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A relação entre família e trabalho

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Por:   •  28/10/2014  •  Resenha  •  1.322 Palavras (6 Páginas)  •  178 Visualizações

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Neste artigo sobre as mudanças na relação família-trabalho, são tratadas conjuntamente as influências recíprocas da estruturação das atividades produtivas e da estruturação das famílias. Considerando a articulação entre produção e reprodução através da divisão sexual do trabalho e a mútua influência entre essas duas esferas, este estudo busca conhecer de que maneiras as transformações nas formas de produção e gestão, que afetam as oportunidades diferenciadas de emprego de homens e de mulheres no mercado de trabalho, nos anos 90, manifestam-se na unidade familiar.

Indaga-se também sobre as alterações da relação família-trabalho relativas às atuais transformações das atividades econômicas e as possíveis conseqüências destas na mudança das relações hierárquicas na família.

Os resultados dessa pesquisa vêm mostrando que ocorreram, na década de 90, mudanças no padrão de incorporação pelo mercado de trabalho e aumento do desemprego, que afetam diferentemente os componentes das famílias, identificados por sua posição no interior destas bem como por gênero e idade. Essas mudanças expressam-se em alterações nos arranjos familiares de inserção no mercado de trabalho, com especificidades observadas nos diferentes momentos do ciclo de vida da família. Os rearranjos de inserção refletem-se, como se verá, inclusive na modificação do peso da contribuição de cada membro do grupo doméstico na composição da renda familiar.

Ainda que este trabalho detenha-se mais especificamente sobre as novas tendências encontradas na relação família-trabalho nos anos 90, os resultados e reflexões aqui apresentados incorporam conhecimento acumulado de três estudos de caso para períodos específicos:

- 1981-83, momento de crise econômica do início dos anos 80;

- 1990-94, intensificação da reestruturação produtiva na Região Metropolitana de São Paulo, sendo que os dois primeiros anos (1990 e 1991) foram de crise econômica e os últimos de início da recuperação sem recuperação do emprego;

- 1997-99, momento em que, sob a reestruturação produtiva, ocorreu nova crise econômica, resultando no recrudescimento do desemprego.1

O primeiro período em que se analisou a relação família-trabalho e sua transformação (1981-83) tem como marcas a crise econômica e o momento de acentuação da entrada da mulher no mercado de trabalho, iniciada na metade da década anterior.2 Foram analisadas a inserção diferenciada dos componentes das famílias no mercado de trabalho e sua mobilização no momento da crise econômica. Procurou-se, através da inserção e da mobilização destes, identificar rearranjos inovadores na relação família-trabalho dominante, indicativos de mudanças na divisão sexual do trabalho na família. Nessa mesma pesquisa, analisou-se outra conjuntura recessiva mais recente (1990-91), com base nos dados da PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), realizada pela Fundação Seade, encontrando-se semelhanças na mobilização dos componentes da família na crise. Entre as semelhanças de mobilização familiar encontradas na comparação entre as crises do início dos anos 80 e do começo da década de 90, a maior inserção da mulher no mercado de trabalho – tanto cônjuges como filhas –, que ocorreu no mesmo momento em que, sob as restrições colocadas por este, cresce o desemprego masculino.3 Esta e outras tendências que se acentuam no período são interpretadas como indicativas de rupturas na possibilidade concreta de realização do padrão de família mantido pelo chefe provedor, especialmente nas conjunturas recessivas. Os resultados de pesquisa ofereceram sustentação para indicar que o processo de mudança na relação família-trabalho põe em questão a figura do provedor, culturalmente atribuída ao chefe da família, expressando possíveis transformações nas relações internas de hierarquia e de poder.

Dessa maneira, a pesquisa sobre o início dos anos 80 detectou processos e suscitou indagações, dando origem aos estudos subseqüentes sobre os anos 90.

No segundo período, 1990-94, as mudanças na relação família-trabalho foram analisadas sob a reestruturação produtiva.4 Em 1990, intensificou-se o processo de inovações produtivas e organizacionais na Região Metropolitana de São Paulo, pioneira nesse processo no Brasil; em 1994, a reestruturação continuou operando e já se tornavam evidentes seus efeitos na deterioração das relações de trabalho e no desemprego. Esse período estudado é relevante por possibilitar apreender aspectos das estratégias de vinculação das famílias ao mercado de trabalho sob o impacto do início da intensificação da reestruturação produtiva.

Buscava-se identificar nesse estudo quais indicações de mudança percebidas no estudo dos anos 80 eram temporárias e quais eram mais duradouras, além dos momentos de conjuntura de crise. Tinha-se por hipótese que, devido ao fato de os anos 80 e o início dos 90 terem sido marcados primordialmente pela conjuntura recessiva (embora com alguns momentos de expansão), as mudanças na relação família e trabalho anteriormente identificadas seriam aceleradas e consolidadas, favorecendo as transformações nas relações internas das famílias.

Quando considerados os anos de 1981 e 1990, verifica-se que os arranjos familiares de inserção no mercado de trabalho eram semelhantes. No entanto, a comparação entre 1990 e 1994 evidencia, para este último ano, rearranjos de inserção com especificidades nos diferentes tipos de família,5 o que, certamente, já expressava os efeitos da

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