Resenha crítica do texto Mocambos e Quilombos - uma história do campesinato negro no Brasil
Por: caua021 • 6/5/2017 • Resenha • 1.425 Palavras (6 Páginas) • 479 Visualizações
Resenha crítica do texto Mocambos e Quilombos
uma história do campesinato negro no Brasil
Professora: Anna Marina / OSPB
Aluna: Maria Claudia Silva/ DRE: 113205602
Flávio Gomes começa sua narrativa falando das origens múltiplas das mulheres e homens escravizadas (os) africanas(os) entre os séculos XVI a XIX nas Américas. O autor critica a forma como todas essas pessoas foram transformadas na visão dos europeus: “em africanos, como se houvesse homogeneidade para inúmeros povos, línguas, culturas(...)”. O interessante dessa frase é que ela já foi dita, com outras palavras, por um autor chamado Arthur Ramos, no final da década de 1930. Como ele mesmo disse: “(…) Para o branco senhor, não havia povos negros diversos, mas apenas o Negro Escravo.” Evidente que a forma como Flávio Gomes trata da questão da homogeneidade é bem mais interessante que a de Arthur Ramos.
Gomes trata com muito primor sobre as sociedades escravistas, destacando as comunidades que ficaram conhecidas como mocambos e quilombos. Ele cita vários outros estudiosos como Nina Rodrigues, Edison Carneiro, Gilberto Freyre etc, que abordaram a etimologia da palavra quilombo e seu uso no Brasil. Vale lembrar que para Gilberto Freyre, quilombo, era nada mais que negros fugidos de engenhos e fazendas.
Segundo Flávio Gomes, havia tanto mocambos, como quilombos por toda parte. Havia quem alegasse que tratava bem seus escravos, com sustento, vestuário etc e castigos moderados. O curioso é se deparar com textos de certos autores citados por Gomes, como Arthur Ramos e Freyre respectivamente as confirmações do tipo: “(…) apesar dos maus tratos, que sofreu o negro escravo, a sua vida foi até um certo ponto amenizada pela ternura com que ele foi recebido pelos senhores e sinhás”(Arthur Ramos,p.78); (…) “crianças de todas as idades e de todas as cores comendo e brincando dentro da casa - grande; e tão carinhosamente tratadas como se fossem da família” (Freyre; casa - grande & senzala,p.245). Não tem como se chocar com esse tipo de afirmação.
Felizmente, Flávio Gomes não segue a linha de pensamento acima. Este autor, está debruçado para detalhar os quilombos e suas interrelações, seja com grupos livres, seja com cativos, para além das generalizações que costumam prevalecer nas literaturas. Um exemplo disso, é descrição que Gomes dá sobre o mocambo mais famoso do Brasil, Palmares: (...)”A economia de Palmares era vigorosa, possibilitando excedente e facilitando trocas mercantis. Farinha de mandioca, vinho de palma, manteiga e outros produtos podiam ser trocados por armas de fogo, pólvora, tecidos e sal num comércio que alcançava lavradores, pequenos sitiantes taberneiros, preocupando as autoridades coloniais(...) Havia mesmo notícias de que alguns brancos – pequenos comerciantes, mascates e taberneiros frequentavam Palmares. Por outro lado, os constantes ataques deixavam as populações coloniais sobressaltadas.”
Há um relato interessante de uma expedição militar holandesa que retrata a organização espacial e social de Palmares, no século XVII, que vale destacar um certo enaltecimento por parte da expedição em relação à violência empregada por um rei aos seus habitantes (…) havia entre os habitantes toda sorte de artifícies e seu rei os governava com severa justiça, não permitindo feiticeiros entre sua gente e, quando alguns negros fugiam, mandava – lhes crioulos no encalço e uma vez pegados, eram mortos, de sorte que entre eles reinava o temor (...).
Os Palmaristas resistiram às inúmeras expedições punitivas oficiais de portugueses e holandeses, chegando a propor um acordo de paz inicialmente, sendo logo depois retirado pelos próprios quilombolas e sabotado pelos fazendeiros. Em 1695 Palmares foi considerado destruído, pois houve investidas violentas com bandeirantes e utilização de canhões.
Apesar de muitos limites na narrativa de Arthur Ramos, este se esforçou em relatar as expedições punitivas e em citar o nome de Jorge Velho, quem já havia destroçado os sertões brasileiros até o Maranhão.
Mesmo depois da morte de Zumbi, a luta contra as autoridades continuaram. Houve muita dispersão dos quilombos, muitos deles migraram para a capitania da Paraíba. Mesmo sem ser totalmente destruída, a unidade dos quilombos em torno de Palmares nunca mais foi reconstruída. Até 1736, Alagoas continuou a ter notícia de quilombos ali estabelecidos ( Gomes, p.93).
Flávio Gomes, nos apresenta interessantes tabelas que descrevem os nomes e os séculos XVII, XVIII e XIX dos quilombos no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Os quilombos não se limitavam à região de Alagoas, como se Palmares fosse o único, como algumas literaturas tendem a descrever, sem dar a devida importância da força que os quilombos tinham, eles estavam presentes por todo o Brasil.
Segundo o autor, em 1659 surgem denúncias de continuadas fugas e estabelecimentos de quilombos nas margens dos rio Paraíba. Há uma contradição do autor, ao dizer “o problema dos mocambos”, pois estes ja haviam assaltado nos bairros de Inhaúma e São Cristovão. O problema não era os mocambos, mas sim toda a repressão e violência institucionalizada a que estes foram submetidos. Afinal, a repressão foi autorizada pelo governador do Rio de Janeiro, que reuniu tropas das vilas de Maricá, Saquarema e Santo Antônio de Sá.
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