Resenha Filme Ele Está de Volta
Por: GiGuedesAmorim • 12/11/2018 • Resenha • 1.569 Palavras (7 Páginas) • 844 Visualizações
Instituição de ensino: Universidade Anhembi Morumbi Disciplina: História das Relações Internacionais Contemporâneas Docente: Guilherme Augusto Guimarães Ferreira Discente: Giovanna Guedes Amorim
Resenha crítica do filme Ele Está de Volta
Título: Ele Está de Volta. Título original: Er Ist Wieder Da. Diretor: David Wnendt. País de origem: Alemanha. Data de lançamento: 8 de outubro de 2015 (1h 56min).
O filme Ele Está de Volta (2015), dirigido por David Wnendt, conta sobre uma possível volta de Adolf Hitler no século XX, na Alemanha, e mostra como as pessoas encaram esse fato junto às reações diversas frente a atual situação do país, sempre encaminhadas para respostas extremas e conservadoras, convergindo às ideias hitlerianas. O ano é 2014 e Hitler reaparece em seu Führerbunker, mesmo lugar onde teria, supostamente, cometido suicídio. Ao se localizar no tempo lendo a data de um jornal, ele se dá conta que a guerra acabou, seu partido não existe mais e fica surpreso com a existência da Polônia “e ainda em território alemão!”, passando a analisar as consequências pós 1945 para si mesmo e para o povo alemão. O Führer então conhece Fabian Sawatski, um produtor recém-desempregado, que enxerga nessa figura icônica e carismática uma chance de voltar para a antiga emissora onde trabalhava. Os dois embarcam em um tour por toda Alemanha e gravam tudo de uma forma documentada, onde aparecem cenas reais da interação de Hitler com o público. Um dos pontos máximos do filme é marcado por uma frase dita pelo líder que expressa bem o sentimento dos alemães para com seu país “O povo estava calado, mas com raiva”. Em um primeiro contato, um homem diz ser a favor dos campos de concentração e que ajudaria para que eles voltassem, reproduzindo assim uma legitimidade pelas massas “... o fascismo existia mobilizando massas de baixo para cima.” (HOBSBAWM, 1994, p. 97). O enredo do filme vai se passando pelos mais distintos lugares, encontrando as mais distintas pessoas que em sua maioria têm as mesmas reações. Em um bar, Hitler se encontra com um grupo de homens que expressam abertamente a aversão ao “povo barbudo”, para eles “são meio suspeitos, deveriam mandar todos embora. Esses muçulmanos, que saiam todos daqui!” demonstrando o elemento societal do fascismo, a ideologia ultranacionalista da composição da nação. Posteriormente, ele cita a mistura de raças entre cachorros fazendo uma alusão à mistura entre alemães e outros povos, onde facilmente consegue a concordância de uma mulher. Esses ideais xenofóbicos começam a surgir no fim do século XIX, onde o racismo e a proteção do “puro” contra a “contaminação” tornaram-se comum (HOBSBAWM, 1994, p. 98). Hitler, em certo ponto, se deslumbra com o avanço da tecnologia e a criação da TV que para ele é “uma oportunidade incrível de divulgação” e percebe a chance que tem em mãos para um possível Quarto Reich. Segundo Lenharo (1986)
“... assim esses métodos de propaganda foram, até certo ponto pelo menos, muito eficazes para convencer parte significativa do povo alemão. A objetividade e a simplicidade foram as principais características da propaganda nazista, além dos apelos ao orgulho ferido do povo alemão. Tudo interessa no jogo da propaganda, sejam mentiras ou calúnias, o importante era conquistar as massas.” (Apud II ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS DA IMAGEM, 2009)
Neste momento ele se torna parte de todos os programas da emissora onde Sawatski volta a trabalhar, passando a divulgar e falar livremente sobre seus planos e seus próximos passos na política. A (re) aproximação de Hitler com o povo é, também, chave central no filme e assim como aconteceu em 1933, com a ascensão do Führer e a indiferença do povo, a história parece se repetir em 2014. A figura do ditador, desde o primeiro momento, não causa qualquer tipo de ameaça para as pessoas e apesar de o enxergam como um personagem de puro entretenimento elas sabem, no fundo, sobre os “estigmas do passado”. Porém, no instante em que ele vai para as ruas, consegue confirmar essa raiva contida na população e o retorno não poderia ser outro se não a disseminação de comentários extremistas, de cunho racista, intolerante e xenofóbico. Para ele “este é um bom material de trabalho”, ou seja, uma sociedade revoltada com a situação atual do país, uma mídia leviana, partidos não representativos, tudo isso somado ao que o líder chama de “analfabetismo político” o levará de volta ao poder. Como explica Hobsbawm (1994, p. 104) “As condições ideais para o triunfo da ultradireita alucinada eram um Estado velho, com seus mecanismos dirigentes não mais funcionando; uma massa de cidadãos desencantados, desorientados e descontentes, não mais sabendo a quem ser leais...”. Com uma cena marcante, o filme se encerra com uma conversa entre Hitler e Sawatski, que acabara de descobrir que aquela figura não é um simples personagem, mas sim o verdadeiro líder do partido nazista, que sem saber o motivo, reapareceu no século XXI. “Você sabe porquê as pessoas me seguem?” pergunta Hitler, “porque, no fundo, elas são como eu” completa. Esta frase explica de forma objetiva qual mensagem o filme quer passar. Com um enredo que mistura a realidade e a ficção, um lado do líder mais cômico e que ama animais e pinturas, a obra cinematográfica nos mostra que, apesar da história alemã viver sob os fantasmas do passado, o sentimento reacionário ainda assombra e não precisou de muito para deixar isso nítido, bastou uma simples figura aparecer e disseminar seus ideais para que o Hitler que habita dentro de cada um dos cidadãos revivesse junto com o ódio, patriotismo e preconceito. E com uma das últimas e mais impactantes frases, Hitler finaliza “jamais conseguirão me matar porque eu faço parte de cada um de vocês”.
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