Observações Sociais Feitas No Metrô
Por: julia.bento • 20/3/2023 • Artigo • 2.647 Palavras (11 Páginas) • 86 Visualizações
OBSERVAÇÕES SOCIAIS FEITAS NO METRÔ
Julia Bento, Julia Froes, Júlia Vianna, Júlia Portes e Luciana Campos
INTRODUÇÃO
O metrô do Rio de Janeiro é um dos meios de transportes mais populares e rápidos da cidade, pois existem 41 estações e 56,5 quilômetros de trilhos e, por isso, engloba grande parte das regiões cariocas. Sendo o segundo maior sistema de metrô do Brasil e ficando atrás apenas de São Paulo, tem em média 880 mil passageiros por dia distribuídos pelas três linhas existentes: Linha 1- Uruguai, linha 2- Pavuna e linha 4- Jardim Oceânico.
O transporte coletivo foi inaugurado em março de 1979 com cinco estações: Cinelândia, Central, Praça Onze, Presidente Vargas e Glória, que representavam a linha 1. Com 10 dias de funcionamento, atingiu um total de meio milhão de passageiros e, desde então, tem uma movimentação em massa.
Mas por que as pessoas utilizam tanto o metrô? Por meio de entrevistas e observações, foi possível analisar o cotidiano dos passageiros repleto de experiências positivas e negativas. Relatos de cidadãos que utilizam e trabalham nesse meio de locomoção com diversas intenções moldam o cenário do MetrôRio.
Por que escolheram essa locomotiva? Optamos por esse meio de transporte,pois nós o usamos cotidianamente para ir e voltar da faculdade e porque é a principal locomotiva que circula pelas zonas cariocas, englobando grande parte da população. Com isso, assuntos diversos são sempre muito discutidos sob os trilhos e fora deles. Desse modo, através das nossas pesquisas, vivenciamos relatos sobre preconceito, diversidade, luta de classes, oportunidades de trabalho, entre outros.
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Foto por: Luciana Campos
DIVERSIDADE (ou falta de) SOB TRILHOS
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Foto por: Julia Froes
Frequentado por pessoas de diferentes realidades, a diversidade do MetrôRio vai além das particularidades dos indivíduos, atingindo também as linhas existentes e distintas entre si. Dessa maneira, na estação Botafogo/ Coca-Cola, entrevistamos o saxofonista André Coelho e perguntamos sobre os diferentes estilos musicais que ele escolhe tocar. O profissional alegou que a sua arte é representada de diferentes maneiras em cada linha, devido aos diversos gostos dos passageiros. “Por exemplo, na linha que vai para Pavuna, linha 2, eu normalmente toco louvor e, na linha que vai para a estação Jardim Oceânico, linha 4, normalmente é a música popular brasileira”, afirmou. E com isso, observamos que os artistas do metrô, além de mostrar a sua habilidade, também pensam em qual é o seu público-alvo e, a partir desse raciocínio, tocam/cantam o que acreditam ser de potencial lucrativo.
Embora as linhas despertem diferentes maneiras para os artistas se expressarem, eles são a todo momento colocados em desafios. Quando entrevistamos André, o músico nos informou que eles vivem uma relação conflituosa com os seguranças do local, devido ao fato de os funcionários do sistema metroviário serem obrigados a retirá-los do vagão quando os encontram. Essa situação dificulta o trabalho dos artistas, pois eles precisam parar a apresentação e, com isso, não ganham o seu lucro.
Outra luta constante que eles enfrentam é o preconceito diário que sofrem pelos passageiros do MetrôRio. Ao sairmos para buscarmos respostas para esse problema, encontramos o violinista Daniel Augusto na estação de Botafogo/Coca-cola. Ao ser perguntado quais eram as dificuldades que eles enfrentavam todos os dias nas estações, ele logo afirmou:
“Existe um certo preconceito da parte do pessoal mais elitizado, que olha para os artistas de rua, e os marginalizam com olhares de julgamento e agem como se a gente fosse vagabundo”.
Daniel volta a dizer que o intuito deles é trazer alegria para os viajantes, mas que atitudes como essa afetam o trabalho deles e causam constrangimento.
“Não é uma boa energia, se eu preciso me expressar, se a minha música é um sentimento e eu acabo de passar por uma situação como essa, a arte vira algo técnico, não consigo depositar amor”.
Com essa entrevista, nós percebemos que eles sofrem muita intolerância social por trabalharem mostrando o talento deles e são julgados porque existem pessoas que não consideram o que os artistas dos vagões fazem como um emprego digno.
No sistema metroviário, a luta de classes - originada a partir da teoria do sociólogo alemão Karl Marx - está muito presente no dia a dia. Com o aumento de R$0,70 centavos das passagens, muitas críticas sociais foram publicadas pelos internautas, que colocaram o assunto em primeiro lugar dos trending topics do Twitter. Através do cálculo e considerando que uma pessoa vai e volta de metrô durante 22 dias úteis, representa um gasto de 286,00 reais mensais, equivalente a 23% do valor do salário mínimo. Com esse dado, mostramos que essa quantia é significativa para esse público - majoritariamente popular -, o que impacta financeiramente a vida do indivíduo, pois sobra 77% para os demais gastos necessários.
RESPEITO É BOM E TODOS GOSTAM
Vagão feminino
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Foto por: Julia Bento
Infelizmente existem mais constrangimentos nos trilhos do Rio de Janeiro. Em meio às inúmeras dificuldades, a realidade das mulheres nunca poderia deixar de ser um caso à parte, nem mesmo dentro dos vagões do metrô. Em horários de grande movimento, o espaço dentro do meio de transporte é quase inexistente, o que aumenta as chances de casos de assédio sexual. Por isso, em 2017, o governo carioca emitiu um decreto (46.072/17) que regulamenta a garantia do vagão exclusivo para mulheres em trens e metrôs, criada em 2006. Atualmente, existem 3 vagões destinados ao público feminino, que funcionam em dias úteis de 6h às 9h e de 17h às 20h. As linhas rosas no chão das plataformas indicam onde o vagão especial fica localizado para que as passageiras possam esperar no local correto.
A estudante de Publicidade e Propaganda, Emanuelle Lyrio, escolhe sempre viajar no vagão rosa e, ao nos conceder uma entrevista na estação da Glória, afirmou que mesmo que a viagem seja desconfortável em horários de grande movimento, pela quantidade grande de passageiros, o sentimento de medo e as chances de assédio diminuem sem a presença de pessoas do sexo oposto. Ela relatou:
“Eu pego o metrô durante o horário de pico, sempre pelas manhãs, e eu não me sentiria bem sendo imprensada por homens, mesmo que, às vezes, o vagão feminino esteja ainda mais cheio que os normais. As mulheres se respeitam!”
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