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Da Macroeconomia clássica à keynesiana

Por:   •  6/5/2015  •  Resenha  •  2.067 Palavras (9 Páginas)  •  451 Visualizações

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Luiz Carlos BRESSER-PEREIRA. “Da macroeconomia clássica à keynesiana”. Versão corrigida em 1974 de apostila publicada originalmente em 1968. EC-MACRO-L-1968 (E-73). São Paulo, abril de 1968. Revisado em maio de 1976.

DA MACROECONOMIA CLÁSSICA À KEYNESIANA

A Economia Política é uma ciência social que estuda o comportamento humano no processo de produção, circulação e distribuição de bens econômicos. No âmbito da Economia Política encontram-se algumas áreas de estudo, tais como: História Econômica, História do Pensamento Econômico, Economia Aplicada, Análise ou Teoria Econômica, e Política Econômica.                                                         A Economia ou Economia Política é, por definição, uma ciência social, apesar de preocupar-se apenas com o comportamento econômico do homem em suas atividades de produção, distribuição e consumo de recursos escassos. A análise econômica é, portanto, limitada devido a esta simplificaçãodo comportamento humano, que não leva em consideração a inserção do homem no meio social e suas relações de dependência, assim como considera tal como racional, onisciente em suas ações no mercado, sempre buscando a maximização de seus lucros.                                         A análise econômica dividiu-se então em dois ramos principais: a microeconomia e a macroeconomia. A microeconomia teve sua origem nos autores clássicos e desenvolve-se fortemente após o surgimento da teoria da utilidade. A microeconomia parte da análise do comportamento de produtores e consumidores, com o objetivo de conseguir compreender o sistema econômico em sua totalidade. A preocupação principal é estabelecer as condições de equilíbrio geral da economia.        Assim sendo, a microeconomia é basicamente um estudo da oferta, tendo os produtores como responsáveis, e da procura, que depende do comportamento dos consumidores. A teoria do consumidor tem por base a teoria da utilidade marginal; a teoria da produção inicia-se com a lei dos rendimentos decrescentes e o estudo dos custos e da receita das empresas. Após isto, a partir de dois conceitos básicos, de custo e de receita marginal, chega-se à determinação da oferta e,juntamente, à determinação do preço. Os preços vão então determinar automaticamente a quantidade a ser produzida de cada produto, de modo a obter-se um equilíbrio geral, garantindo satisfação máxima para produtores e consumidores. Por outro lado, no processo de produção, os produtores vão empregar fatores de produção. Dentro do mecanismo de mercado, a microeconomia estuda então a oferta e a procura destes fatores de produção. A procura dos fatores é determinada naturalmente pela procura das mercadorias pelos compradores. Usa-se a teoria da produtividade marginal, que é um conceito da teoria da produção, para explicar o problema e chegar à determinação do preço dos fatores de produção. Além disso, a microeconomia estabelece a alocação ótima dos fatores de produção entre os diversos produtores e os diversos produtos. É importante ressaltar que toda esta análise é realizada tendo como base a hipótese de existência de uma concorrência perfeita.        A análise microeconômica neoclássica veiorepresentar um grande avanço e ao mesmo tempo um grande retrocesso da ciência econômica.Do ponto de vista positivo, a teoria da utilidade marginal torna mais fácil a unificação dateoria da distribuição e da produção. Em contrapartida, a microeconomia neoclássica irá significar um retrocesso quando vista de outra maneira. Em primeiro lugar, a análise econômica chega a um ponto deabstração e sofisticação matemática tão alto que perde contato com a realidade e deixa dedescrevê-la de forma efetiva. Ao invés de analisar e explicar o funcionamento dos sistemaseconômicos realmente existentes, a teoria econômica transformou-se em algo semelhante aum método ou uma construção lógica.                                         Já a macroeconomia clássica tem como idéia principal que o mundo econômico é regido por leis naturais, as quais se forem deixadas a funcionar livremente produzirão sempre os melhores resultados possíveis. Além deste pressuposto principal, a macroeconomia clássica partia de dois outros pressupostos importantes: o de que os preços e salários eram sempre flexíveis e o de que a moeda não era utilizada com fins de entesouramento. Estes dois pressupostos permitiam o desenvolvimento dos dois modelos centrais da macroeconomia clássica: a "lei do mercado", de Say, segundo a qual a oferta cria sua própria procura; a teoria quantitativa da moeda, que, partindo da equação de trocas, concluía que, sendo a velocidade da moeda constante, e dada uma determinada quantidade de moeda, a produção variava em relação inversa e proporcional aos preços. Além destes dois modelos, para equilibrar a poupança e o investimento, a macroeconomia clássica fazia estas duas variáveis dependerem de taxa de juros, a qual era, por sua vez, determinada pela oferta de poupança e a procura de investimentos. O resultado de todo este processo era o pleno emprego no longo prazo, ou, o que dá no mesmo, a impossibilidade de haver crises de longa duração, indefinidas, de subconsumo ou superprodução. E assim, a conclusão exigida pela filosofia da lei natural ficava assegurada.

Examinando os elementos do modelo do modelo macroeconômico clássico, vemos que o primeiro pressuposto, da existência de preços flexíveis, é importante para a macroeconomia clássica, porém não é absolutamente essencial. Este pressuposto permite a garantia do pleno emprego sem qualquer intervenção do governo. No momento em que uma queda momentânea na procura agregada levasse à redução da atividade econômica e ao desemprego, os salários seriam reduzidos, os preços das mercadorias produzidas com o respectivo trabalho cairiam, a procura aumentaria, a produção voltaria a aumentar, e o pleno emprego seria restabelecido.

O segundo pressuposto da macroeconomia clássica é o de que a moeda não é utilizada para entesouramento. A moeda para os clássicos é uma unidade de conta e um meio de troca. Além de servir para se somarem mercadorias diferentes, a moeda é fundamentalmente um meio de troca. Os homens só teriam interesse em mantê-la em seu poder na medida em que dela necessitassem para realizar suas transações.

Os dois pressupostos examinados acima estão intimamente relacionados com o esquema teórico central da macroeconomia clássica, consolidado na lei de Say. Esta lei afirma que as crises de superprodução ou subconsumo são impossíveis, a não ser muito transitoriamente, e no mais das vezes, setorialmente. Isto porque toda produção implica em uma remuneração que vai se transformar imediatamente em procura. As pessoas não produzem e oferecem suas mercadorias no mercado pelo simples prazer de fazê-lo. Elas têm em mira produzir para, com isso, obter recursos que lhes permitiam comprar outros bens que desejam. Quando a oferta aumenta, a procura também aumenta ao mesmo tempo. A economia de mercado possuiria assim um mecanismo de controle automático, que a levaria sempre para o equilíbrio, tornando a superprodução geral impensável.

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