TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

O Cristianismo e piedade

Por:   •  14/12/2017  •  Ensaio  •  5.276 Palavras (22 Páginas)  •  309 Visualizações

Página 1 de 22

Cristianismo e piedade

Rosali M. Pinto

“A verdadeira piedade consiste em um sincero sentimento que ama a Deus como Pai, enquanto O teme e O reverencia como Senhor, abraça sua justiça e teme ofendê-lo mais que a morte”. (BEECKE, apud Calvino) (1)

Ao nos depararmos com esse conceito de piedade ficamos surpresos que um assunto de tamanha importância encontre um espaço tão pequeno em nossos púlpitos, escolas bíblicas, bem como em nossas devoções práticas. É com frequência que temos ouvido pregações que procuram suprir as necessidades dos ouvintes, obstinados em suas cobiças, buscam soluções imediatas para todos os seus anseios, que em sua maioria são de ordem material. Em contrapartida, o desconhecimento da piedade bíblica e suas implicações práticas tem abafado a influência da cristandade na sociedade. O testemunho cristão (fé, pureza, justiça e santidade) outrora marcante, em nossos dias já não promove mais tanto impacto e muito menos revela o Deus Santo e a obra da cruz como no passado. Por isso quando se fala em piedade cristã, geralmente a visão mais popular é de pena, compaixão, comiseração, solidariedade ou mesmo um conceito que se refere a alguém que faz doações  a necessitados.

Como a Bíblia conceitua piedade, uma vez que a fé cristã alcança o homem todo e não apenas coração? Essa é uma questão que procuraremos discutir e analisar no decorrer desse artigo, assim como apresentar o conceito e uso da palavra piedade no Antigo e no Novo testamento, pois cremos que o cristianismo não é uma mera religião ritual, passada de geração a geração, onde seus participantes repetem ritos sem questionar a origem. O cristianismo tem a Bíblia como manual de fé e prática, e é nela onde Deus nos ensina a conhecer o significado da piedade cristã, para que fundamentados nela, possamos viver nesse mundo para sua glória.

Conceito e uso prático de piedade no Antigo Testamento

O dicionário HOUISS define piedade como “devoção, amor pelas coisas religiosas... virtude que permite render a Deus o culto que lhe é devido (2).” A Enciclopédia Bíblica a define como “compaixão pelos sofrimentos alheios (3).” No Antigo Testamento, o significado da palavra tem em seu uso o sentido de compaixão pelos sofrimentos alheios. ( Dt. 13.8; Is.51.3; Sl.72.13).

Na vida dos servos de Deus que aqui citaremos, piedade tem o sentido de culto a Deus (honrá-lo na consciência que se vive diante Dele) e se manifesta como toda ação decorrente do temor a Deus, que opera no coração daquele que nele crer a partir do conhecimento da Sua vontade revelada. Esse sentido é observado na vida de José, filho de Jacó, neto de Abraão que segundo nos informa o texto (Gn.37),  por causa do ciúme de seus irmãos foi sequestrado e vendido pelos mesmos aos mercadores ismaelitas, que o levaram para o Egito e lá chegando, o venderam a Potifar, oficial do faraó, e por causa da benção do Senhor sobre as obras de suas mãos, foi elevado a posição de mordomo. Em Gênesis capítulo 39, José é descrito como formoso de porte e de aparência, o que provocou o interesse da esposa de Potifar sobre ele. Ela, ao abordá-lo com intenções de manter um relacionamento íntimo, não encontrou correspondência e sim resistência da parte de José. Ele declara ante ao convite de deitar-se com ela, que não poderia fazer tão grande maldade e muito menos pecar contra Deus (Gn39.9). José teme mais pecar contra Deus do que perder sua posição de mordomo ou por sua vida em risco, pois naquele momento, era apenas um escravo. Caluniado pela esposa de Potifar, que o convenceu que José tentou violá-la, foi preso (Gn.40). Na prisão a boa mão de Deus permaneceu sobre ele, pois não havia sobre ele pecado e assim conquistou a confiança do carcereiro que entregou a administração do cárcere em suas mãos, lá, mais uma vez ele foi justo com todos por causa do amor a Deus.

 José foi libertado para interpretar um sonho do faraó, após interpretar o sonho sobre uma grande fome que haveria no oriente, foi elevado à posição de administrador do Egito. Toda a sua história tomaria um novo rumo a partir desse evento e devido a sua nova posição, possuía em suas mãos a oportunidade de vingar-se tanto de seus irmãos, quanto da casa de Potifar, mas não quis fazer isto. Quando seus irmãos vieram a sua presença para comprar alimentos, porque a fome também chegou a Canaã, não o reconheceram, pois aquele jovem frágil que foi vendido agora era a segunda pessoa mais importante no Egito. Todo o poder que lhe fora concedido não mudou o seu caráter, ele agiu com misericórdia e ao revelar-se a seus irmãos, afirmou entender que nada aconteceu em sua vida sem a permissão de Deus (Gn. 41-45;50). Ele honrou a Deus crendo em sua soberania e também cuidando da sua família que lhe imputou muitas dores e mesmo tendo a oportunidade, não se vingou. Com essas ações ele prestou a Deus o culto que Lhe é devido, o culto da vida. A partir do seu relacionamento com Deus, com sua família e com todos os egípcios, ele revelou-se um homem piedoso. Sua fé não era amparada em um mero sentimento intelectual, seu Deus não era um ídolo imóvel que atuava apenas num lugar. Mesmo sem uma revelação de Deus não tão clara, pois a lei ainda não havia sido escrita, ele cria num Deus onipresente, sua fé em nele moldou o seu caráter. Entendemos que na vida de José a piedade é o viver em todos lugares e situações  a partir do conhecimento da vontade de Deus. Nesse caso ser piedoso é amar, temer, respeitar, conhecer, obedecer os mandamentos de Deus e incluído nisso também está o fato relevante de amar, respeitar e cuidar da família e do próximo.

Vemos na vida de Daniel, Misael, Azarias e Ananias, os quatro jovens  levados cativos para Babilônia por Nabucodonosor nos dia do cativeiro de Jerusalém, que todos os terríveis acontecimentos que os envolveram não suprimiram a fé em seus corações. Eles foram afastados bruscamente de tudo que lhes lembravam Deus, Jerusalém, o templo e o culto, também foram inseridos numa cultura totalmente pagã, também tiveram seus nomes mudados (Dn.1.7). Daniel, cujo significado hebreu do seu nome era “Deus é meu juiz”, foi mudado para “Bel protege o rei”, da mesma forma os demais também tiveram os seus nomes trocados.  Foi-lhes imposto comer da mesa do rei, comida essa que geralmente era consagrada aos ídolos e preparada com ingredientes proibidos pela lei de Moisés, mas recusaram o alimento. Eles preferiram sofrer o dano decorrente dessa decisão do que transgredir os mandamentos. Daniel tinha conhecimento da lei de Deus (Dn.9.1-2) e seu caráter, assim como o caráter dos seus amigos fora forjado por ela, e apesar de não tê-la impressa em suas mãos, ela estava impressa em seus corações.  Esse conhecimento era revelado em todas as suas ações práticas. Na vida deles o homem piedoso é retratado como, “bondoso, devoto e cumpridor de deveres”, que vivencia uma fé integral exercida independente do lugar ou situação onde se encontra.

...

Baixar como (para membros premium)  txt (31.5 Kb)   pdf (165.4 Kb)   docx (23.8 Kb)  
Continuar por mais 21 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com