Competência Profissional

O Protagonista

Em meio ao feriado prolongado, faço a pausa necessária para hidratar o corpo e o espírito, exauridos da leitura e orientação de tantos trabalhos de conclusão de curso. Os prazos apertados cronometram meu tempo, pois com o doutorado em andamento e os demais compromissos profissionais disputando minhas prioridades sinto o abraço da responsabilidade como um laço estreitando na garganta. Atualmente estamos habituados com isso: trabalho sob pressão e produtividade em curto prazo de tempo. Essa é a linguagem comum das organizações que já se espalhou em qualquer seguimento e nós já incorporamos o ritmo, sem nos assustarmos. Entretanto, não podemos nos deixar guiar pela simples afobação.

A pressa nem sempre é sinônimo de produtividade. Temos que aprender a diferenciar a correria de uma propulsão de força. E essa última também não é digna de todos os profissionais, no entanto. Existem aqueles que sabiamente são capazes de estabelecer, nos momentos de pico que ocorrem diante da avalanche de afazeres, a prudência necessária para refinar o acabamento de sua produção. Conforme afirmei, essa é uma proeza ainda não realizada por todos os profissionais. Uns porque não capazes de criar um espaço na tormenta evolutiva moderna e outros que, por outro lado, ainda se recusam a tomar partido nessa desvairada correria profissional.

Volto ao meu pequeno recreio criativo e penso naqueles que possuem a aptidão de fazer a diferença pelo simples fato de conseguirem ser protagonistas da própria história. Estico da lembrança um comentário de Dustin Hoffman que me fez refletir bastante sobre competência profissional. Numa entrevista para uma revista feminina esse talentoso ator conseguiu redimensionar em minha mente o conceito de saber fazer. Afirmou ele, como amante incondicional de blues, que gostaria de ter sido músico antes de enveredar-se nas artes cênicas, mas percebeu em tempo que no ramo musical seria incapaz de executar com proficiência uma habilidade inquietante que é a de improvisar. Sem isso, assegurou, ele seria apenas mais um entre tantos outros músicos.

Saboreei por muito tempo a preciosidade dessa observação.

Concluí que improvisar é sim um talento que as pessoas precisam desenvolver para conquistar a proeza de fazer o novo acontecer em suas vidas profissionais. O improviso é um método que pode ser aprimorado, tanto quanto deixar o palco no momento correto, abrindo espaço para a apreciação do que foi realizado. Essa é uma técnica cênica de teatro, cinema (deturpada na televisão) e constitui o segredo de algumas das mais requintadas obras literárias. Concordemos: o inesperado faz a diferença.

É uma grande façanha possuir, como uma ferramenta dentro de sua caixa de talentos, a capacidade de improvisar e de ceder espaço para apreciação sendo consciente do que está fazendo. Isso exige preparo, como qualquer outra habilidade que queira aprimorar, pois requer também a capacidade de decidir sobre o que faz a diferença no momento mais oportuno, trazendo para si a responsabilidade de ser o ator principal de suas atividades. Sim, corajosamente, interprete isso como uma provocação de minha parte.

Contudo, asseguro que, antes de se envolver nesse desafio, é necessário refletir se você já conquistou o papel de protagonista de sua própria vida.