A capoeira do Rio de Janeiro
Resenha: A capoeira do Rio de Janeiro. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: ursao • 2/1/2014 • Resenha • 1.067 Palavras (5 Páginas) • 531 Visualizações
A capoeira do Rio de Janeiro do século 19 e a capoeira
de Salvador das décadas de 1930 e 1940
Autora: Letícia Vidor de Sousa Reis
Bacharel em História e Doutora em Antropologia Social pela Universidade de São
Paulo (USP). Atualmente, é professora da rede estadual em Piracicaba (SP) no Ensino
Fundamental e no Ensino Médio.
A capoeira carioca do século 19
A capoeira parece ter surgido nos quilombos brasileiros. Como os escravos não
podiam andar armados, quando conseguiam fugir, usavam o seu próprio corpo como
uma arma para se defender. Não há indicações seguras de que a capoeira, da forma
como a conhecemos no Brasil ainda hoje, tenha se desenvolvido em qualquer outra
parte do mundo.
Como ainda não existem pesquisas históricas sobre a capoeira dos séculos 16, 17
e 18, não é possível reconstruir o processo que levou ao seu deslocamento do campo
para a cidade. Isso deve ter acontecido por volta do início do século 19, porque são
deste período as primeiras referências históricas a respeito dos capoeiras1 urbanos.
Embora tenha sido sempre perseguida durante todo o período da Monarquia, foi
apenas em 1890 que a prática da capoeira se tornou um crime de acordo com a lei,
assim permanecendo até a década de 1930, quando foi finalmente liberada por Getúlio
Vargas durante o Estado Novo (1937-45).
Em 1878, por exemplo, o chefe de polícia da cidade do Rio de Janeiro,
considerava a capoeira como uma “doença moral que prolifera em nossa civilizada
cidade”. No entanto, um pouco mais tarde, no começo do século 20, alguns intelectuais
e militares cariocas verão a capoeira como uma “lucta nacional” e uma “excellente
gymnastica”, que deveria ser ensinada “nos colégios, quartéis e navios” de todo país.
Quem eram os capoeiras que povoavam as ruas de algumas das principais
cidades brasileiras no século 19 – entre elas, Rio de Janeiro, Salvador e Recife – e que,
pela intensidade da perseguição que lhes foi feita, tanto medo provocavam nas elites
1 - Durante o século 19 e o começo do século 20 usava-se a palavra “capoeira”, tanto para designar a luta
como os seus praticantes. Apenas a partir da década de 1930, quando a capoeira se transforma em um
esporte, passará a ser empregada a palavra “capoeirista” para os que a praticavam.
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brasileiras daquela época?
É importante notar que as informações apresentadas referem-se apenas à cidade
do Rio de Janeiro.
Os autores que pesquisaram a documentação policial são os que dão as
principais pistas para que seja possível penetrar no mundo da capoeira no século 19, por
causa da grande quantidade de decretos que procuraram limitar sua prática entre 1821 e
1889. Um decreto de 1824, por exemplo, declarava que: “os escravos presos por
capoeiras devem sofrer, além da pena de três meses de trabalho, o castigo de duzentos
açoites”2.
Entre as primeiras décadas e a metade do século 19, a capoeira aparece como
uma atividade praticada principalmente pelos escravos.
Os dados reunidos por Soares (1994) confirmam essa grande presença de
escravos capoeiras na primeira metade do século 19. Para o autor, a capoeira foi uma
“invenção escrava e urbana do Brasil”,3 ainda que marcada por uma forte herança
africana. Com base no Livro de Entrada da Casa de Detenção do ano de 1863, Soares
(1994) retira algumas informações sobre o universo do escravo capoeira: em geral
estavam agrupados em maltas (essa era a denominação policial para os bandos de
capoeiras) e, embora as representações sociais sobre os capoeiras do final do século 19
os associem a vadios, vagabundos ou ladrões, a análise das profissões declaradas pelos
capoeiras nos mostra outra realidade: eram artesãos de profissões variadas, como
sapateiros e pedreiros.
A maioria dos escravos capoeiras tinha entre 26 e 35 anos, tanto os escravos
crioulos, isto é, aqueles nascidos no Brasil, quanto os africanos.
Mas, pouco a pouco, como mostram os dados estatísticos (e também as
observações dos contemporâneos), a partir da metade do século 19, embora escravos
continuassem envolvidos, o número de praticantes de capoeira ampliou-se, incluindo
também libertos e pessoas livres.
Ao contrário do que se poderia pensar, portanto, a capoeira, pelo menos a partir
da década de 1870, não era praticada apenas por negros e pobres, estendendo-se
também aos brancos e até mesmo aos que pertenciam aos grupos
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