O conceito de cultura
Tese: O conceito de cultura. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: sabrinarecreio • 24/11/2013 • Tese • 1.309 Palavras (6 Páginas) • 681 Visualizações
1- O conceito de cultura
O conceito de cultura é uma preocupação intensa atualmente em diversas áreas do pensamento humano, no entanto a Antropologia é a área por excelência de debate sobre esta questão. O primeiro antropólogo a sistematizar o conceito de cultura foi Edward Tylor que, em Primitive Culture, formulou a seguinte definição: “cultura é todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade.”.
Desde sempre os homens se preocuparam em entender por que outros homens possuíam hábitos alimentares, formas de se vestir, de formarem famílias, de acessarem o sagrado de maneiras diferentes das suas. A essa multiplicidade de formas de vida dá-se o nome de diversidade cultural. Contudo, durante foi a partir da descoberta do “Novo Mundo”, nos séculos XV e XVI, que os europeus se depararam com modos de vida completamente distintos dos seus, e passaram a elaborar mais intensamente interpretações sobre esses povos e seus costumes.
É fundamental lembrarmos que o impacto e a estranheza se deram dos dois lados. Os grupos não europeus se espantavam com o ser diferente que chegava até eles desembarcando em suas praias e tomando posse de seu território. Existem relatos de povos que após a morte de um europeu em combate, colocavam seu corpo dentro de um rio e esperavam sua decomposição para ver se eram pessoas como eles. A diferença é que não temos contato com esses relatos dos povos não europeus para conhecermos a visão que eles tinham dos brancos.
2- O olhar eurocêntrico sobre a cultura
Mas de onde surge a preocupação com o tema da cultura? Vamos posicionar nosso olhar. Toda construção científica nasce na Europa. A reflexão teórico-científica sobre a humanidade se iniciou neste ambiente e nesta perspectiva. Logo, a noção de ser humano de referência para todas as Ciências Humanas e Sociais é a do homem europeu e da sociedade européia. No entanto, a partir dos esforços de conquista de outros continentes, os europeus “encontraram-se” com “seres” diferentes o suficiente para causarem estranhamento, mas “parecidos” o suficiente para produzirem o seguinte incômodo: serão estes seres “humanos”?
A relação com agrupamentos humanos de localidades até então desconhecidas como as que hoje denominamos África, América, Austrália, fizeram com que os europeus se questionassem sobre as características peculiares ao humano e as razões de tanta diferença entre os componentes de uma mesma espécie. O movimento pré-científico, que domina o campo da diversidade cultural até o século XVIII, é aquele que oscilava entre conceber o “diferente” ora como humano ora como não humano, provido ou desprovido de alma, bom ou mal selvagem, etc.
Na ótica do “mal selvagem”, estes “humanos” eram vistos como perigosos, mais próximos aos animais, brutos, imbuídos de uma sexualidade descontrolada, primitivos, com uma inteligência restrita, iludidos pela magia, enfim, seres limitados que precisavam ser “civilizados” pela cultura européia. Assim entramos no século XIX. Os antropólogos estudam culturas “exóticas” buscando descrever seus hábitos, costumes e sua forma de ver o mundo (cosmovisão).
No entanto, eles não iam ao campo; não eram os antropólogos que experimentavam diretamente o dia a dia dos grupos “selvagens”. Eram enviados viajantes, pessoas comuns que eram deslocados para essas “tribos” e ali ficavam por um certo tempo, registrando tudo que viam e ouviam, a fim de entregar este material aos antropólogos que aí sim analisavam estes relatos, desenvolvendo suas teorias sobre as diferentes culturas. Esta é a denominada “antropologia de gabinete”.
3- A prática etnográfica
Na segunda metade do século XIX esta “metodologia” é questionada, afinal, como falar sobre uma cultura que nunca se viu? Como descrever eventos que nunca se vivenciou? Assim cunha-se a prática etnográfica que é a metodologia característica da antropologia até os dias de hoje: o próprio antropólogo vai ao campo, entra no grupo, vivencia esta cultura diferente, deixa-se fazer parte deste dia a dia, registra esta vivência, retorna para sua própria cultura e finaliza seu trabalho de escrita que é o registro final desta experiência.
Segundo François Laplantine, em Aprender Antropologia, a prática etnográfica consiste em “impregnar-se dos temas de uma sociedade, de seus ideais, de suas angústias. O etnógrafo é aquele que deve ser capaz de viver nele mesmo a tendência principal da cultura que estuda”. No entanto, não é nada fácil vivenciar uma outra cultura diferente da nossa. Por quê? Não sentimos nossa cultura como uma construção específica de hábitos e costumes: pensamos que nossos hábitos e nossa forma de ver o mundo devem ser os mesmos para todos!
Naturalizamos nossos costumes e achamos o do outro “diferente”. Diferente de quê? Qual é o padrão “normal” segundo o qual analisamos o “diferente”? Geralmente estabelecemos a nossa cultura como o padrão, a norma. Assim, tudo que é diferente é concebido como estranho,
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