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Os Bestializados

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Por:   •  14/7/2014  •  1.184 Palavras (5 Páginas)  •  651 Visualizações

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“Os Bestializados. O Rio de Janeiro e a república que não foi”

José Murilo de Carvalho

O livro traz à tona a discussão acerca do período Republicano na cidade do Rio de Janeiro, capital do Brasil na época, sendo a maior cidade do país com mais de 500 mil habitantes, e considerada também como a capital econômica, política e cultural. E que estava em condições, pelo menos em tese, de ser um terreno propício para o desenvolvimento da cidadania. Sendo assim, com as mudanças que vinham fermentando desde o Império e que culminaram com a abolição da escravidão em 1888 e com a proclamação da República em 1889, por que razão a República capitalizou e remodelou cidades, mas não permitiu que se formassem cidadãos, boicotando deliberadamente as possibilidades de consolidação da cidadania? José Murilo disserta sobre o problema do relacionamento entre o povo (cidadão) e o Estado, o cidadão e o sistema político, o cidadão e a própria atividade política.

O título que José Murilo de Carvalho concedeu ao livro que traz um panorama de ressignificações políticas, sociais e culturais no contexto histórico da jovem República brasileira faz alusão à citação de Aristides Lobo, que indica que o povo assistiu a mudança de regime bestializado”. Se utilizando de diversas fontes, ele nos traz uma narrativa da história que parte da perspectiva do povo carioca.

No primeiro capítulo, “o Rio de Janeiro e a Rapública” apresentam-se as mudanças que ocorrem decorrentes da proclamação da república e abolição da escravidão. O primeiro efeito da abolição da escravidão é o aumento de habitantes, aumentando a oferta de mão de obra livre e subempregos; a intensa imigração de europeus também acaba por contribuir com o aumento de homens e mulheres livres. Como visto, o Rio de Janeiro acaba por formar uma população muito fragmentada e heterogênea, não podendo ser tratada como um bloco uníssono. Em termos físicos, a cidade sofria um surto de epidemias, devido ao crescimento irregular, falta de habitação, de saneamento básico e de abastecimento de água.

Sendo proclamada a república, a população pobre, controvertida pela atração florianista, mantém simpatia pela Monarquia, tendo reações contraproducentes a determinadas medidas administrativas da República, confirmando novamente a antipatia populacional pelo regime recém-instaurado. Lembra-se que a população, por ser um bloco heterogêneo, não tem reações populares unitárias, caracterizando uma participação política dissonante. Tal ponto atingiu a fragmentação que, se isolando em vários grupos, a população formou repúblicas menores, onde tinham as próprias leis. Enfatiza-se aqui a intenção do autor em mostrar que, apesar de excluída e viver em um contexto instável, a população pobre se estrutura, suprimindo o governo através de festividades – inicialmente populares e, a posteriori, incorporadas à elite.

No segundo capítulo, intitulado “República e Cidadania”, José Murilo conta que, para a implementação da república, ocorreu uma luta ideológica entre diferentes correntes, o que Sérgio Porto denominaria “maxixe do republicano doido”. Na realidade, o que ocorre é uma desordem de ideias, peculiarizando e complexificando o republicanismo brasileiro. Com a transição da Monarquia para a República, a população teve seus direitos minimizados, a atuação política, assim, se dava pela luta para o aumento dos direitos políticos oficiais. A cidadania foi dada somente para homens alfabetizados, privando majoritariamente a população carioca do direito de voto e de ação política pelos meios oficiais. Havia uma nítida distinção na sociedade carioca, o que o autor descreve como cidadãos ativos e os inativos.

Ainda no segundo capítulo, o autor marca que a reação dos excluídos foi criar o sistema de Estadania, o qual seria a participação política, não pela organização de interesses conjuntos dos populares, mas, sim, promovendo contato direto com a máquina governamental. Em outras palavras, resolve-se o problema da cidadania através de um sistema paternalista, onde ocorre a troca de favores entre setores das camadas populares e a máquina governamental.

A ideia dos intelectuais liberais da elite abolicionista de que não existia cidadão no Rio de Janeiro só se confere quando estamos lidando com os meios legais, pois, atrás dos meios oficiais, é que se dá a atuação política da população, tentando, a todo custo, exercer sua cidadania. J. M. Carvalho ainda fala de dois Rios, um subterrâneo

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