BRESSER PEREIRA
Pesquisas Acadêmicas: BRESSER PEREIRA. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: economia • 13/4/2013 • 1.437 Palavras (6 Páginas) • 573 Visualizações
AGrande Crise Econômica dos Anos 80 reduziu a taxa de
crescimento dos países centrais à metade do que foram nos
vinte anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, levou
os países em desenvolvimento a terem sua renda por
habitante estagnada por 15 anos, e implicou no colapso dos regimes
estatistas do bloco soviético. Quando dizemos que esta Grande Crise
teve como causa fundamental a crise do Estado - uma crise fiscal do
Estado, uma crise do modo de intervenção do Estado no econômico e
no social, e uma crise da forma burocrática de administrar o Estado -
está pressuposto que o Estado, além de garantir a ordem interna, a
estabilidade da moeda e o funcionamento dos mercados, tem um papel
fundamental de coordenação econômica.
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Ou, em outras palavras,
está implícito que a coordenação do sistema econômico no capitalismo
contemporâneo é, de fato, realizada não apenas pelo mercado, como
quer o neoliberalismo conservador de alguns notáveis economistas
neoclássicos,
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mas também pelo Estado: o primeiro coordena a
economia através de trocas, o segundo, através de transferências para
os setores que o mercado não logra remunerar adequadamente
segundo o julgamento político da sociedade. Assim, quando há uma
crise importante no sistema, sua origem deverá ser encontrada ou no
mercado, ou no Estado. A Grande Depressão dos anos 30 decorreu
do mal funcionamento do mercado, a Grande Crise dos anos 80, do
colapso do Estado Social do século vinte.
O mercado é o mecanismo de alocação eficiente de recursos
por excelência, mas mesmo nesta tarefa sua ação deixa muitas vezes
a desejar, dada não apenas a formação de monopólios, mas
1 - Examinei inicialmente a crise do Estado em O Caráter Cíclico da Intervenção Estatal (1988) e nos ensaios publicados em A
Crise do Estado (1991).
2 - Refiro-me a economistas como Friedrick Hayek, Milton Friedman, James Buchanan, Mancur Olson e Anne Krueger.
Crise e Reforma10
principalmente a existência de economias externas que escapam ao
mecanismo dos preços. O Estado moderno, por sua vez, é anterior ao
mercado, na medida em que Hobbes e o contrato social precedem
Adam Smith e o princípio individualista de que, se cada um defender
seu próprio interesse, o interesse coletivo estará garantido através da
concorrência no mercado. O Estado moderno é anterior ao mercado
capitalista porque é o Estado que garantirá os direitos de propriedade
e a execução dos contratos, sem o que o mercado não poderá se
constituir. Mas é também contemporâneo e concorrente do mercado,
porque cabe a ele o papel permanente de orientar a distribuição da
renda, seja concentrando-a nas mãos dos capitalistas nos períodos de
acumulação primitiva, seja distribuindo-a para os mais pobres, de
forma a viabilizar a emergência de sociedades civilizadas e modernas,
que, além de ricas, demonstraram ser
razoavelmente eqüitativas.
A grande crise dos anos 30 originou-
se no mal funcionamento do mercado.
Conforme Keynes tão bem verificou, o
mercado livre levou as economias
capitalistas à insuficiência crônica da
demanda agregada. Em conseqüência
entrou também em crise o Estado Liberal,
dando lugar à emergência do Estado Social-
Burocrático: social porque assume o papel
de garantir os direitos sociais e o pleno-emprego; burocrático, porque
o faz através da contratação direta de burocratas. Reconhecia-se, assim,
o papel complementar do Estado no plano econômico e social. Foi
assim que surgiram o Estado do Bem-Estar nos países desenvolvidos
e o Estado Desenvolvimentista e Protecionista nos países em
desenvolvimento. Foi também a partir dessa crise que surgiu o Estado
Soviético na Rússia transformada em União Soviética e depois em
boa parte do mundo - um Estado que tentou ignorar a distinção
essencial entre ele próprio e a sociedade civil, ao pretender substituir
o mercado ao invés de complementá-lo.
Esta distorção, que alcançou sua forma limite na União Soviética,
decorreu da superestimação do papel da classe média burocrática na
gestão dos sistemas econômicos contemporâneos. Com a emergência
das grandes empresas e do grande Estado, ou mais amplamente, das
grandes organizações públicas e privadas, o capitalismo deixou, neste
século,
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