A ALIENAÇÃO NO TRABALHO
Por: jgtomazr • 13/9/2022 • Trabalho acadêmico • 933 Palavras (4 Páginas) • 157 Visualizações
ALIENAÇÃO NO TRABALHO1
Christoph HENNING2
RESUMO: Com a intensificação do trabalho nas últimas décadas, houve
um novo aumento das queixas relativas a fenômenos de alienação.
Mas o que é alienação? Partindo das transformações do mundo do
trabalho, este artigo reformula a teoria marxista da alienação, de
modo a reconectá-la às pesquisas de sociologia do trabalho e também
a problemas práticos. Nesse sentido, são postas em primeiro plano
quatro dimensões qualitativas da descrição da alienação, bem como
quatro fatores que podem explicar o surgimento de experiências de
alienação.
PALAVRAS-CHAVE: Trabalho. Alienação. Marxismo. Teoria crítica.
Introdução
Que muitos se perguntem pelo sentido de seu trabalho está
relacionado ao fato de que, nas últimas décadas, o trabalho de
muitos, apesar – ou por causa – das novas invenções, tornouse mais exaustivo e desagradável. Com a taylorização da parte
administrativa e a coerção à documentação (por exemplo, na
área de enfermagem), as profissões de prestação de serviços
passaram a apresentar uma intensificação e um monitoramento
do trabalho que há muito já podiam ser observados no trabalho
manual. O emprego em call centers, uma das atividades mais
ingratas do atual mundo do trabalho, é utilizado cada vez mais
como exemplo pela psicologia e pela sociologia do trabalho para a
discussão do aumento de experiências de alienação (cf. WEBER,
2006; RAGHURAM, 2013). Essas análises são relevantes também
1 Tradução: Erica Castro. Revisão: Arthur Bueno.
2 Junior Fellow (Privatdozent) – Centro Max Weber de Estudos Sociais e Culturais Avançados –
Universidade de Erfurt. Erfurt – Alemanha. christoph.henning@uni-erfurt.de.
38 Perspectivas, São Paulo, v. 49, p. 37-57, jan./jun. 2017
para outras formas de trabalho. Com o crescente processo de
intensificação e monitoramento do trabalho e o simultâneo
imperativo de mostrar-se sempre criativo e autodeterminado,
também em profissões altamente qualificadas podem se produzir
nexos com fenômenos como o burnout e doenças depressivas
provocadas pelo trabalho (KARGER, 1981; JERICH, 2008). Mas o
que é, afinal, alienação, e como ela se relaciona ao trabalho?
No que se segue, após algumas observações introdutórias
acerca da relação entre trabalho e alienação (2), eu gostaria de
reformular, em alguns de seus traços essenciais, as ideias centrais
da teoria da alienação de Karl Marx, uma vez que ela ainda
representa a proposta teórica mais relevante para o deciframento
das experiências de alienação. Desse modo, explicarei primeiro
do que podemos nos alienar durante o trabalho (3), para então
abordar os diferentes motivos pelos quais nos alienamos (4) – e
quais as possibilidades de resistir a isso (5). Tal reformulação é
necessária porque, nas atuais filosofia e teoria sociais, circulam
interpretações desse teorema estranhamente metafísicas, que
impedem de modo desnecessário uma aplicação produtiva da
teoria da alienação a experiências de trabalho atuais.
Trabalho e alienação
A palavra alienação significa que algo se torna estranho para
nós, algo que, em regra, não experimentamos como estranho;
ou seja, que uma expectativa é frustrada. Isso pode ocorrer no
âmbito familiar, por exemplo, quando um parceiro ou parente
não tem mais nada a nos dizer; ou no âmbito político, quando as
pessoas não conseguem mais desenvolver relação alguma com
“seus” governantes ou instituições. Outro campo de experiências
de alienação, amplamente tematizado pela teoria social até algum
tempo atrás, é o do trabalho. Isso se deve a diversas razões. Por
um lado, porque, dizendo-o honestamente, passamos muito mais
tempo no trabalho do que com nossas famílias ou parceiros. De
acordo com várias estatísticas, muitas pessoas gastam de duas a
três horas por dia diante do televisor. Realizamos essa atividade
“em conjunto” apenas em sentido restrito; ela deve, pois, ser
subtraída do tempo passado em comum.3
Em contrapartida,
a jornada de trabalho de muitas pessoas abrange um terço do
3 Ver
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