O Descobrimento a emancipação de Conceição de Macabu
Por: Rildo Júnior • 20/6/2018 • Trabalho acadêmico • 3.974 Palavras (16 Páginas) • 199 Visualizações
2.1. Do descobrimento a emancipação de Conceição de Macabú
Macabú é um município originalmente habitado por tribos indígenas nômades, o município foi parte da Capitania de São Tomé até ser doado em sesmaria para os Sete Capitães. Com o fracasso da sesmaria a região foi dividida, cabendo as terras do município aos padres jesuítas, que a partir da Freguesia de Nossa Senhora das Neves e Santa Rita, exploraram o interior catequizando e aldeando os índios habitantes do vale do rio Macabu, no vizinho vale do rio Macaé. Em meados do século XXVIII, os jesuítas são expulsos, nos anos seguintes os desprotegidos indígenas retornam ao vale do Macabu formando os primeiros povoados, que logo foram atingidos pelo progresso oriundo do cultivo do café na região serrana fluminense. Com o início das grandes plantações, a cidade acarretou grande chegada de imensas quantidade de escravos africanos. A região de Macabu composta por serras cobertas de florestas foi rica local de refúgio de escravos fugitivos que formaram o Quilombo de Cruz Sena e Quilombo do Carucango, o maior que existiu na região. A cidade contava com portos fluviais, a estrada Macaé-Cantagalo e o ramal ferroviário oriundo de Conde de Araruama (Quissamã) tornam-se vias de acesso à região contribuindo para o seu povoamento, crescimento econômico e evolução política: freguesia em 1855 e primeira emancipação em 1891-1892. Durante esta época de grande crescimento econômico, ocorreu o caso da Fera de Macabu, uma história de crime erros judiciários a partir do qual se iniciou o fim da pena de morte no Brasil.[1]
2.2 Manoel da mota coqueiro
Manoel da Mota nasceu na fazenda do Coqueiro, município de Campos dos Goytacazes, em fevereiro de 1799, embora haja divergência entre datas, visto que sua certidão de nascimento conste como 17 de agosto de 1802[2]. Tinha filiação de Manoel José da Motta, fazendeiro da região, e Anna Francisca do Nascimento; fato comum à época, teve em seu nome acrescentado ‘Coqueiro’ em virtude de ter nascido na Fazenda Coqueiro e passou toda sua infância na fazenda administrada pelo pai.[3] Da Motta Coqueiro se tornou um homem muito influente, de grandes negócios na região, mas de temperamento rude. Era característica o pavor de todos que o circundavam pela sua valentia, arrogância e pela forma cruel com que tratava seus escravos.[4]
A história da Fera de Macabú inicia-se no dia em que o primo e amigo Julião Baptista Coqueiro apresenta-lhe sua noiva Joaquina Maria de Jesus. Como iria ao Rio de Janeiro dedicar-se aos estudos, Julião pediu ao primo que cuidasse de sua noiva, prestando toda assistência necessária durante o seu período acadêmico e assim Manoel o fez. Ocorre que Da Mota terminaria pôr-se apaixonar por Joaquina, passando a cortejá-la e envolvendo-se em um grave atrito com seu Primo Julião, que jurou vingança e passou a persegui-lo de todas as formas possíveis. Bel Aquino[5] descreve bem os primórdios dos inimigos de Coqueiro:
[...]E Coqueiro assim o fez mas, de tanto concentrar todos os olhares em Joaquina, se apaixonou por ela e a desposou em 07 de fevereiro de 1820, deixando Julião profundamente humilhado, jurando-lhe vingança eterna – o que o levou a persegui-lo de todas as maneiras, abusando do prestígio de sua família, manipulando forças politicas de seu irmão José Bernardino Baptista Pereira de Almeida (que foi Ministro da Justiça e da fazenda de D. Pedro I) e aproveitando-se de sua ligação familiar com o visconde de Maranguape para apressar, dentro do próprio palácio imperial, a execução de Coqueiro anos mais tarde.
Para Manoel, o casamento com Joaquina não rendeu bons fruto, ofertando uma inimizade mortal com o seu influente primo, cumulado com ausência de dote por sua noiva. É importante ressaltar que Coqueiro não desfrutou muito tempo de sua amada, já que em março de 1823 ela contraiu uma grave infecção pulmonar (acreditam-se que se tratava de Tuberculose) que a levou ao óbito.
Logo após a morte de Joaquina, Manoel da Mota começa a receber uma herança do seu tio-avô, uma fazenda, vizinha a de Julião, seu primo que lhe jurara vingança. Coqueiro foi adquirindo novas propriedades, ampliando sua fortuna, até que conheceu Úrsula Maria das Virgens Cabral, prima de seus primos. Era uma fazendeira que tinha uma posição social elevada, sendo muito respeitada apesar de ser mulher, por ter personalidade fortíssima.
Em 1832, ocorreu o casamento entre Manoel da Motta Coqueiro e Úrsula Maria das Virgens Cabral. Logo no início do matrimônio, o casal passou a juntar bens, expandindo os limites das propriedades, arrendando ou ocupando terras abandonadas. Essas terras foram doadas a padres beneditinos que nunca as ocuparam, posteriormente ocupadas por Coqueiros e também por outros fazendeiros, o que gerou um conflito entre Manoel e os Padres. O atrito chegou a tal tamanho que a Igreja enviou tropas de escravos para que pudessem recuperar a posse das terras. Da Motta enfrentou os escravos e conseguiu garantir a propriedades das terras, porém, os padres se agregaram ao grupo dos inimigos de Manoel.
Em 1847, Coqueiro já era dono de cinco fazendas e muitos escravos respeitado pela sociedade local. Foi convidado para um casamento em que o Imperador D. Pedro II. Na festa luxuosa, para dois mil convidados, Úrsula e Coqueiros são apresentados ao Imperador.[6] Nesse mesmo período, o mercado escravocrata estava em baixa, com a crise do Tráfico Negreiro e pressão da Inglaterra requerendo o fim dessa prática mercantil. Como solução se tem a substituição de mão-de-obra escrava pela utilização de colonos livres, prática que se tornou frequente no Brasil no século XIX. Bel Aquina expõe as atitudes de Da Motta sobre essa inovação:
Coqueiro foi um dos primeiros a aderir a esta experiência e, por intermédio de seu vizinho e amigo, José Pedro Gomes de Moura, conheceu Francisco Benedito da Silva, casado e com seis filhos; um colono trabalhador, mas que tinha um histórico de embriaguez e de arrumar brigas com as escravarias.[7]
Com o acordo de trabalho, Francisco Benedito se instalou na fazenda Bananal com sua família. Em visitas laborais para resolução de diligências mercantis, Coqueiro descobre os encantos de uma das filhas de Benedito, era Francisca, por quem se apaixonou, passando a visitar com mais frequência seus aposentos fazendários. Em abril de 1852, em uma visita de Coqueiro à Fazenda Bananal, este encontrou-se com Francisca, ficando quase dois dias inteiros sem que ninguém os visse, resultando na gravidez da moça. Devido a gravidez indesejada, Manoel tentou, sem sucesso, mandar Francisco embora de todas as formas, o que gerou desentendimentos severos. Diego Bayer e Bel Aquino descrevem um dos atritos em que as partes se envolviam:
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