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O Wahhabismo no Século 21

Por:   •  27/9/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.690 Palavras (7 Páginas)  •  147 Visualizações

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Wahhabismo no século XXI

        Após o término da guerra fria, o mundo ocidental passou a conviver com uma constante ameaça terrorista oriunda, principalmente, do Oriente Médio. Essa ameaça agravou-se, sobretudo, após os atentados de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos da América e gerou diversos conflitos pelo mundo islâmico. Tais conflitos ocorreram com objetivo primário de aniquilar grupos terroristas como o Al-Qaeda, o Boko Haram, e mais recentemente o Estado Islâmico que foram os responsáveis pelos principais ataques terroristas no ocidente e também no Mundo Islâmico. Todos esses grupos têm, além de origens análogas, pensamentos muito próximos sobre como os muçulmanos devem viver baseando-se na Sharia (Direito Islâmico) e nas Hadiths (Leis baseadas na vida de Maomé). Além disso, todos eles rejeitam a modernidade e culpam os povos ocidentais pela modernização dos estados Árabes. Essa corrente Islâmica compartilhada por esses grupos é conhecida como Wahhabismo.

        O Wahhabismo surge no século XVIII na porção central da península arábica. O nome dessa seita islâmica deriva do nome de Muhammad al-Wahhab que era líder do movimento de purificação do Islamismo, que pregava a unicidade de Alá e, principalmente, o fim de novos costumes que eram incompatíveis com a fé islâmica tradicional. Foi em vida que Muhammad viu sua corrente crescer, ele arranjou um casamento entre a própria filha e Muhammad Bin Saud em troca de sua lealdade e pela propagação do Wahhabismo. Pouco tempo depois o Wahhabismo já havia se espalhado por toda península árabe, e, mesmo com as consecutivas derrotas para Turcos e Egípcios, o Wahhabismo já possuía uma consolidada base de fiéis no Nejd. Em 1902, porém, a primeira grande vitória ocorreu com a retomada da cidade de Riad pela família Saud (Que por sinal é, até hoje, a capital do país) e desde então os Wahhabitas possuem o controle de um imponente Estado: a Arábia Saudita.

        Mas como o Wahhabismo se caracteriza no século XXI? O Wahhabismo ainda age por meio da família Saud, mas não mais apenas por ela. Durante séculos houve tentativas saudistas de espalhar as crenças de Wahhab tanto pela península arábica, tanto pelo mundo árabe, entretanto o máximo alcançado foram pequenos povoados Wahhabitas. Contudo, essas minorias conseguiram forte poder persuasivo em seus territórios e obtiveram vários seguidores que fizeram crescer os planos para um Jihad contra o Ocidente. Tais minorias tornaram-se grupos terroristas poderosos tais como o Estado Islâmico e o Boko Haram que, apesar de se autodeclararem Wahhabitas, não se alinharam com o governo Saudita. Isso se deve ao fato de que, atualmente, o governo do país árabe encontra-se associado aos Estados Unidos da América que, para esses grupos terroristas, ocasionou o caos no Oriente Médio. Por conseguinte, por mais que ambos possuíssem em teoria o mesmo pensamento social sobre as populações islâmicas, os grupos terroristas e o governo Saudita tornaram-se inimigos declarados, mas apenas na mídia. Segundo matéria do Jornal IBTimes (Mukhopadhyay, S. WikiLeaks Publishes More Documents Revealing Saudi Connection Against Syria And United States. IBTimes. 19 de jun. de 2015. Disponível em: https://www.ibtimes.com/wikileaks-publishes-more-documents-revealing-saudi-connection-against-syria-united-1988251) o site WikiLeaks vazou documentos informando que desde 2012 os Sauditas (Com supervisão da OTAN) vêm financiando ativamente a luta do ISIS contra o regime Sírio, todavia, após 2015 o governo vêm punindo com a morte integrantes do ISIS. Isso se mostra como uma medida em contrapartida a mídia mundial que acusara o país de apoio aos terroristas.

        Nada obstante, ocorreram diversas mudanças no cenário internacional desde que Mohammad Bin Salman, príncipe herdeiro Saudita, apresentou ao mundo o plano “Visão Arábia 2030”. Nesse plano há ideias de uma modernização legal, institucional, cultural e estrutural no país. Essa modernização do país obviamente não foi muito bem quista pelos grupos terroristas Wahhabitas e até mesmo pela própria família Saud que vê no futuro herdeiro o fim do Wahhabismo no país. Várias polêmicas surgiram nos últimos anos e continuam a surgir. A primeira dessas polêmicas surgiu em Meca no ano de 2012 com a finalização da Torre do relógio de Meca que se localiza logo a frente da Grande Mesquita de Meca. Essa construção de mais de 600 metros de altura não agradou seguidores do Wahhabismo, pois, segundo eles, era um símbolo do modernismo que chegara as portas do local mais sagrado do Islã. Logo após a finalização da construção do Arranha céu muitas outras obras vêm sendo planejadas por todo o país, o que vêm irritando cada vez mais seguidores do dos grupos terroristas no país. A segunda polêmica aconteceu mais recentemente e ação direta do próprio Bin Salman de liberar que mulheres possam dirigir no país legalmente. Essa medida irritou mais ainda as populações Wahhabitas Sauditas que consideraram o Príncipe herdeiro um traidor da pátria por trair a tradição islâmica pregada pela própria dinastia Saud.

        Infelizmente para Bin Salman as coisas não terminaram bem. O processo de modernização do plano “Visão Arábia 2030” ganhou vários opositores Wahhabitas e perdeu apoiadores após as recentes denúncias de que ele foi o mandatário do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi na embaixada Saudita na Turquia. O homicídio do jornalista foi visto internacionalmente como uma caça aos opositores do Governo, visto que Jamal era opositor da família Saud. Isso tornou cada vez mais difícil que Bin Salman continue com os planos de modernização do país, visto que seus apoiadores internacionais desistiram de fazer investimentos em planos feitos pelo príncipe Saudita. O assassinato de Jamal, que tinha por pressuposto a manutenção do poder do príncipe herdeiro, com isto, se torna o contrario do que era imaginado pelo sucessor Saudita. Agora, ele perdeu o apoio Wahhabita e também o apoio internacional que guiava parte dos investimentos necessários para a “Visão Arábia 2030”. Isso faz com que o governo Saudita comece a perder suas bases de sustentação, já que, segundo Peter Demant, (2004, p.349)

O Fundamentalismo Wahhabita [...] não preconiza a secularização, mas, ao contrário, origina-se em grupos que consideram o regime atual corrupto e não suficientemente religioso. A Arábia Saudita constitui sem dúvida um caso à parte: sociedade atrasada socialmente se comparada ao Crescente Fértil, ela conseguiu reproduzir sua estrutura tribal e manter seu regime absolutista familiar graças ao apoio externo.

        O século XXI, entretanto, é marcado por um forte crescimento do Jihad Wahhabita, como, por exemplo, o Boko Haram e o ISIS. O Boko Haram surge no norte da Nigéria em 2002 e desde então vêm atuando fortemente contra comunidades cristãs e a favor da Sharia por toda a região. Um desses atentados cometidos pelo grupo envolve diretamente o pensamento Wahhabita, o sequestro de um grupo de meninas em fase escolar corresponde diretamente aos conceitos da facção em que meninas são proibidas de estudar e são obrigadas a trabalhar para o sustento das tribos, o que se assemelha muito com a sociedade Saudita em que as mulheres apenas passaram a ter direitos básicos recentemente. Outro ato terrorista cometido na mesma época foi o ataque a igrejas católicas durante as celebrações da missa do galo, que é a manifestação de outra crença Wahhabita (Que também ocorre no Estado Saudita) de que o islã é a única religião possível.

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