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Relatório de Leitura - Adoração na Igreja Primitiva (MARTIN, Ralph)

Por:   •  27/6/2019  •  Resenha  •  2.447 Palavras (10 Páginas)  •  784 Visualizações

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Seminário Presbiteriano de Brasília

Teologia do Culto I

Professor: Rev. Sebastião Veiga Gonçalves

Aluno: Orbélio de Oliveira Filho

RELATÓRIO DE LEITURA

REFERÊNCIA DA OBRA

MARTIN, Ralph P. Adoração na Igreja Primitiva. 1ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1982. Resenhado por Orbélio de Oliveira Filho, aluno do Seminário Presbiteriano de Brasília.

        Ralph P. Martin (1925 - 2013) foi um destacado catedrático de Novo Testamento pelo Seminário Teológico Fuller, em Pasadena, na Califórnia (EUA). Graduou-se com PhD pela Universidade de Londres e é o autor de inúmeros livros e artigos sobre Novo Testamento voltados para públicos tanto especializados quanto leigos[1]. Dos que foram traduzidos para o português, se destacam, além do livro ora avaliado, os comentários Filipenses e Colossenses e Filemom, da série Cultura Bíblica, publicada pelas Edições Vida Nova.

INTRODUÇÃO

A obra Adoração na Igreja Primitiva é um pequeno compêndio bíblico, histórico e teológico acerca da teologia do culto na igreja cristã em seus primórdios. MARTIN enxerga a igreja como uma comunidade adoradora, “vocacionada por Deus para oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis através de Jesus Cristo, e para proclamar as obras maravilhosas da Sua graça” (p. 11).

O livro, portanto, após uma breve introdução, abarca assuntos como (1) a igreja na qualidade de uma comunidade em adoração por excelência; (2) a herança judaica no templo e na sinagoga e suas implicações para a adoração cristã; (3) as orações e os louvores do Novo Testamento, abrangendo os hinos e cânticos espirituais, bem como os primeiros credos e confissões de fé, sejam eles extraídos das Escrituras ou históricos; (4) o ministério da Palavra, compreendendo sua leitura e pregação; (5) o ofertório e a mordomia cristã como expressão de louvor;  e (6) a administração dos sacramentos como elementos do culto cristão.

Ao fim da obra, o autor exara um breve relato do desenvolvimento do culto na igreja primitiva, alinhavando o conteúdo descrito nos capítulos anteriores a fim de corroborar com sua tese e tema pretendido, construindo um excelente livro acerca da adoração prestada pelos primeiros cristãos, sob a direção das Escrituras, dos apóstolos e, primariamente, pelo Espírito Santo, e que deve moldar a teologia do culto e da adoração da igreja dos nossos dias.

CONTEÚDO

O principal assunto da obra de MARTIN é a adoração prestada pela igreja primitiva como modelo de culto cristão. Para reconhecê-la como modelo de culto para a igreja hodierna, faz-se necessário conhecer os elementos que compunham o culto daqueles dias e que são alicerce para a adoração da igreja atual. Para alcançar seu objetivo principal, MARTIN lança mão de assuntos secundários que nortearam seu trabalho e o auxiliaram a defender a sua tese preliminar e enriquecer o tema proposto.

Na sua jornada literária, o autor aborda a influência exercida pelo Templo de Jerusalém e das sinagogas sobre a adoração da igreja cristã primeva. É certo que, no contexto judaico no qual o cristianismo surgiu, esses elementos não podem ser ignorados, uma vez que foi de dentro dele que emergiu a seita judaica denominada “Os Nazarenos” ou “O Caminho” e que seria o embrião do cristianismo dos nossos dias.

Em seguida, MARTIN empreende uma breve análise das orações e louvores constantes do Novo Testamento, incluindo os hinos e cânticos espirituais, e os credos e confissões de fé que constam dos escritos neotestamentários ou são reconhecidamente contemporâneos à produção literária do Novo Testamento. Nessa análise, o autor avalia termos e referências utilizados, bem como o seu conteúdo, a fim de enriquecer o conhecimento acerca do culto prestado a Deus na igreja cristã do primeiro século.

Ato contínuo, a obra aborda o ponto culminante e crucial do culto cristão: o ministério da Palavra. A leitura pública das Escrituras e a sua exposição, os documentos que comporiam o Novo Testamento e o ensino apostólico compunham o kerigma da igreja e eram momentos distintivos do culto cristão primitivo. Não somente o ministério da Palavra, mas também a coleta de recursos para a obra de Deus e a promoção do Evangelho faziam parte do culto da igreja primitiva e eram um ato de adoração. MARTIN traz à tona a discussão acerca do dinheiro e a visão escriturísticas neotestamentária acerca de sua importância, mas, também, de seus males, e elenca sete princípios acerca da mordomia cristã.

Como elementos cúlticos, os sacramentos estavam presentes na adoração da igreja primitiva. O batismo e a Ceia do Senhor desempenhavam vital papel no culto a Deus. À ceia, especialmente, o autor dedica dois capítulos com o fito de apresentar sua origem e desenvolvimento no culto cristão, bem como a sua importância para vitalidade dos cristãos do primeiro século.

Por fim, MARTIN apresenta um breve resumo do desenvolvimento da adoração cristã no período apostólico, chegando a abranger o período conhecido como dos “pais apostólicos”, no século II, salientando que a adoração da igreja é conduzida sob a égide Espírito Santo.

MARTIN defende a tese de que a igreja é uma comunidade adoradora, “vocacionada por Deus para oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis através de Jesus Cristo, e para proclamar as obras maravilhosas da Sua graça” (p. 11).  Este, sem dúvida, é o grande tema da obra de Martin. E para tanto, o autor se preocupa em resgatar as práticas da igreja primitiva que compunham a adoração por ela prestada, segundo descreve o Novo Testamento.

O autor expõe argumentos que corroboram com a sua tese, sendo alguns deles arrolados abaixo:

  1.  A adoração cristã é a mistura de oferecer a Deus não somente aquilo que Lhe devemos, como também aquilo que desejamos lhe dar (p. 22). É claro que a adoração é prescrita por Deus e o culto não deve ultrapassar tais prescrições. Mas devemos adorar a Deus com toda o nosso viver e com todas as nossas posses. Sob esta ótica, o culto a Deus deve ultrapassar os limites do culto público e adentrar a adoração particular de cada crente.
  2. A marca de autenticidade eu distinguia a igreja era a presença do Senhor no meio dos Seus, sempre que seu povo se reúne (p. 151). Essa é a promessa de Cristo (Mt 18.20), de estar presente sempre que seus discípulos se reúnem em seu Nome. Essa é a realidade experimentada no contexto da ceia: a presença mística de Cristo. Essa é a verdade afirmada nas Escrituras: cada crente, por intermédio do Espírito Santo, está ligado a Cristo e a ele unido, gozando de seus dons e de sua vida espiritual.
  3. A adoração típica da igreja pode ser achada até ao dia de hoje na união entre a adoração na sinagoga e a experiência sacramental do Cenáculo. A fórmula básica da adoração nas sinagogas era louvor, oração e instrução (p. 32). Tal fórmula é identificada na maioria dos cultos da igrejas cristãs saudáveis. Caso algum destes elementos falte, é certo que o culto em tal igreja está se desviando daquilo prescrito nas Sagradas Escrituras.
  4. Uma das marcas distintivas da igreja primitiva era a expressão Marana tha, traduzida como o “vem, Senhor”. Ela representa uma visita ao passado, quando rememora a primeira vinda de Cristo, e é uma brado pela sua volta futura, a expectativa da igreja (p. 152). Essa expressão está presente na ceia do Senhor, quando, por meio dela, se anuncia a morte do Senhor Jesus, até que Ele venha (1Co 11.26). Este é um sentimento e uma perspectiva da adoração que não pode ser ignorada ou esquecida: o iminente retorno do Senhor Jesus para consumar o reino que inaugura em sua primeira vinda.
  5. A mensagem dos apóstolos dizia respeito ao irrompimento milagroso de Deus na vida humana, na Pessoa e obra de Seu Filho, o Messias esperado por Israel e Salvador dos homens (p. 86). Este é o cerne da pregação na adoração cristã e deve ser preservado nos nossos dias.
  6. Vemos a coleta como uma parte integrante de nossa adoração coletiva e a ancoramos assim firmemente na resposta que fazemos às novas do Evangelho (p. 100). O ofertório e a entrega dos dízimos é parte do culto e momento de adoração. Somos instados a compreender que a adoração a Deus e o culto ao seu Nome envolve não somente palavras e vida, mas o trabalho e o recurso que dele recebemos. Cristo é o Senhor sobre tudo, inclusive sobre as riquezas e sobre aquilo que possuímos, como afirma Davi: “Mas quem sou eu, e quem é o meu povo para que pudéssemos contribuir tão generosamente como fizemos? Tudo vem de ti, e nós apenas te demos o que vem das tuas mãos. Ó Senhor, nosso Deus, toda essa riqueza que ofertamos para construir um templo em honra do teu santo nome vem das tuas mãos, e toda ela pertence a ti” (1Cr 29.14-16).
  7. Certas questões que dizem respeito às verdades centrais do Evangelho são ensinadas e não aceitam meio-termo (p. 104). Neste contexto está a aplicação dos sacramentos como elementos de culto prescritos pelas Sagradas Escrituras. O batismo e a ceia são elementos de adoração que devem ser celebrados no contexto do culto coletivo e público, sendo expressão da fé de toda comunidade que celebra a nova vida recebida de Cristo.
  8. O autor conclui que a igreja está saindo de uma situação em que o padrão da adoração é flexível e livre, sob a direção do Espírito Santo, e cada um faz sua contribuição conforme lhe parece bem (p. 158). Essa afirmação lembra a fórmula encontrada no livro dos Juízes, quando se afirma: “Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada qual fazia o que achava mais reto” (Jz 17.6 ARA). A adoração é para ser conduzida, por intermédio da Terceira Pessoa da Trindade Santa, e recebida pelo próprio Deus. É um caminho perigoso desconsiderar a prescrição divina da adoração para apresentar aquilo que melhor nos parece. Um claro exemplo bíblico (Gn 4.1-7) é a oferta de Abel, aceita porque não foi segundo a sua melhor intenção, mas segundo a vontade de Deus e conduzida pelo Espírito Santo. Já a oferta rejeitada de Caim foi segundo os seu próprio coração e olhos.

CONCLUSÃO

Como falar de adoração cristã, desconhecendo como os primeiros cristãos prestaram culto a Deus? É certo que um culto genuinamente cristão se aproxima daquele que era ofertado pela igreja primitiva, sob a orientação e coordenação dos apóstolos. Essa regressão é a que MARTIN nos propõe, a fim de que entendamos a teologia do culto no primeiro século. Ele define a igreja como uma comunidade adoradora, vocacionada para tal atividade. A vida da igreja é para a glória de Deus. Sua breve abordagem acerca da importância do templo e das sinagogas para o culto cristão é importante para que estejamos contextualizados com elementos culturais e religiosos herdados do judaísmo, uma vez que o cristianismo emergiu no meio daquela expressão religiosa, e o judaísmo certamente exerceu influência sobre o cristianismo, de forma que a reunião dos cristãos no Templo ou em sinagogas se tornassem algo natural. Tais ajuntamentos permanecem, com a igreja reunida como expressão de adoração pública e coletiva a Deus. A abordagem bíblico teológica do autor acerca da adoração é deveras valiosa. O Novo Testamento e o testemunho de antigos escritos corroboram com a posição de autor de que o culto cristão no primeiro século era composto de diversos elementos: orações, louvores, hinos, cânticos espirituais, credos e confissões de fé, leitura e exposição da Escrituras, coletas de dízimos e ofertas e a administração dos sacramentos. São todos elementos importantes e essenciais à adoração prescrita nas Sagradas Escrituras à igreja cristã e que devem ser observados para um culto que agrade a Deus.

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