ESTATÍSTICA CRIMINAL: FONTE DE INFORMAÇÃO DA INTELIGÊNCIA POLICIAL NA BUSCA DA REDUÇÃO DA CRIMINALIDADE
Por: Luciana Almeida • 15/11/2015 • Artigo • 2.142 Palavras (9 Páginas) • 1.559 Visualizações
ESTATÍSTICA CRIMINAL: FONTE DE INFORMAÇÃO DA INTELIGÊNCIA POLICIAL NA BUSCA DA REDUÇÃO DA CRIMINALIDADE |
Ozael Félix de Siquueira |
Luciana Neves de Almeida |
Prof. Ms. André Gomes de Sousa Alves |
RESUMO: É incontestável o fato de que a Segurança Pública apresenta enormes problemas, de tal forma que a expressão “caos” é frequentemente utilizada. Sendo assim, o planejamento das atividades policiais se coloca como uma importante questão no debate sobre a redução da criminalidade. A produção desse conhecimento destina-se a solução de problemas específicos, de ordem prática, buscando a produção do conhecimento no sentido de estruturar a atuação dos órgãos de segurança pública no combate à criminalidade de forma mais eficaz. Dessa forma, as estatísticas criminais situam-se como considerável instrumento neste processo. Diante dessas circunstâncias, este trabalho científico busca promover uma reflexão sobre o uso das estatísticas criminais pelos profissionais de segurança pública como uma fonte de informação para o planejamento de suas ações, observando assim a necessidade de se criar uma estrutura policial marcada pela prevenção à criminalidade e setores de inteligência na efetiva investigação do crime. |
PALAVRAS-CHAVE: Criminalidade. Estatística Criminal. Informação. Inteligência. Segurança Pública. |
INTRODUÇÃO |
A utilização da informação no planejamento da atividade policial é instrumento de grande importância, pois está relacionada à prevenção do crime e a formação da inteligência policial. Além disso, a complexidade que envolve a tarefa de conduzir a investigação criminológica para dar maior credibilidade cientifica, as técnicas utilizadas na de coleta de informações, com a responsabilidade e cautela de tirar conclusões importantes para o mundo da ciência e o efetivo trabalho policial sempre levam em consideração as estruturas sociais e culturais. É necessário reconhecer que a análise criminal pode englobar informações de diversas naturezas, como as sigilosas provenientes do “Disque Denúncia”, de informantes e dos boletins de ocorrência confeccionados nas Delegacias de Polícia. Contudo, acredita-se que as estatísticas criminais situam-se como um dos instrumentos de grande importância nesse processo de redução da criminalidade, razão pela qual constituem objeto de discussão do presente texto. |
METODOLOGIA |
Esse estudo quanto aos procedimentos técnicos, classifica-se através de levantamento de pesquisa bibliográfica e suscita a reflexão sobre o tema. A produção desse conhecimento destina-se a solução de problemas específicos, de ordem prática, buscando a produção do conhecimento no sentido de estruturar a atuação dos órgãos de segurança pública no combate à criminalidade de forma mais eficaz. |
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA |
Como bem assevera o emérito professor e Delegado de Polícia Civil CELSO FERRO (2006): "A sobrevivência das organizações contemporâneas depende cada vez mais da capacidade de se construir um modelo de gestão do conhecimento, com estratégia, estrutura, decisão e identidade, apto a responder a um contexto cada vez mais complexo e instável da sociedade." A análise de estatísticas criminais em prol da segurança pública é um processo sistemático de produção de conhecimento, realizado a partir do estabelecimento de correlações entre fatos delituosos ocorridos (constantes de boletins de ocorrências policiais) e padrões e tendências da criminalidade num determinado tempo e lugar. E através dessa análise a Segurança Pública pode coordenar com eficácia seus recursos, com o propósito de controlar e neutralizar, manifestações da criminalidade e da violência. O tratamento científico da estatística criminal ocorreu nas primeiras décadas do século XIX com o estudioso Adolphe Quetelet (1976-1974), matemático belga e professor de astronomia em Bruxelas. O seu posicionamento destacou a relação do fato criminoso com outros acontecimentos sociais como o casamento, o divorcio, o suicídio, o nascimento e a morte. Se por um lado, os dados da estatística criminal são importantes para o aspecto preventivo essencialmente, por que revela os pontos de maior incidência criminal e o tipo de crime em determinada área, que serve de dados para o planejamento ostensivo e para atuação policial; de outro lado, com todas as informações que são coletadas e posteriormente transformadas em gráficos e tabelas, serve para investigação policial de determinado crime até então sem autoria. Como é caso, por exemplo, de uma sequencia de estupros, em que os dados coletados como data, horário, modus operandi, características do autor e da vítima são importantíssimos para o início dos trabalhos de investigação e ao mesmo tempo no planejamento de trabalhos preventivos. A "inteligência policial" é a compreensão geral das condições passadas, presentes e projetadas para o futuro de uma sociedade, (incluindo, na visão policial) problemas potenciais e atividades ilícitas". Brito (2010, p. 149), em sua tese de doutoramento na Universidade de Brasília, sintetiza a função da inteligência policial, defendendo que deva atuar na “prevenção, obstrução, identificação e neutralização das ações criminosas, com vistas à investigação policial e ao fornecimento de subsídios ao Poder Judiciário e ao Ministério Público nos processos judiciais.” Tal autor atribui, somente, caráter instrumental a atividade de inteligência policial numa perspectiva jurídico-processual de organização estatal. reconhecendo o caráter consultivo da inteligência policial para, “elaboração e adoção de medidas ou políticas de prevenção e combate à criminalidade.” (BRITO, 2010, p. 152). A atividade de inteligência das polícias é muito antiga e Ferro (2006) cita com bastante sabedoria dois fatos que ilustram perfeitamente a necessidade de informação para tomada de decisão, a saber: no primeiro, cronologicamente, a Bíblia Sagrada, em seu antigo Testamento, narra que Moisés, no episódio em que os espiões foram enviados à terra de Canaã (Bíblia Sagrada, Livro dos Números – Cap. 13, Versículos 17-20), orienta quanto o levantamento das informações pertinentes para a conquista da Terra Prometida. E segundo Tzu (1983), autor do clássico A Arte da Guerra, 500 anos antes de Cristo, afirmava a necessidade da Atividade de Inteligência: Os espiões são os elementos mais importantes de uma guerra [...] Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas (Tzu 1983, p.111). Como se observa, a informação passa a ser um elemento central na construção de políticas de segurança pública, razão pela qual as instituições policiais devem incorporar em profundidade uma efetiva mudança nos padrões de policiamento com a utilização da informação. José Braz esclarece que investigação criminal realizada pelos setores de inteligência “constitui uma área do conhecimento especializado que tem por objeto de análise o crime e o criminoso e, por objetivo, a descoberta e reconstituição da verdade material de fatos penalmente relevantes e a demonstração da sua autoria.” (BRAZ, 2010, p. 19). Podemos notar na definição acima existe elementos semelhantes vistos na inteligência, com acentuado cunho operacional e metodológico que visam transformar parte de uma realidade em conhecimento útil para uma finalidade social, como sói acontecer em muitas ciências sociais. A prática policial baseada na inteligência obtida a partir da análise das estatísticas criminais é parte do cotidiano de diversas polícias no mundo. Um estudo realizado sobre a cidade de Memphis, nos Estados Unidos, aponta sua importância na redução da criminalidade. O levantamento de dados para elaboração da estatística criminal deve partir de um planejamento organizado e metodológico, pois, as estatísticas criminais é parte importante das atividades da polícia. O registro do crime permite uma análise de sua incidência a partir daqueles eventos relatados. Apesar disso, a diferença entre a taxa real e os crimes conhecidos pode ser denominada "cifra negra do crime", ou no original em inglês "dark figure of crime". Gomes Dias ensina que a “investigação criminal descobre, recolhe, conserva, examina e interpreta as provas reais. Localiza, contacta e apresenta as provas pessoais” (GOMES DIAS, 1992, p. 65). Noutra passagem Gomes Dias acresce que a “investigação criminal utiliza métodos adequados (táctica de investigação) e processos apropriados de atuação técnica (técnica de investigação) cada vez mais especializados” (GOMES DIAS, 1992, p. 64), para o controle da criminalidade. Portanto, reserva-se a inteligência fornecer instrumentos para ampliar o conhecimento e repressão à criminalidade assim como para fornecer subsídios à gestão administrativa/policial, possibilitando a melhor distribuição de meios humanos e materiais nos trabalhos de investigação criminal com objetivo de redução da criminalidade. |
CONSIDERAÇÕES FINAIS |
Em síntese, a estatística criminal, tem representado um papel imprescindível na investigação criminológica, apesar de estar claro que sua elaboração não obedece regras básicas que regulamentam trabalhos científicos. Além disso, percebe-se claramente que todo trabalho realizado sobre dados numéricos coletados na estatística criminal tem que necessariamente ser observado com cautela em razão da elaboração de uma política de prevenção e de investigação para controle e diminuição do crime. A contribuição observada a partir destas abordagens é a de que para um policiamento preventivo, que busque a diminuição dos crimes, baseado em sistemas de informações que realmente auxiliem a trazer resultados mais positivos para o planejamento da atividade policial, é necessário que os profissionais de segurança pública, sobretudo os próprios policiais, estejam dispostos a serem mais flexíveis na sua visão sobre análise criminal. Do mesmo modo, os policiais devem estar capacitados para enfocar a criminalidade com uma perspectiva de prevenção. A questão é que não adianta simplesmente afirmar que as estatísticas podem ser usadas, mas é preciso que se esteja informado de qual uso irá se fazer para o planejamento da atividade policial. Também é preciso estar ciente de que está se falando de um processo em que todas as etapas devem estar articuladas e incorporadas pelos profissionais de segurança pública envolvidos. A atividade criminosa passou a ser informada e organizada de modo a requerer a contrapartida equivalente da polícia, sob pena de esta restar inoperante. A Inteligência é, portanto, com o uso da estatística criminal, e de todo sistema de informação, a ferramenta indicada para atuar preventivamente, coletando os dados no seio da própria organização criminosa e no banco de dados de todos os órgãos de Segurança pública. É preciso salientar que não se pretende com a análise da estatística criminal medir qual é a quantidade de crimes que ocorrem, o que, aliás, é impossível, pode-se apenas estimar a subnotificação dos crimes que varia em função do seu tipo. O que a análise da estatística criminal deve contribuir é no fornecimento de subsídios para ações do Estado, seja na dimensão tático/operacional, para que os policiais possam realizar melhor as investigações e o patrulhamento, seja na dimensão estratégica, de modo que os gestores e formuladores das políticas possam realizar projeção de cenários. Por último, a análise das estatísticas criminais não é um fim em si mesmo, mas apenas a uma das muitas etapas para o desenvolvimento de políticas públicas e para a profissionalização das polícias, restando ainda muito trabalho a ser feito. |
AGRADECIMENTOS (Opcional) |
Texto (Opcional) |
REFERÊNCIAS |
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