A Vez Do Profissional De Logistica

GERÊNCIA DE ESTUDOS E AVALIAÇÃO

FONTE :

JORNAL DO COMMERCIO 29/04

A vez do profissional de logística

Empresas pagam salários de até R$ 25 mil para funcionários com nível superior

Gisela Alvares

Eliminar etapas e fazer escoar a produção até o seu destino final, no mais breve espaço de tempo, é estratégia perseguida pelas empresas para conquistar o mercado consumidor. No mundo dos negócios bem sucedidos, a logística ganhou contornos definidos e projetou o profissional do setor a um patamar privilegiado, com salários que vão de R$ 1,5 mil a R$ 3 mil (nível médio) e de R$ 3 mil a R$ 25 mil (nível superior).

A meta da logística empresarial, adotada há muito nos países do Terceiro Mundo, é garantir a disponibilidade de produtos e materiais nos pontos de venda. O processo tem que funcionar dentro de um custo previsto. Alcançar tal objetivo num mercado globalizado está levando as empresas a investir na contratação do profissional que vai administrar e coordenar as cadeias de suprimentos e distribuição. Conhecer o processo produtivo é fundamental para promover a integração dos departamentos da companhia.

A internacionalização da economia e o aumento das opções logísticas no Brasil (privatização dos portos, ferrovias e rodovias) estimularam a demanda de profissionais qualificados, ainda escassos no mercado, pois há pouca oferta de cursos de especialização. No Rio de Janeiro, o treinamento pode ser encontrado na Fundação Getúlio Vargas e no Centro de Estudos em Logística do Instituto de Pós-Graduação em Administração (CEL/Coppead), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ).

A universidade oferece cursos no setor há 10 anos. O MBA Logística, Operação e Serviços é dividido em três módulos, num total de 360 horas e custo de R$ 18,4 mil, sendo realizado em janeiro, julho e janeiro do ano seguinte. Os de curta duração (dois dias) custam R$ 1,2 mil e R$ 1,45 mil. Todos têm como pré-requisitos que o aluno tenha nível superior e que esteja, de alguma forma, envolvido na operação logística da empresa.

- A procura pelos nossos cursos tem sido grande. O último, de Gerência de Custos, teve 44 alunos e uma sobra de dez pessoas, que entraram para a lista de espera da próxima edição - informa Peter Wanke, pesquisador do CEL.

Treinamento

Desde 1997 que a Coppead tem o curso de Logística Empresarial, que acontece no meio do ano, dura cinco dias e é dirigido apenas a altos executivos. As aulas são dadas no Hotel Portobello, em Angra dos Reis, a um custo de R$ 6,25 mil. Concorrido, o curso de Logística Empresarial, no meio do ano, já tem 38 inscritos, restando apenas mais 17 vagas.

- O interesse pelo curso para altos executivos é explicado pela participação de professores da Michigan State University, o principal centro de pesquisa em logística do mundo - diz Wanke.

A FGV é outro pólo de treinamento em logística. A instituição oferece MBA no Rio e em todo o Brasil, através de convênios com universidades (FGV Management), formando turmas de 30 pessoas, em média. "Nosso MBA é o primeiro do Brasil. O setor de produção já chegou no limite, mas em Recursos Humanos ainda há muito a explorar, por isso, o profissional de hoje tem que ser multidisciplinar. Precisa, portanto, estar habilitado para lidar com todas as questões inerentes à distribuição. Assim, é importante criar projetos para aproximar os fornecedores das fábricas, garantindo redução de despesas", afirmou Renaud Barbosa, coordenador dos cursos da FGV.

A preparação abre o leque de oportunidades de trabalho para o profissional, que pode ser contratado para o departamento de logística de uma empresa ou por firma de consultoria. O carioca Leonardo Zylberman deixou o Rio para ser consultor da Integration Consultoria Empresarial, em São Paulo, que oferece serviços nas áreas de desenvolvimento do mercado; atendimento de demanda; logística e distribuição; infra-estrutura; e gerenciamento de mudança.

- A logística representa um custo altíssimo dentro das empresas, e por esta razão, tem sido vista como a grande oportunidade para reduzir gastos operacionais. É a forma de viabilizar serviços de alta qualidade e confiabilidade - destaca Zylberman.

Experiência anterior

O aprendizado do consultor começou na empresa de confecção da família. De estagiário passou a gerente na área de distribuição. Ciente da carência de profissionais especializados, distribuiu o currículo no mercado e foi contratado para compor a equipe da Integration. O trabalho, ainda considerado novo no Brasil, é promissor. Isto explica o fato de a maioria dos profissionais serem jovens, com idade entre 28 e 35 anos.

A preocupação com logística existe há dez anos nos Estados Unidos mas ainda não ganhou a devida dimensão no País "porque não temos uma cultura de logística. Apesar da estabilidade econômica, o empresário brasileiro concentra 40% a 60% das vendas nos últimos dias do mês para obter descontos. Isso prejudica o planejamento de estoque e a entrega dos produtos. A logística permite definir a quantidade e o momento para fazer a reposição dos produtos, que pode acontecer não necessariamente no fim dos mês", explica Gilberto Sarian, diretor de logística da Integration.

A entrada de empresas internacionais no mercado brasileiro nos últimos dois anos incrementou o campo de trabalho para os profissionais com experiência em logística. A estes coube manter a sintonia entre indústria e varejo. "Quando uma área está com a cabeça no presente e outra área permanece no passado, não é possível estabelecer uma integração", diz.

A experiência de três anos como analista de transportes da Ypiranga foi adquirida na prática pelo engenheiro químico Filipe Silveira Ramos da Cunha. Auto-didata na questão de logística, não dispensa hoje o MBA da Fundação Getúlio Vargas, por excelência, a instituição que mais promove treinamento em logística em todo o País.

- O processo de regulamentação do setor, implementado pelo governo federal, levou as empresas a enxergar a logística como vantagem a ser agregada aos negócios. O fechamento e a abertura de depósitos, a mudança modal dos transportes e a renegociação com transportadoras foram providências que partiram da logística, última fronteira das empresas para proporcionar