A Insubordinação Fundadora - Marcelo Gullo
Por: Isabela Mattos • 3/12/2018 • Trabalho acadêmico • 3.205 Palavras (13 Páginas) • 328 Visualizações
UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí
Escola de Ciências Jurídicas e Sociais
Curso de Relações Internacionais
Disciplina: Geopolítica
Professor: Msc. Paulo Jonas Grando
Acadêmica: Isabela Mattos
TRABALHO PARA COMPOSIÇÃO DA M3
1) No capítulo 09, novos atores e novos desafios para o cenário internacional Gullo resgata os conceitos de Império e de Multidão de Antônio Negri e Michael Hardt. Qual é definição destes conceitos conforme os autores que são citados e qual é a interpretação e a crítica que o nosso autor faz destes conceitos?
No início do capítulo 9, Marcelo Gullo resgata os conceitos de Império e Multidão dos autores Antônio Negri e Michael Hardt. Para esses autores, o Império é uma nova forma de ordem global, um poder em rede, que emerge hoje e que inclui como elementos principais nós os Estados-nação, junto com as instituições supranacionais, as principais corporações capitalistas e outros poderes. Para eles, na rede do Império, nem todos os poderes são iguais. Mas, apesar das desigualdades, se veem obrigados a cooperar para criar e manter a ordem global atual, com todas as suas divisões e hierarquias internas.
Nessa nova ordem global, nenhum Estado-nação pode se constituir no centro de um projeto imperialista. Ambos autores consideram que o imperialismo acabou porque nem sequer o mais poderoso nos Estados, os Estados Unidos, pode “manter a ordem global” por conta própria, sem colaborar com as principais potências da rede do império.
No interior do próprio Império, há o surgimento de um novo sujeito social: a Multidão. Para Hardt e Negri, a multidão é plural, e se compõe de inumeráveis diferenças internas que nunca poderão ser reduzidas a uma identidade única. E também, Multidão exige uma sociedade global democrática aberta e inclusiva. Na Multidão, todas as diferenças podem ser expressas de um modo livre e equitativo. Para Negri, as forças progressistas devem trabalhar na construção do “projeto multidão”.
Voltando a Gullo, o autor nos traz a sua interpretação e crítica aos conceitos citados acima por Hardt e Negri. Para Gullo, a categoria de Império já era uma realidade evidente desde a primeira etapa do processo globalizador (e não na última etapa da globalização, como afirmam Hardt e Negri). Gullo afirma que na obra de Negri há uma superestimação do papel representado pelos Estados desde a Paz da Vestfália até a etapa que nós denominamos “terceira globalização”. E que também há uma subestimação do papel dos Estados no atual cenário internacional. Então, para Gullo, Império não é uma novidade.
O erro da “superestimação” do papel representado pelos Estados-nação europeus, depois da Paz da Vestfália, torna obscuro o fato de que o Império — o qual Gullo gosta de denominar como uma “estrutura hegemônica de poder mundial” — já era uma realidade evidente desde o começo do processo de globalização.
Continuando a análise de Gullo sobre o conceito de Multidão, quando se pensa na China ou no mundo islâmico, vem rapidamente à nossa mente o fato de que a ideia de “multidão” de Hardt e Negri corresponde à de sociedade ocidental com pequenos núcleos “ocidentalizados” do mundo islâmico e asiático, pois, para Gullo, dificilmente o habitante comum da China, por exemplo, pode se identificar com a “multidão”, tal como entende Negri. Ou que a população islâmica, do Marrocos à Indonésia, entenda a democracia, conceitualmente, da mesma forma que a população do México ou da Alemanha.
Ou seja, no entendimento de Gullo, o “sujeito social” prevalecente na Índia, no Paquistão, na China, na Indonésia, parece ser o “povo”, e não a “multidão”, e continuará por muito tempo assim, pois produzir o “comum” entre esses indivíduos parece muito difícil.
2) No mesmo capítulo 09, Gullo diz que o poder paira de novo sobre a Ásia. Quais são os argumentos que ele produz para afirmar este aspecto?
Gullo faz um apanhado histórico relembrando ao leitor de que, muitos e muitos anos atrás, as principais potências políticas e econômicas do mundo não eram europeias. A mais importante potência na época era o Império Chinês, com a sua dimensão territorial, sua enorme população e seu desenvolvimento na produção manufatureira e artesanal. A China era a principal potência militar do mundo. Também estava a frente quanto ao avanço tecnológico da época. Em matéria de infraestrutura, a China era, possivelmente, a região mais desenvolvida do mundo.
Além da China, a Ásia abrigava outras importantes potências políticas e econômicas. Como por exemplo, a Índia, que contava com um desenvolvimento industrial não inferior ao da China, ou a Pérsia, que era considerada a segunda potência islâmica, com o renascimento importantíssimo tanto de seu poder político, como de seu comércio, sua indústria, sua arte e sua arquitetura e o Império Turco Otomano, que era a maior potência islâmica. Ou seja, o centro do poder mundial estava na Ásia. Porém, com o início das navegações e os descobrimentos pela Europa ocidental, começou uma transformação no mapa geopolítico do mundo. O centro do poder mundial pulou do coração do Império Chinês para a Península Ibérica, depois se instalou um tempo na Inglaterra e finalmente na América do Norte.
Desde o início do primeiro período da globalização, o poder abandonou a Ásia. Porém, não é o que vem acontecendo nos dias atuais. Gullo cita Arnold Toynbee, que percebeu: “estamos entrando em uma nova idade, na qual o meio físico do tráfego humano já não vai ser a estepe nem o oceano, mas o ar, e em uma era aérea, a humanidade pode conseguir a libertação de sua atadura juvenil à configuração caprichosa da superfície do globo. Em uma era aérea, a posição do centro de gravidade dos assuntos humanos pode ser determinada pela geografia humana, e não pela física; não pela disposição dos oceanos e mares, estepes e desertos, rios e cadeias de montanhas, passagens e estreitos, mas pela distribuição das massas, energia, habilidade, conhecimento e caráter humanos. E, entre estes fatores humanos, a gravitação das massas pode chegar a ser maior que a sua influência no passado”. E com isso, hoje pode-se afirmar que o poder paira, novamente, sobre a Ásia.
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