Resumo De Os Bestializados
Ensaios: Resumo De Os Bestializados. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: EraldoRafael • 9/8/2013 • 2.733 Palavras (11 Páginas) • 2.041 Visualizações
José Murilo de Carvalho inicia o livro apontando a concepção de Aristides Lobo, propagandista da República. Segundo ele, “o povo, que pelo ideário republicano deveria ser protagonista dos acontecimentos, assistira a tudo bestializado, sem compreender o que se passava...” (pag. 9). Segundo o autor, o que lhe interessa no tocante a essa concepção é o fato de que um observador participante e interessado tenha percebido a participação do povo dessa maneira, confessando o pecado original do regime. Trata-se de uma questão que se refere ao problema de relacionamento entre o cidadão e o Estado, o cidadão e o sistema político, o cidadão e a própria atividade política, justamente na implantação de um sistema de governo que se propunha a trazer o povo para o cenário da vida política. O autor delimita, mais adiante, o ambiente que se utilizará para realização do estudo, o Rio de Janeiro, capital política e administrativa. Segundo ele, o comportamento político de sua população tinha reflexos imediatos no resto do país, a exemplo da proclamação da República.
Após se situar em tempo e lugar do estudo, Murilo afirma que havia algo mais na política do que um povo bestializado, e que tentar entender que povo era este, qual seu imaginário político e qual sua prática política é a tarefa que ele se dedicou no decorrer dos capítulos do livro. O capitulo 1 traz uma descrição das transformações sociais, políticas e culturais da cidade do Rio de Janeiro à época da república. O capítulo 2 traz um exame das várias concepções de cidadania vigentes na época. O capítulo 3 mostra uma análise do mundo dos cidadãos na capital da república, através da participação eleitoral. O capítulo 4 mostra um estudo de uma ação política da população, a Revolta da Vacina. Por fim, o capitulo 5 reconstituirá o mundo da cidadania no Rio de Janeiro, buscando razões para explicá-lo.
O autor inicia o capítulo um relatando o crescimento demográfico ocorrido em virtude da abolição da escravidão. Como conseqüência de tal crescimento, nota-se o acumulo de pessoas em habitações precárias ou mesmo sem habitação. Essas pessoas viviam na tênue fronteira entre a legalidade e ilegalidade, surgindo então as “classes perigosas”. No âmbito econômico e financeiro, houve grandes agitações, em virtude, mais uma vez, da abolição. O estado precisava emitir moedas para pagamentos de salários, o que gerou uma febre especulativa conhecida como encilhamento. Como era de se esperar, o resultado foi inflação generalizada e agravamento do custo de vida; a crise foi agravada ainda mais com a queda dos preços do café, mergulhando o país numa grande recessão econômica.
A República trouxe uma série de expectativas no tocante a uma maior participação no poder pelas camadas antes excluídas da cena política. Tal expectativa deu lugar a grandes agitações nos anos iniciais da República. Os militares se julgaram donos e salvadores da República, intervindo sempre que lhes parecesse conveniente. Os operários, acreditando no novo regime, se organizaram em partidos, promoveram greves. Alguns grupos tiveram atuação comprimida e foram duramente reprimidos pela polícia, é o caso dos capoeiras e dos anarquistas estrangeiros. O autor relata as mudanças nos padrões de moral e de honestidade. O encilhamento trouxe uma febre de enriquecimento a todo custo, vista como uma degradação da alma nacional. A República se tornara sinônimo de riqueza, se deu uma vitória do espírito do capitalismo desacompanhado da ética protestante. Percebe-se também uma quebra de valores morais e dos costumes, um exemplo é a alta taxa de nascimentos ilegítimos. Outro fator relevante é a reação negativa da população negra frente ao novo regime, em virtude da alta popularidade da monarquia entre essa população, decorrente da abolição da escravidão.
Diante de tais transformações, o autor discorre que o problema central a ser resolvido pelo novo regime seria a organização de outro pacto de poder, visando substituir o arranjo imperial com estabilidade, superando as agitações, instabilidade política. Tratava-se de governar o país por cima dos tumultos das multidões agitadas da capital; havia grande preocupação dos republicanos com o perigo das mobilizações do Rio de Janeiro. A preocupação em limitar a participação popular, em controlar o mundo da desordem, neutralizar a capital, desembocou numa série de políticas/medidas. Tratava-se de tirar os militares do poder e reduzir a participação popular, esses fenômenos eram interligados porque era muito comum os militares estarem envolvidos nas manifestações; tais setores não representavam interesses compatíveis com comerciantes e agricultores. Uma forma de neutralizar a capital seria fortalecer os estados, essa foi a política de Campos Sales.
Uma nova lei decretara que o prefeito seria nomeado pelo presidente, com a aprovação do senado, o resultado foi a abertura para arranjos políticos particularistas, para as barganhas pessoais, para a corrupção. A ordem se aliava com a desordem, a massa dos cidadãos era excluída do espaço político. Porém, o autor afirma que a participação popular passava ao largo da política, era antes de natureza social e religiosa, além de ser fragmentada.
Assim, houve a domesticação da capital, reduzido seu peso político em virtude do vitorioso sistema oligárquico de dominação. Agora, a cidade pode passar por reformas empreendidas pelo Barão do Rio Branco, o qual quer passar ao estrangeiro a imagem de um Brasil branco, europeizado, civilizado, em oposição ao Brasil pobre e negro. Em meio a essa segmentação social promovida no Rio pela República, as “republicas”, vindas do império –cortiço, comunidades- continuavam a viver, forjar novas realidades sociais e culturais. Das repúblicas renegadas pela República surgiram elementos que, segundo o autor, são constitutivos da primeira identidade coletiva da cidade, materializada no carnaval e futebol.
O segundo capítulo se inicia mencionando que o liberalismo já havia sido implantado pelo regime imperial em quase toda sua extensão, as inovações republicanas no tocante a franquia eleitoral resumiam-se em eliminar a exigência de renda, mantendo a de alfabetização. Essa concepção restritiva de participação trazia consigo uma distinção entre sociedade civil e política, entre cidadãos ativos e cidadãos inativos. Os primeiros possuem direitos civis e políticos, os segundos possuem apenas os direitos civis. Nesse sentido, o direito político não é um direito natural, e sim concedido pela sociedade aos merecedores dele, sendo excluída grande maioria da população. Tratava-se de uma ordem liberal, porém profundamente antidemocrática.
O entusiasmo e expectativas despertadas em certas camadas da população
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