergson é de que “se encontram no passado, e se encontram até hoje sociedades humanas que não possuem ciência, nem artes, nem filosofia. Mas nunca existiu sociedade sem religião” (BERGSON apud JORGE, 1994, p. 11). Podemos aludir que, entre quaisquer grupos humanos, sempre se irá observar à presença da religião.
Segundo Battista Mondin, “o homem desenvolveu uma atividade religiosa desde a sua primeira aparição no cenário da história e que todas as tribos e todas as populações, de qualquer nível cultural, cultivavam alguma forma de religião” (MONDIN apud JORGE, 1994, p. 11). O fenômeno religioso é, portanto, dentro dos ambientes humanos, algo universal, pois o encontramos em todos os tempos e lugares, entre os mais variados grupos humanos conhecidos na história da humanidade.
2 O fenômeno religioso e o sagrado
Hoje, o fenômeno religioso está aí: se faz presente na atualidade, nas suas mais variadas formas, com uma irrefragável compleição de expressões, caracterizados de forma plural, diversa, no cotidiano contemporâneo.
Existem diferentes arguições entre os autores acerca da definição do que é religião. No entanto, não nos deteremos a esta questão, embora saibamos da importância de se considerar a presença de diferentes proposições.
Sabemos que a palavra religião, em seu sentido etimológico, pode adotar três significados (cf. WILGES, 2003, p. 15):
- Vem do termo re-legere (Cícero): que significa re-ler, ler de novo, considerando aquilo que pertence ao culto divino.
- Vem do termo re-ligare (Lactâncio): que significa re-ligar, ou seja, ligar o ser humano novamente a Deus, como busca humana do divino.
- Vem do termo re-eligere (Agostinho): que significa re-eleger, voltar a escolher Deus, retomar a sua aliança, retomar o seu caminho.
Irineu Wilges (cf. 2000, p. 15-16) afirma que os elementos constitutivos que caracterizam uma religião são: doutrina (crenças e dogmas), ritos (cerimônias), ética (leis), comunidade (pessoas que se reúnem em torno da fé), e a relação Eu-Tu (que expressa a relação pessoal com Deus).
Já, de acordo com as formas religiosas, elas se diferenciam entre: Teísmo (Mono, Poli e Henoteísmo), Ateísmo, Deísmo, Panteísmo, Animismo, Magismo, Manismo, Totemismo e Mitologia (cf. WILGES, 2000, p. 16-18).
Podemos distinguir a religião em dois aspectos que envolvem o humano, enquanto fenômeno religioso:
- O aspecto subjetivo da religião, ou seja, o sentimento de dependência do ‘ser humano’ ante o sagrado, ao mistério;
- E o aspecto objetivo da religião, enquanto conjunto de dogmas e mitos, cultos e ritos, oferendas e preces, por meio do qual o ‘ser humano’ entra em contato com o sagrado, exprimindo uma atitude de dependência. Aqui a religião se identifica com o culto prestado ao sagrado.
O autor Battista Mondin nos dá uma pista acerca desta definição de religião. Ele define como sendo “um conjunto de conhecimentos, de ações e de estruturas com que o homem exprime reconhecimento, dependência, veneração em relação ao sagrado” (MONDIM apud JORGE, 1994, p. 24). O sagrado aqui se apresenta como acontecimento que perpassa entre e além as condições do humano, atuação própria do âmbito religioso. “O sagrado é, antes de mais, uma categoria de interpretação e de avaliação que, como tal, só existe no domínio do religioso”. (OTTO, 1992, p. 13).
O sagrado é compreendido a partir da esfera do religioso, como aponta J. Simões Jorge (1994, p. 25), ao afirmar que “o sagrado é um conceito primário, fundamental, como os conceitos de ser, de verdade,
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