Religião E Outros Conceitos
Exames: Religião E Outros Conceitos. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Carlosbaer • 12/3/2015 • 7.603 Palavras (31 Páginas) • 260 Visualizações
Coutinho, José Pereira - Religião e outros conceitos
Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Vol. XXIV, 2012, pág. 171-193
Religião e outros conceitos
José Pereira Coutinho1
Númena – Centro de Investigação em Ciências Sociais e Humanas
Resumo: Neste artigo são abordadas as definições de religião, tanto as
substantivas como as funcionais. As várias componentes da religião são
referidas. Na visão substantiva, a religião é um sistema que engloba crenças,
práticas, valores e organizações. Na visão funcional, a religião oferece
normas, coesão, tranquilidade, estímulo, sentido, experiência, maturidade,
identidade, redenção. O sagrado, a espiritualidade, a ideologia, a superstição e
a magia são conceitos relacionados com a religião, sendo o seu significado
também desenvolvido.
Palavras-chave: Religião; Sagrado; Espiritualidade; Ideologia.
1
Doutorado em Sociologia pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa do Instituto
Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) e investigador da Númena – Centro de Investigação em Ciências
Sociais e Humanas. Licenciado em Engenharia Agronómica (Instituto Superior de Agronomia –
Universidade Técnica de Lisboa) e Mestre/MBA em Gestão de Empresas (ISCTE-IUL) (Lisboa,
Portugal). E-mail: jose.coutinho@numena.org.pt / josemariacastro@netcabo.pt
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Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Vol. XXIV, 2012, pág. 171-193
À semelhança do Zeitgeist hegeliano, as ideias evoluem pela história de forma
contínua. Umas morrem, outras renascem reformuladas, algumas mudam reformadas.
Novas ideias não são mais do que velhas ideias recicladas a que os autores sempre algo
acrescentam. Mesmo a epistemologia de Kuhn, onde a evolução científica se faz com
descontinuidades, subentende revoluções enraizadas nos paradigmas anteriores, uma
continuidade, portanto. Na evolução do pensamento sociológico e religioso só podia
também observar-se esta cadeia ininterrupta.
O pensamento cristão começa a secularizar-se na época moderna. A teologia, a
rainha das ciências medievais, suportada pela filosofia e pelas artes liberais, perde
paulatinamente o seu domínio. Na diferenciação e na especialização modernas, os
conhecimentos emancipam-se da filosofia e da influência religiosa, arrumando-se em
disciplinas distintas e autónomas. Primeiro, surgem as ciências naturais no século XVII,
com o desenvolvimento do método científico. Mais tarde, nos séculos XVIII e XIX,
despontam as humanidades. A religião passa a ser estudada pelas disciplinas emergentes
(sociologia, antropologia, história e psicologia) de forma crítica e, assim pretensamente,
mais objetiva.
A matriz do pensamento ocidental encontra-se na Grécia Antiga, especialmente
em Platão (427-347a.C.) e Aristóteles (384-322a.C.). Grosso modo, o pensamento
platónico continua por Santo Agostinho (354-430), enquanto o pensamento aristotélico
volta com São Tomás de Aquino (1225-1274). No fim da escolástica aparece Ockham
(1285-1347), cujo nominalismo promove o empirismo, também produto do
aristotelismo.
A
corrente
empirista
evolve
dos
intelectuais
anglo-saxónicos,
sobressaindo Hume (1711-1776). A sua ascendência, relevante no positivismo de
Comte (1798-1857), perdura na escola francesa de Durkheim (1858-1917).
Do lado oposto, surge Descartes (1596-1650), criador do racionalismo, de
influência agostiniana. Kant (1724-1804) sintetiza as posições empirista e racionalista e
determina o idealismo alemão, onde se destaca Hegel (1770-1831), patente em Marx
(1818-1883), Tönnies (1855-1936), Simmel (1858-1918) e Weber (1864-1920). O
segundo, versado também na filosofia política de Hobbes (1578-1679), induziu em
Wilson (1926) o conceito de societalização, passagem da comunidade para a sociedade.
As duas escolas pioneiras da sociologia desenvolveram-se sob Durkheim e
Weber. De um lado, a escola francesa, positivista, de origem empirista. Do outro lado, a
escola alemã, interpretativa, de raiz idealista. Durkheim defendia a existência de factos
sociais (valores, normas, crenças, regras), condicionantes da ação, externos ao indivíduo
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