A produção da globalização
Por: lukkas221 • 27/3/2024 • Resenha • 3.431 Palavras (14 Páginas) • 112 Visualizações
I. Introdução geral
O autor define claramente três concepções diferentes a respeito do seu principal alvo de epifanias e elucidações: o fenômeno da globalização. A primeira é a perspectiva da globalização como um conto de fadas, ou a forma como nos fazem tentar compreendê-la, sendo este o discurso hegemónico. do mundo. Marcado por discursos de tendências hipócritas e ações humanitárias ilusórias, é definido como um conto de fadas em que as nações se permitem unir-se através do progresso tecnológico, mas não se adapta à realidade, por motivos que Milton aborda logo a seguir: a globalização como perversidade, a presumia o chamado “mundo como ele é”. Aqui, depois de nos despojarmos dos toques e floreios das visões tacanhas da realidade, podemos ficar impressionados com a verdade sobre as consequências reais da globalização como um meio de perpetuar e agravar a concentração cada vez maior de recursos, capital e informação de forma desigual entre a maioria... e um pequeno grupo de atores hegemônicos globais. A terceira é a globalização como possibilidade, ou “o mundo como pode ser”. Aqui o autor nos traz uma visão otimista e positiva dos fenômenos como frutos de prováveis esperanças, pois nunca antes tivemos tantas ferramentas e possibilidades à nossa disposição para transformar a realidade. É aqui que Milton Santos propõe “outra globalização”.
II. A produção da globalização
A globalização, tema central deste livro, representa o ápice da configuração do mundo sob a égide do capitalismo, sendo um processo em curso que testemunhamos como a internacionalização do globo. Os fatores que conduziram a esse fenômeno abrangem elementos como a unicidade técnica, a convergência de momentos, o conhecimento global e a mais-valia globalizada.
As técnicas se manifestam como um sistema unificado, fruto do avanço científico que originou um sistema de técnicas da informação, viabilizando um novo paradigma de presença global. A globalização surge como resultado desse sistema, decorrente de ações que promovem o surgimento de um mercado global. A unicidade técnica refere-se à dificuldade em distinguir o estado da política das técnicas, especialmente nos avanços tecnológicos concentrados em atores hegemônicos, como gigantes corporativos.
A "Convergência de Momentos" destaca a unicidade do tempo, indo além da simultaneidade nos relógios. Reflete a sincronização das movimentações das corporações multinacionais, revolucionando o campo financeiro e permitindo que o mercado opere em vários espaços simultaneamente. O autor enfatiza que o verdadeiro tempo é um patrimônio coletivo da humanidade.
A mais-valia universal, representada por megacorporações competindo de forma intensa, sinaliza um novo estágio da globalização, com expansão internacional de consumo, dados e elementos financeiros. O sistema, marcado pelo imperialismo, impulsiona a homogeneização das modalidades técnicas. O período técnico-científico permite não apenas a utilização de recursos naturais, mas também a criação de novos materiais nos laboratórios.
A crise estrutural da globalização, delimitada historicamente, é exacerbada ao buscar soluções não estruturais. As decisões estratégicas dos atores hegemônicos visam mais a angariar interesses pessoais do que reverter a crise, resultando na tirania da informação e do capital, fundamentando a preservação histórica do capitalismo em tempos de globalização.
III. Globalização perversa
O Capítulo III se concentraem elaborara relevânciadocapitaledainformação como alicerceque amparao capitalismo e seu aspectoestrutural, por quais razões ele é explorado,aonde e de qual forma. Amanipulação de dadose ocontrole de corporaçõesde mídiasãomeios variados com as quaiso dinheiroem si ataca e controla avida dos indivíduos(e lançafortes colisõescontra opróprio Estado quando este não estácondizente com seus objetivos). Sendo a informação de extrema importância, a alienação permite em grandes prazos ealcances, verdadeirosresultados exuberantes para os atores hegemônicos. Achamada“violência do dinheiro”vem por ataques, embargos e calotes no meio financeiro, seja essa violênciapara acertaro Estado ou uma empresa concorrente. No caso do Estado, estamos nos referindo a um quadromais sensível ainda, jáque a corporaçãoque se fixa em uma nação hipotética, se tornaparte das finanças que por lá circulam. A globalização,por sua vez,abusado local instalado, levando para o exteriorroyalties, inteligência comprada, pagamentos de serviços e remessas de lucros, retornando para o Estado como créditos e dividas. Quando traçando relações entre política e dinheiro, Milton produz uma série de observações interessantes. Na ocorrência dos sistemas políticos estruturados em “corporatocracias”(governo de corporações, cujo engrossamento de receitas e influência devoram instituições públicas) que se utilizam de sistemas técnicos contemporâneos (remetidos no segundo capítulo), o estado é regido de forma totalitária e insidiosa.Isso porque dá uma falsa impressão de que se fundamenta em noções básicas de democracia (que se diversificam em liberdades de opinião, imprensa, política, tolerância, etc), porém que no fim das contas é operado com o objetivo de impedir a chance de que haja um conhecimento globalmente difundido.Quando o autor aborda a educação, nota-se quea faltadasciênciasde humanidades presente nos diversos patamares educacionaisimpossibilita o desenvolvimento da noção mais realista, limpae focada de mundo e meio social, e de forma cada vez mais profunda é trocada por uma ciência administrativa. Ciência esta que opera para o amparo ideológico de todas essas já referidas políticas econômicas capitalistas, que se concluem, paraexemplificar, em uma classe média bagunçada em suas concepções e vontades, que fora ensinada a buscar privilégios, e não direito.Devido ao fato de todas as técnicas hegemônicas atuais serem filhas da ciência, e também devido às mesmas se darem à prestação de servido do mercado, esse conglomerado resulta em um ideário produz em um discurso da técnica e do mercado que
é endeusado pela ciência, aclamada como infalível. Já reunimos exatamente os ingredientes para a repercussão de um pensar e agir baseados em um totalitarismo. Totalitarismo esse que não é restringido pelo âmbito do trabalho, perpassando pelo âmbito da política e das relações entre indivíduos, penetrando o próprio ambiente de pesquisa e do ensino acadêmico nas universidades, amarrado em um cerceamento de opiniões.Muito ouve-se, atualmente, de violência como característica pétrea da nossa época. Porém dentre as tantas formas de violência da qual se debate, a estrutural é muito pouco comentada. Ela é um produto dos desdobramentos abarcados do dinheiro em estado puro, da competitividade em estado puro e da potência em estado puro.Do primeiro citado, dinheiro em estado puro, percebe-se que com a globalização atribui-seuma novidade dentro da concepção de abundância de capital, de prosperidade e de contas balanceadas à nível local e nacional, termosfundados no monetárioem condição purae aos quais todas as economias de uma naçãosão convocadasa se habituar. O consumo, que virou uma constantepara todos, recebe uma funçãode destaqueao capital nos seus diferentes desdobramentos. O novo dinheiro transforma-se entãoem onipresente. Fundamentado numa ideologia, esse capitalsem avaliaçãose torna a avaliaçãogeral, retomandoa aptidãopara analisara concentraçãocomo uma metaque se bastaem si mesma.A necessidade dacapitalização nos levaa adotar como princípioa necessidade de se levar a competição para todas as esferas. Nos dias de hoje, a competição toma nível de regiões e cidades ea rivalidadese intensificatambémcomouma normada socialização.Para que possamos competir em estado puro e ganharo dinheiro no estado também puro, o exercício do poder também deve ser feito no estado puro. O uso da força se torna um imperativo, que traz também a desnecessidade de se responsabilizar pelopróximo.Hoje vemos a perversidade se estabelecer como um sistema em sua totalidade, para deixar de ser exibida apenas em casos avulsos.O principal motivo da perversidade endêmica é que a competição foi consagrada como norma imperativa, que discorre sobre todas as esferas da sociedade. A persona do outro, não importa que seja uma pessoa, instituição ou empresa, se torna um empecilho que deve ser extraído e excluído. Por esses motivos que a normalidade de uma vida rotineira é abalada pela violência estrutural, que também é chamada de mãe de todas as outras violências.
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