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O menino nao sabia

Por:   •  14/6/2017  •  Bibliografia  •  1.488 Palavras (6 Páginas)  •  217 Visualizações

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HENRY

Acordo com a cabeça latejando de dor. A noite de ontem me proporcionou momentos intensos com uma loira, desconhecida para mim. Os irmãos Chris e Freddy, que são meus amigos, também não ficaram para trás, então todos saíram no lucro.

Pego o celular no criado-mudo e vejo sete chamadas perdidas do meu pai. São onze e meia da manhã. Droga, dormi demais! Logo retorno a ligação, não demorou muito para que ele atendesse.

-"Henry, você sabe que horas são? Você não pisou os pés aqui no Vegas! Estou decepcionado cada dia mais contigo!". Papai começa seu sermão.

- Bom dia pra você, pai! - ironizo - Não estou em condições de ir hoje.

- "Ah, não? Aposto que estava em mais uma noitada e está de ressaca... Quero você aqui à tarde, ou então eu vendo seu apartamento!"

Pode fazer o que quiser! Não ligo. - minto.

"Você me ouviu, não é? Passar bem." .

Papai desliga. Ele insiste em me tornar seu sucessor no Vegas Club, um complexo de lazer, que é uma herança de família. Gosto de frequentar o clube, mas administrá-lo não está em meus planos.

Ele me deu o apartamento na tentativa de me incentivar. No primeiro mês eu estava muito entusiasmado, mas depois fui ficando desinteressado. Essa vida de ter que ir todos os dias ao trabalho não é para mim.

Me levanto da cama e tomo um banho. O tempo frio me convida para tomar mais umas doses de uísque nessa noite.

Procuro um remédio para dor de cabeça e o tomo. Pela janela, vejo que a garoa molha a cidade, então visto meu casaco e uma capa de chuva.

Num restaurante ao lado do condomínio onde fica meu apartamento servem comidas deliciosas. Me dirijo até lá, sentindo a leve garoa tocar meu rosto. Entro no estabelecimento e, no prato, ponho as delícias que vejo no self-service.

Após o almoço, volto no condomínio e pego o carro, partindo para o clube. Na entrada do clube, logo o porteiro reconhece meu carro e abre o portão. Por conta do clima, a parte do parque aquático está vazia, mas vejo um movimento em outros locais do Vegas, mais precisamente nos cobertos. Adentro na parte administrativa do clube e sigo para a sala do meu pai. O encontro preenchendo alguns papéis. Ao fechar a porta atrás de mim, ele me lança um olhar e para o que estava fazendo.

- Que bom que você veio. - ele diz sem expressão alguma - Há algumas coisas para você fazer. - me sento na cadeira em sua frente.

- Espero que não seja mais um relatório financeiro.

- Você é muito inteligente, é isso mesmo. - ele parece me provocar.

- Você sabe que eu odeio relatórios! - na verdade, não tenho paciência para isso.

- Eu também odeio muitas coisas, mas nem por isso deixo de fazê-las, como por exemplo, ficar perdendo meu tempo ligando para um filho que não está nem aí para nada. - ele ajeita uns papéis na mesa e continua a escrever.

Sorrio de sua indireta. Eu e meu pai não temos uma relação saudável, principalmente depois de minha adolescência. Já minha irmã mais velha, ele a tem como um tesouro, principalmente depois que foi para o Canadá atuar na área aeroespacial na NASA. Eu não ligo muito com essa coisa de carreira, ser o melhor em tal coisa... Tudo isso para mim é perda de tempo, prefiro curtir minha vida com a renda de um bom valor em dinheiro que a mamãe me deixou antes de falecer. 

- Ok, eu faço o relatório mas depois irei embora. - estendo a mão para receber os papéis para iniciar a tarefa.

- Não sei quando você vai amadurecer para a vida... - ele reflete me olhando fixamente - É uma pena que tenha vinte e sete anos com atitudes de um adolescente.

- Não comece com um de seus sermões, por favor. - me levanto e sento em outra mesa ali próxima.

Começo a produzir o relatório e o silêncio toma conta do ambiente. Fazer um relatório financeiro é um pouco complicado, pois preciso informar tudo o que diz respeito à dinheiro aqui no clube. Passo a tarde toda ali, digitando número e mais números no notebook, enquanto meu pai sai e entra diversas vezes. Dessa vez o relatório foi menos complexo. Devido ao clima chuvoso, muita gente deixa de frequentar o clube, fazendo com que não haja muito movimento financeiro.

Acabo minha tarefa de hoje por aqui. Imprimo o relatório e deixo na mesa de meu pai, que não está presente no momento. É um alívio poder voltar para o apartamento. Ou para outro lugar. Durante o trajeto até o carro, não vejo meu pai, melhor assim. Não estou a fim de ouvir mais um sermão. No estacionamento, entro no carro e dou a partida, rumo ao apartamento.

A chuva que caía cessou, deixando várias poças d'água no​ caminho. Assim que chego aos arredores do condomínio, vejo uma morena entrar numa biblioteca. Meu olhar parou em sua imagem, fazendo com que eu esquecesse do trânsito e quase batesse no carro da frente. Como um bom caçador de mulheres, não posso deixá-la passar! Procuro um lugar vago e estaciono o carro na rua. Antes que seja tarde, corro até a biblioteca.

Ao entrar ali, procuro a moça em meio às pessoas que estão​ fazendo suas leituras, mas não a vejo. Tenho certeza que ela entrou aqui! Logo uma mulher chega e me cumprimenta sorridente.

- Olá! Eu sou a Gina. O que pretende ler hoje? - a escuto, ainda procurando a moça.

- Bom, eu... - melhor não dizer que vim por causa da moça, que nem conheço - Eu gostaria de ler algo sobre... - penso em algo - sobre política! - é o que me vem à cabeça.

- Sim, me acompanhe, por favor! - a sigo.

Após encontrar uma revista sobre o que pedi, ela me entrega, eu a agradeço e me sento em uma poltrona individual. A moça em que avistei há pouco tempo surge por entre as prateleiras e se senta em um dos sofás. A olho sem receio por cima da revista, admirando sua concentração, suas expressões e o jeito misterioso de ser. Ela também me olha por alguns segundos, mas logo retorna à sua leitura. Não tenho interesse em ler essa revista e assim continuo observando-a. Após alguns instantes, seu olhar me encontra novamente, percebo que isso a deixou um pouco sem jeito. Intensifico meu olhar, para tentar provocar algo nela, porém ela retribuiu da mesma forma, me olhando fixamente, sem fazer alguma expressão.

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