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Geopolitica

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Por:   •  15/4/2013  •  1.433 Palavras (6 Páginas)  •  1.219 Visualizações

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A CRISE DA GEOPOLÍTICA CLÁSSICA

*José William Vesentini

A partir do final da Segunda Guerra Mundial, a geopolítica ingressou numa crise, ou seja, numa fase de questionamentos e inclusive de esgotamento de seus pressupostos fundamentais. Primeiramente, até meados da década de 197-, ela viveu numa espécie de ostracismo, pois os vencedores a identificavam com os vencidos (o fascismo italiano, a política expansionista do Japão de antes da guerra e especialmente o nazismo alemão) e praticá-la ou mesmo escrever sobre ela (a não se que fosse para criticar veementemente) passou a ser algo não recomendável ou mesmo banido do mundo acadêmico e científico. É lógico que determinadas “escolas geopolíticas”, como no Brasil, no Chile ou na Argentina, continuaram a produzir a todo o vapor – e muitas vezes até suas ideias serviam de base para políticas territoriais de seus Estados. Mas elas eram periféricas, existiam à margem das universidades e foram praticamente ignoradas no centro do mundo capitalista e mesmo na antiga superpotência socialista. Nos Estados centrais os pensadores que teorizavam sobre o equilíbrio mundial ou regional de forças, algo importante naquele período de guerra fria e corrida armamentista, eram considerados (e consideravam-se) como estrategistas militares, principalmente, ou às vezes cientistas políticos, geógrafos ou sociólogos, mas nunca geopolíticos; eles muito raramente mencionavam a geopolítica clássica, a não ser para mostrar a sua falácia ou obsolescência.

A partir de meados da década de 1970, todavia, a geopolítica volta à ordem do dia, só que agora renovada: não mais ideias pragmáticas sobre o poder marítimo versus o poder terrestre, ou sobre a heartland, ou mesmo sobre as condições para um determinado Estado tornar-se potência mundial (algo que parecia já “resolvido” naquele período das duas superpotências), e sim teorias a respeito do embate entra capitalismo e socialismo, da guerra fria e a sua lógica, das perspectivas de uma terceira guerra mundial.

Provavelmente o pontapé inicial nessa “retomada da geopolítica” foi dado por Yves Lacoste e seu grupo, reunidos em torno da revista Herodote – Revista de geografia e de geopolítica, cujo primeiro número foi editado em 1976, e logo se transformou no mais importante periódico geográfico acadêmico da França. Também nos EUA essa proposta de se fazer uma “geopolítica crítica” foi adotada em alguns meios acadêmicos e originou várias pesquisas, ensaios e livros.

A bem da verdade, foi sobretudo a conjuntura internacional dos anos 70 e 80 – e nãoapenas a iniciativa isolada de tal ou qual pessoa ou grupo – que impulsionou essa retomada dos estudos geopolíticos. Era uma época em que se pensava seriamente no holocausto nuclear, na terceira guerra mundial. A corrida armamentista atingia cifras astronômicas no período – os gastos mundiais com armamentos alcançavam por volta de oitocentos bilhões até um trilhão de dólares por ano nessas décadas. Logo, pensar a guerra (ou opor-se) tornou-se uma necessidade imperiosa para os movimentos sociais, as instituições de pesquisas e os intelectuais em geral. Naquele período não era possível refletir sobre o futuro da humanidade – ou mesmo sobre os ideais socialistas, por exemplo – sem se defrontar com a questão da guerra. Além disso, passadas três décadas do final da Segunda Guerra Mundial, as feridas já estavam em grande parte cicatrizadas – ou seja, aquela geração que vivenciou a guerra e que tinha, com motivos pertinentes, sérios ressentimentos conta a geopolitik alemã, já não se encontrava mais em posições de mando na vida política ou no mundo acadêmico –, o que significa que, em meados dos anos 70, retomar a geopolítica não era mais algo considerado impróprio ou até perigoso, tal como tinha sido nos anos 50. E logo a seguir, com as mudanças radicais ocorridas entre 1989 a 1991 – a crise do “mundo socialista”, o final da União Soviética e as redefinições no mapa-múndi –, indagar a respeito da nova ordem mundial – e, consequentemente, a respeito de quem vai dominar o século XXI, qual é ou quais são ou serão as novas grandes potências, como ocorre o exercício do poder no planeta etc. – impôs-se como um novo e importante objeto de pesquisas e reflexões.

Mas se o rótulo de geopolítica foi retomado, pelo menos por alguns, os métodos e os pressupostos fundamentais dos geopolíticos considerados clássicos foram deixados de lado. Isso porque a realidade mudou e não é mais possível explicá-la, se é que alguma vez foi, pelo enfoque clássico. Na época da globalização e progressivo enfraquecimento dos Estados Nacionais, de revolução técnico-científica e seus efeitos sobre o poderio (inclusive militar) de cada Estado, aqueles pressupostos fundamentais caducaram. Veja-se, por exemplo, a questão do que seria hoje uma “grande potência mundial”, justamente o tema privilegiado do pensamento geopolítico. De acordo com os autores clássicos e seus seguidores, inclusive a “escola geopolítica brasileira”, que teve grande importância no país durante muitas décadas, uma grande potência seria um Estado com uma população e principalmente um território enormes e uma ótima capacidade militar (o que incluiria soldados, armamentos e estratégia). Mas os países que seguiram essa via nas últimas décadas apenas desperdiçaram inutilmente recursos, e isso por vários motivos.

Em primeiro lugar, a corrida armamentista do pós-guerra até a década de 1980 – que, no limite, implicava

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