Trabalho Sobre Parábolas
Por: Elinael Araujo • 9/9/2019 • Resenha • 3.927 Palavras (16 Páginas) • 291 Visualizações
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é tratar sobre o tema das parábolas da misericórdia. Este método usado por Jesus é uma fonte viva que jorra do coração do evangelho de Lucas, capaz de introduzir o leitor muito próximo daquele em que Jesus anunciou seu evangelho, além de suscitar novos questionamentos aos ouvintes de suas parábolas, possibilitando sempre uma nova experiência coma palavra viva de Jesus. Por isso é de suma importância tratar do tema das parábolas, para uma melhor transmissão do conteúdo da fé. A fonte principal será o Evangelho de Lucas, onde se dá maior ênfase a questão da misericórdia. Mais especificamente trataremos da parábola do bom samaritano (Lc 10, 25-37). No primeiro capitulo apresentaremos algumas características do evangelho de Lucas. No segundo capitulo será abordado sobre o gênero de parábolas, as parábolas da misericórdia em Lucas e sobre os modos de interpretação das parábolas. No terceiro capitulo trataremos da parábola do bom samaritano. O tema da misericórdia já era conhecido pelo povo de Israel, mas a novidade do evangelho de Lucas é que Jesus se revela como a misericórdia do Pai e nos convida a sermos misericordiosos como o Pai. As parábolas da misericórdia são um convite a fazer a experiência com esse Deus que se compadece dos pecadores, pobres, doentes e excluídos.
1. CARACTERÍSTICAS DO EVANGELHO DE LUCAS
Lucas, foi um pagão convertido, que conhecia muito bem as sagradas escrituras, nasceu em Antioquia por volta do ano 40 de nossa era. Sua profissão era Medico, Paulo o chama de “Lucas, o médico querido” (Cl 4,14). Escreve seu evangelho no contexto da filosofia grega helenista por volta dos anos 70 após a destruição da cidade de Jerusalém. A redação aconteceu entre os anos 80 a 90, ele mesmo não conviveu com Jesus, mas fez grande investigação, sobre tudo quanto foi elaborado antes pelos outros evangelistas, Marcos e Mateus e o que era transmitido pela comunidade primitiva de forma oral.
Dedicava seu evangelho e pregação ao público pagão do ambiente Greco romano apresenta, uma salvação universal para um povo que não conhecia o antigo testamento. Se em Mateus, destaca-se o tema da justiça, em Lucas o foco está em apresentar a misericórdia de Deus. Lucas enfatiza o tema sobre a importância da oração, Jesus aparece várias vezes rezando nos principais momentos de sua vida. Outros temas ganham destaque como: a presença feminina e o Espirito Santo, sobretudo, isso aparece na infância de Jesus e na pessoa de Maria, muito valorizada por Lucas.
Para Lucas, a salvação é um ponto central, que se abre a todos os que á aceitam. “ De fato o filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc19,10). Está salvação se manifesta na pessoa de Jesus, em seus gestos de afabilidade e compaixão. É um convite a participar da festa e da alegria de retornar a Deus, isso fica evidente nas parábolas da misericórdia, que são originalmente de Lucas, como vemos na citação: “ Na pessoa de Jesus, no evangelho de Lucas, aparece a bondade e o amor de Deus. Dessa bondade, todos se aproximam, todos adquirem coragem, todos resgatam a dignidade, até mesmo quem não merecia nenhum mérito, como é o caso de alguns de seus personagens: Zaqueu, o bom samaritano, Maria Madalena, os dez leprosos, o cego, o bom ladrão...É neste clima que o evangelho de Lucas acolhe a todos: judeus, gregos, pagãos, estrangeiros, pecadores”.[1]
Como temos visto até aqui, o evangelho de Lucas é caracterizado pela misericórdia. Isto o evangelista demonstra nas atitudes de Jesus, como a cura do cego de Jericó (Lc 18,38), ao relacionar-se com uma pecadora (7,36-50). Mas existe um outro aspecto em Jesus que demonstrava a misericórdia, que era através de seus ensinamentos narrados por meio de parábolas.
No evangelho de Lucas, essas parábolas se destacam: “ São oito as parábolas de Jesus que, a partir de vários pontos de vista, tocam a misericórdia no terceiro Evangelho. Sete delas foram contadas durante a viagem de Jesus para Jerusalém”[2] (Lc 9,51-19,46).
O caminho para Jerusalém é o ambiente geográfico no qual Jesus abraça resolutamente sua missão. É no espaço temporal em que Jesus percorre até Jerusalém, onde ocorrem as circunstancias em que ele ensinava e mostrava a misericórdia, que é sempre um convite a mergulhar na intimidade de Deus e nos convida a sermos semelhantes a ele.
2. GÊNERO PARÁBOLA
Para podermos compreender sobre a misericórdia nas parábolas de Jesus, como é o objetivo deste trabalho, se faz necessário neste momento esclarecer sobre o porquê do uso das parábolas? E ainda o que é uma parábola? Se Jesus insiste em afirmar a necessidade da misericórdia por que o Pai do céu é misericordioso (Lc 6,36), podemos perceber uma conexão entre aquilo que é o homem em relação a Deus.
O homem se torna semelhante a Deus, à medida que que se torna misericordioso. Esta misericórdia, porém, não é um conceito abstrato, mas é uma atitude concreta que somente pode ser vivida nas relações entre pessoas e do homem com Deus. As parábolas têm o poder de comunicar em linguagem humana os sentimentos de Deus. Sobre o método parabólico, não foi Jesus quem inaugurou, mas dele se utilizou para transmitir sua mensagem. O objetivo de Jesus nas parábolas era mostrar que a fonte do sagrado estava nos gestos que fazemos para o outro no dia a dia.
“As parábolas de Jesus, incluindo as da misericórdia, estão ligadas à vida e interpretam-na. Seria errado pensar que, depois de ler uma parábola sua, está se deve interpretar. Pelo contrário: as parábolas interpretam a vida de cada um e a questionam”[3]. As parábolas como vimos na citação não são explicadas por Jesus, elas deixam um espaço onde cada pessoa é interpelada ao ouvir. Porém, algumas parábolas foram interpretadas e explicadas pelas comunidades primitivas, como por exemplo, no discurso das parábolas do capitulo 13 de Mateus (Mt13,36-43).
Uma das características das parábolas é deixar as questões abertas. Em Lucas encontramos personagens anônimos de forma que qualquer pessoa ao ouvir as parábolas possa se identificar com um personagem: “Um homem descia de Jerusalém a Jericó...” (Lc10-30) Lucas não diz quem é este homem. Como vimos o conteúdo das parábolas é extraído do cotidiano da vida como: as relações, no caso do bom samaritano, do filho pródigo. Ou da agricultura, como por exemplo: o fermento, o joio e trigo.
Depois de apresentarmos algumas características das parábolas, podemos passar a uma definição do termo parábola, na bíblia. Segundo o autor Joachim Jeremias: “O machal hebraico e o mathla aramaico designava, mesmo no judaísmo pós-bíblico, sem que se possa fazer um quadro esquemático, toda sorte de linguagem figurada: Parábola = comparação, alegoria, fábula, provérbio, revelação apocalíptica”.[4] Podemos ver nestas definições, este método era usado para revelar realidades e ensinamentos, contudo, este método possui certa ambiguidades, pois ao mesmo tempo que revela ele esconde: “ A vós foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus; aos outros porém, em parábolas a fim de vejam sem ver e ouçam sem entender” (Lc 8-10). Temos também no dicionário bíblico uma outra definição de parábola: “É uma comparação em forma de história. Muitas vezes, na parábola as coisas acontecem justamente ao contrário do que a gente esperava; é que nem sempre nós vemos as coisas como Deus as vê. A parábola faz pensar, balança certas convicções que não vem de Deus; leva a encarar a vida sob um ponto de vista novo. Por isso, só entende a parábola quem se abre a Deus, quem tem fé”.[5]
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