TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

A Economia Agrícola

Por:   •  26/10/2017  •  Resenha  •  1.878 Palavras (8 Páginas)  •  309 Visualizações

Página 1 de 8

Gilberto Paim escreve em 1957 a obra intitulada Industrialização e economia natural. Paim vai buscar na história, na relação colonial do Brasil com a Coroa Portuguesa. Segundo o autor, a medida da Coroa Portuguesa através da Carta Régia de 1785 constituiu um entrave para a industrialização no Brasil, na medida em que tal carta, atendendo a exigências inglesas, era contrária à instalação de indústria nacional. Nesse sentido, a implementação no Brasil de uma unidade econômica autônoma com base agrícola foi uma imposição das relações políticas e externas de produção. A existência de um “complexo rural” no Brasil, como uma unidade de economia autônoma em relação ao mercado nacional, é, para Paim, a origem da questão agrária em nosso país. Podemos entender o complexo rural como uma unidade de produção complexa em que as atividades produtivas e econômicas predominantes são as primárias, caracterizadas pela baixa produtividade, pela autossuficiência, por uma reduzida geração de renda, pela baixa capacidade de importar seus produtos e pela ausência de mercado interno com capacidade de consumir produtos manufaturados. Essa realidade é também chamada pelo autor de “economia natural”. Os complexos rurais constituíam-se em unidades quase autossuficientes em relação ao restante do território e da economia nacionais, sendo sua única relação comercial com o exterior estabelecida através da compra de bens de luxo para as classes proprietárias e da venda de seu produto agrícola para o exterior. Seus primitivos meios de produção, tais como a alimentação para a força de trabalho escrava, embalagens rústicas, entre outros, provinham dos domínios da própria unidade. Por ser nordestino, Paim trabalha sob forte influência da realidade das usinas de cana-de-açúcar, mas a mesma explicação pode ser estendida para as demais culturas agrícolas de exportação que se sucederam e se espalharam pelo território nacional, entre as quais, por exemplo, o cacau na Bahia, o complexo carne/charque no Rio Grande do Sul, o café no período escravista, a borracha no norte, etc. É esse cenário que explica o atraso no desenvolvimento do mundo rural e da economia brasileira. A visão de Gilberto Paim identifica a sociedade urbana e industrial como índice de progresso, sendo o esgotamento da economia natural um caminho necessário para que a força de trabalho seja liberada para o mercado, em prol de uma maior utilização do potencial produtivo, tanto no sentido da criação de um mercado consumidor quanto no da promoção das especializações da indústria e da agricultura, condições essenciais ao desenvolvimento econômico. Em síntese, Gilberto Paim identifica a existência do complexo rural ou da economia natural como obstáculo à industrialização e ao desenvolvimento do mercado interno. Propõe o desenvolvimento do mercado interno e a separação entre indústria e agricultura de mercado; ou seja, defende a eliminação do caráter de autossuficiência do complexo rural. Consequentemente, libera o potencial produtivo das forças produtivas e insere-o na produção industrial. Esta é, portanto, a questão agrária para este autor, naquela época.

Ignácio Rangel foi um dos mais notáveis e originais economistas brasileiros; entre suas obras, destacam-se aquelas que tratam da questão agrária brasileira tal como ele a via no final dos anos 1950 e no início dos anos 1960. A agricultura deve, pois, segundo Rangel (2004), ser estudada como um setor produtivo, onde existem entrada e saída de produtos e serviços e câmbios de técnica e de mão de obra com os demais setores econômicos. A relação da agricultura do meio rural com a cidade e com o processo de industrialização do país, no sentido de fornecer a mão de obra necessária para tal, ou de reter a população no campo por via do desenvolvimento da atividade econômica propriamente agrícola, equilibrando o fluxo de mão de obra no sistema econômico, é o que constitui, segundo Rangel a questão agrária: “Define-se uma questão agrária quando o setor agrícola [...], [...] ou não libera mão de obra necessária à expansão dos demais setores ou, ao contrário, a libera em excesso” (p. 72). De acordo com Rangel, a superabundância ou a escassez dos produtos agrícolas ou da mão de obra pode tornar-se crônica e agravar a crise agrária. Esses problemas são comuns ao setor, e Rangel os chama de “problemas próprios da crise agrária”. No entanto, existe um constante desdobramento desses problemas em outros, que são tratados como problemas impróprios da crise agrária. Quando acontece a superprodução ou a escassez agrícola, os mercados serão afetados em consequência da relação natural entre oferta e demanda, entre preço e consumo, causando desajustes inclusive no comércio exterior. No caso do desequilíbrio da alocação da força de trabalho, o resultado é o desemprego e a subocupação nos setores urbano e rural. Os problemas impróprios, de acordo com Rangel, estão ligados a questões agrícolas, embora suas soluções sejam “interessantes ao problema agrário propriamente dito”, pois não demandam necessariamente mudanças na estrutura agrária. O fato de haver abundância de determinados produtos agrícolas e escassez de outros, decorrente da especialização e da monocultura, suscita “uma anomalia na estrutura da oferta agrícola”. Como consequência, existirão alguns produtos em demasia, e outros serão escassos, o que caracteriza um problema impropriamente agrário. Outro problema impróprio relaciona-se com a mão de obra. Se, por um lado, a superpopulação rural se converte em desemprego urbano por via do êxodo rural, por outro, algumas atividades de monocultura sofrem escassez de mão de obra e demandam, por vezes, mobilizações de massas de trabalhadores rurais entre diferentes regiões brasileiras. Em síntese, a questão agrária, segundo Ignácio Rangel, está na capacidade que tem o setor agrícola de liberar em maior ou menor grau mão de obra para os outros setores da economia, e em sua própria capacidade de absorver a mão de obra liberada por esses setores.

Guimarães (1968) observou, através de dados estatísticos, que, no Brasil, a existência de latifúndios e o pouco uso de tecnologia (em sua época) colocava-nos em um “estágio inferior da produção agrícola, peculiar às condições históricas pré-capitalistas” (p. 35). Em razão disso, o autor afirma que esta condição feudal – que, através da propriedade da terra exerce “praticamente o domínio absoluto da totalidade dos meios de produção agrícolas” (p. 35) – existente no Brasil é o principal entrave para o desenvolvimento da agricultura e para o desenvolvimento nacional. Para Guimarães, a herança feudal do latifúndio brasileiro perpetua as condições de atraso que impedem o desenvolvimento capitalista no mundo rural de nosso país.O autor, à semelhança de Paim, também recorre à história e à relação colonial do Brasil com Portugal para explicar as condições em que o latifúndio foi institucionalizado por via implementação do esquema das capitanias e das sesmarias, do extermínio de populações locais e da apropriação ilegítima, a qual consolidou a propriedade privada da terra no país. A elevada concentração de terras no país promoveu, na segunda metade do século XIX, o acelerado êxodo de grandes massas de trabalhadores e intensificou o processo de urbanização, proporcionando a ampliação do mercado consumidor interno para a indústria nacional, ao mesmo tempo em que grande parte das fazendas foi perdendo sua capacidade de autossuficiência.

...

Baixar como (para membros premium)  txt (12.4 Kb)   pdf (114.1 Kb)   docx (13 Kb)  
Continuar por mais 7 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com