SUS E O Sistema De Saude Complementar
Casos: SUS E O Sistema De Saude Complementar. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: 12345isa • 13/9/2013 • 5.331 Palavras (22 Páginas) • 552 Visualizações
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Elizabeth Nogueira de
Andrade
Médica, professora do curso de
Medicina da Universidade Federal
do Amazonas, Manaus, Brasil,
doutoranda em Bioética pela
Universidade do Porto, Portugal
Edson de Oliveira Andrade
Médico, professor do curso de
Medicina da Universidade Federal
do Amazonas, Manaus, Brasil,
doutorando em Bioética pela
Universidade do Porto, Portugal
O SUS e o direito à saúde do brasileiro:
leitura de seus princípios, com ênfase
na universalidade da cobertura
Elizabeth Nogueira de Andrade
Edson de Oliveira Andrade
Resumo Este artigo discute a questão do acesso aos serviços de saúde brasileiros, com ênfase
na universalidade da assistência. Discorre sobre os conceitos de justiça e saúde; faz breve reflexão
sobre os sistemas de saúde nos Estados Unidos da América do Norte, na França, Inglaterra e
Canadá; realiza uma apreciação do sistema de saúde brasileiro, em suas vertentes pública e
privada, e historia o papel dos conselhos de medicina e das entidades médicas na garantia do
acesso aos serviços de saúde.
Palavras-chave: Equidade. Justiça social. Sistemas de saúde. Bioética.
A saúde e o conceito bioético de justiça
A justiça é a virtude primeira das instituições sociais, tal
como a verdade o é para os sistemas de pensamento. Uma
teoria deve ser refugada se não se mostrar verdadeira, bem
como as leis e as instituições devem ser desprezadas e não
obedecidas se não forem justas 1.
Para Rawls, uma sociedade é considerada justa quando respeita
o ser humano como um absoluto moral, pois alcançada
a razão é dono de autonomia e discernimento do que é
justo. Será justa a sociedade quando as oportunidades, as
riquezas e o respeito forem a todos distribuídos igualitariamente
ou de forma desigual quando para equalizar distorções
e beneficiar os mais necessitados. Esta é uma visão de
justiça, a equidade, que obriga a uma ação efetiva das forças
sociais em defesa dos menos possuídos. Na mesma época
em que Rawls publicava Uma teoria de justiça, Robert Nozick
publicou Anarchy, state and utopia 2 considerando que o
papel de um Estado justo seria limitado à proteção dos
direitos individuais, a partir dos quais cada um seria capaz
de cuidar de si próprio – visão que ampara o ideal neoliberal
do estado mínimo.
Revista Bioética 2010; 18 (1): 61 - 74
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Hoje, debate-se o princípio da justiça na saúde
num front onde se empunham as armas de
uma justiça utilitarista, com a maximização
coletiva dos resultados sobrepondo-se aos
interesses individuais, e a justiça equânime
que propõe a distribuição das oportunidades a
todos de acordo com as suas necessidades.
Este é um dos dilemas atuais da assistência à
saúde, cujas demandas são grandes e crescentes
e os recursos escassos e muitas vezes mal
empregados. No meio dessa disputa encontrase
o povo, os profissionais de saúde e os gestores.
É nesse contexto que são gestados, geridos
e utilizados os mais diversos tipos de serviços
de saúde.
A bioética e o conceito de saúde
O conceito de saúde reflete a conjuntura
social, econômica, política e cultural. Ou
seja: saúde não representa a mesma coisa para
todas as pessoas. Dependerá da época, do
lugar, da classe social. Dependerá de valores
individuais, concepções científicas, religiosas,
filosóficas 3. Da mesma forma, o conceito de
doença sofreu intensas mudanças com o
tempo e o conhecimento médico. No início,
eram os deuses a causa do adoecer. Hipócrates
de Cós (460-377 a.C.), o pai da Medicina,
foi o primeiro a considerar as doenças um
fenômeno natural. Sua referência à epilepsia
no texto A doença sagrada é um canto à racionalidade
e, talvez, carta de alforria da medicina
das crendices e superstições 4.
Em sua carta de princípios de 7 de abril de
1948, a Organização das Nações Unidas
(ONU) diz que saúde é o estado do mais completo
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