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Problemas e perspectivas para a economia do Brasil em 2014

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Por:   •  20/10/2014  •  Projeto de pesquisa  •  5.361 Palavras (22 Páginas)  •  301 Visualizações

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Desafios e Perspectivas da Economia Brasileira em 2014

1. Introdução

Em 2010, a revista The Economist apontou o Brasil em matéria de capa, na qual louvava o bom desempenho da economia e as pers­pectivas positivas que se abriam para o país. Três anos depois, a revista publicou reportagem argu­mentando que a economia desandara, pedindo a cabeça do ministro da Fazenda. Não é difícil ver por que a revista mudou tão radicalmente de ideia. O crescimento do PIB despencou de 4,3% ao ano, em 2005-2010, para 2,0% anuais, em 2011-2013, enquanto a expansão do investimen­to caiu de 9,2% para 2,3% ao ano. Além disso, neste último triênio, a inflação média ficou em 6,1% ao ano, e o déficit em conta corrente au­mentou 1,5% do PIB.

Desde 2012, o cenário externo vem mudando em uma direção que magnifica os desequilíbrios dinâmicos intrínsecos ao modelo econômico vi­gente desde 2005, muito calcado no aumento do gasto público e do crédito muito acima daquele do PIB. A desaceleração do crescimento na Ásia emergente encerrou o ciclo de alta no preço das commodities e colocou em evidência a dependên­cia do modelo à expansão contínua das importa­ções líquidas. O início do processo de normaliza­ção monetária dos EUA elevou as taxas de juros pagas pelos títulos públicos, expondo a fragilida­de de um setor público com elevada dívida bruta.

O Brasil passou a ser visto como frágil e vulne­rável à normalização da política monetária ameri­cana. Talvez nenhum outro indicador mostre isso mais claramente do que a poupança nacional ter caído, em 2013, a apenas 13,9% do PIB, gerando um recorde, pelo menos desde 1995, na necessida­de de financiamento externo do país. Isso é um cla­ro prenúncio de que, no médio prazo, o Brasil pas­sará por um forte ajuste no consumo, do setor pú­blico e das famílias, e no investimento, como acon­teceu no final dos anos 1990 e início da década passada, assim como outras vezes no passado.

As expectativas para 2014 são de um desem­penho ainda pior do que na média do triênio 2011-13. Como mostra o Gráfico 1, desde o últi­mo trimestre de 2011, houve uma progressiva redução da confiança na qualidade do desempe­nho econômico do país. Em final de fevereiro, previa-se para 2014 uma inflação de 6% e uma alta de 1,7% no PIB. Essa combinação reforça a visão de que o crescimento real do PIB potencial do Brasil caiu para aproximadamente 2,5% ao ano ou até menos. Gráficos semelhantes para 2015 e 2016 apresentam um padrão semelhante de mais inflação e menos crescimento.

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Neste artigo, analiso como a economia brasi­leira deteriorou-se a ponto de se ter expectativas tão ruins quanto ao seu desempenho nos próxi­mos anos. Com base nessa análise, traço um ce­nário para 2014. Mostro também que as más po­líticas dos últimos anos deixaram o país vulnerá­vel à normalização da política monetária ameri­cana e que o país necessita de reformas para melhorar seu desempenho, mesmo que não acre­dite que essas vão vir antes que o estado de nossa economia piore ainda mais.

O trabalho tem cinco seções, incluindo esta introdução. A seção 2 discute a “nova matriz eco­nômica”, um rótulo elaborado para a política ex­pansionista adotada desde o final de 2011. A se­ção 3 mostra por que o Brasil está entre as econo­mias emergentes mais vulneráveis à normaliza­ção monetária nos EUA. A seção 4 apresenta meu cenário para a economia em 2014. A seção 5, e última, discute o que esperar da política eco­nômica em 2015.

2 . A nova matriz econômica

Como é tradição, a presidente Dilma passou boa parte de seu primeiro ano de governo buscando frear a alta da inflação, apertando a po­lítica monetária e fiscal. No entanto, o impacto so­bre o investimento foi muito mais forte do que o previsto. As autoridades se assustaram com a que­da do crescimento e o risco de que esta se acen­tuasse com o aprofundamento da crise europeia. Além disso, a presidente tinha suas próprias ideias sobre o que era uma boa política econômica.

Assim, a partir do final de 2011, o governo pôs em prática a chamada “nova matriz econômica”. Esta consistia em uma combinação de políticas mo­netárias e fiscais mais frouxas, crédito farto e barato por meio dos bancos públicos e uma taxa de câm­bio mais desvalorizada. Assim, ainda no primeiro ano de governo, a nova matriz econômica substi­tuiu o “tripé da política macroeconômica” posto em prática por Fernando Henrique Cardoso em 1999, que consistia em metas de inflação e de superávit primário, além de uma taxa de câmbio flutuante.

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Em uma surpreendente decisão, o Comitê de Política Monetária, em 31 de agosto de 2011, ini­ciou um longo ciclo de corte dos juros, que durou até outubro de 2012. Ao todo, a Selic caiu de 12,50% para 7,25%, patamar em que permaneceu até abril de 2013, período em que os juros reais ficaram abaixo de 2% ao ano (Gráfico 2). A inicia­tiva do Banco Central surpreendeu porque o afrouxamento da política monetária ocorreu a des­peito de as expectativas de inflação, e a própria inflação, estarem bem acima da meta de 4,5%.

No início de 2012, a política fiscal também foi afrouxada, com uma redução considerável do supe­rávit primário (Gráfico 2). A maior parte dessa que­da resultou de incentivos fiscais voltados para pro­mover o gasto privado e para diminuir alguns pre­ços-chave, contribuindo, assim, para manter a infla­ção baixa. Em 2012, esses incentivos fiscais custa­ram 1,1% do PIB em receitas fiscais perdidas.

Enquanto isso, os bancos públicos expandiram suas carteiras de crédito e cortaram as taxas de juros cobradas em seus empréstimos. Entre setembro de 2011 e dezembro de 2013, o saldo de créditos dos bancos públicos aumentou 48% acima da inflação, enquanto as instituições privadas expandiram suas carteiras em 4% (Gráfico 3). Para viabilizar esse forte crescimento nas suas carteiras, os bancos pú­blicos contaram com grandes empréstimos do Te­souro, cujo saldo subiu de 6,8% do PIB, no final de 2010, para 9,7% do PIB, três anos depois.1 Quase 90% dos empréstimos do Tesouro foram para o BNDES, a um custo inferior ao pago pelo governo em sua própria dívida. Esses créditos, por sua vez, permitiram que o BNDES emprestasse a taxas de juros reais negativas, como é o caso do Programa de Sustentação do Investimento. Por outro lado, elevaram significativamente a dívida bruta e a des­pesa líquida com juros do Tesouro.

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