O conceito de feitiçaria como uma explicação para a infelicidade
Tese: O conceito de feitiçaria como uma explicação para a infelicidade. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: daniloogarcia • 29/10/2014 • Tese • 670 Palavras (3 Páginas) • 596 Visualizações
PRITCHARD, E. E. Evans. A Noção de Bruxaria Como Explicação de Infortúnios.
Evans-Pritchard analisa a noção de bruxaria presente na sociedade Zande. O grupo em questão – Zande – é bastante primitivo. Eles adotam um nomadismo esporádico, e têm em sua cultura a forte presença da bruxaria.
Ao explicar os fenômenos através da bruxaria, os Azande não ignoram sua causa física ou natural, mas explicam “as condições particulares, em uma cadeia causal, que ligavam um indivíduo a acontecimentos naturais em uma cadeia causal que ligavam um indivíduo a acontecimentos naturais de tal forma que ele sofresse o dano”. Eles não acreditam que a bruxaria é a única causa dos fenômenos que lhes causam infortúnio, mas que ela põe os homens em relação com eventos que o fazem sofrer danos. Entre os azandes a bruxaria explica por que os acontecimentos, são nocivos e não como eles acontecem.
Fazendo um transporte e tradução dessa categoria nativa dos Zande para nossa sociedade, o nome da causa que explica o infortúnio entre nós é conhecido como azar, destino, coincidência. Empregamos essas palavras, para explicar o que a ciência não explica. É importante ressaltar que para o autor, a bruxaria não exclui as causas físicas dos fenômenos. Pritchard aponta para um diálogo plausível entre magia e ciência, pois estas não estão essencialmente em contraponto. Dessa forma, é claro que uma pessoa pode ter conhecimentos científicos e praticar a magia. Pode-se observar como isso se presentifica em diversas sociedades, quando pessoas que creem na medicina formal e usam remédios alopáticos, mas ao mesmo tempo recorrerem a benzeduras e chás como práticas de cura.
Voltando ao texto, o que importa na explicação do evento para o Azande é a relevância social, eles “selecionam a causa que é socialmente relevante” (p 63). Ao pensar na causa dos fenômenos, eles distinguem claramente a causalidade mística da causalidade natural. Quando um homem é morto por um elefante, é comum entre os nativos afirmarem que o elefante foi a primeira lança e que a bruxaria foi a segunda lança, foram essas juntas que o mataram. Contudo, é importante ressaltar que nem todos os eventos são explicados pela bruxaria, mas todos o são pela sua relevância social. “… a bruxaria naõ é a única razão a que se atribui um fracasso. Incompetência, preguiça, ignorância podem ser indicados como causa (p 68).
Ao separar alguns eventos como adultério, roubo, mentira, Pritchard afirma que esses não podem ser atribuídos à bruxaria. No entanto, ao dizer que eles não são bruxaria , podemos perguntar se ele não fixou demais tais fenômenos. Poderíamos pensar numa maneira de flexibilizá-los.
Ao mesmo tempo em que a bruxaria explica o infortúnio, ela oferece os meios para combatê-la. Assim a bruxaria é uma forma de controle social. Todos podem ser acusados de bruxaria. Apesar de ela ser passada pela hereditariedade, não se sabe quem é bruxo ou não.
Uma importante contribuição de Pritchard é mostrar que as crenças nativas possuem uma logica coerente, ou seja, a bruxaria é um sistema racional e lógico.
Antropólogo inglês, Evans-Pritchard nasceu em 1902 na Inglaterra. Estudante de B. Malinowski, abandonou os princípios do funcionalismo para se concentrar na demonstração da racionalidade da cultura subjetiva.
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