Auto Da Barca Do Inferno
Artigos Científicos: Auto Da Barca Do Inferno. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: Dani_ • 11/2/2014 • 1.613 Palavras (7 Páginas) • 618 Visualizações
O "Auto da Barca do Inferno", ao que tudo indica, foi apresentado pela primeira vez em 1517 na câmara da rainha D. Maria de Castela, que estava enferma. Esse Auto, classificado pelo próprio autor como um "auto de moralidade", tem como cenário um porto imaginário, onde estão ancoradas duas barcas: uma como destino o paraíso, tem como comandante um anjo; a outra, com destino ao inferno, tem como comandante o diabo, que traz consigo um companheiro. Com relação a tempo, pode-se dizer que é psicológico, uma vez que todos os personagens estão mortos, perdendo-se assim a noção do tempo.
Todas as almas, assim que se desprendem dos corpos, são obrigadas a passar por esse lugar para serem julgadas. Dependendo dos atos cometidos em vida, elas são condenadas à Barca da Glorificação ou à do Inferno. Tanto o anjo quanto o diabo podem acusar as almas, mas somente o anjo tem o poder da absolvição. Quanto ao estilo, pode-se dizer todo Auto é escrito em tom coloquial, ou seja, a linguagem aproxima-se a da fala, revelando assim a condição social das personagens, e todos o versos são Redondilhas maiores, sete sílabas poéticas.
Ao longo do Auto pode se encontrar períodos em que são quebrados tanto o esquema de rimas quanto o métrico. Como Gil Vicente sempre procurou manter um padrão constante em suas obras, atribui-se esse fato a possíveis falhas de impressão.
Em relação a estrutura pode-se dizer que o Auto possui um único ato, dividido em cenas, nas quais predominam os diálogos entre as almas, que estão sendo julgadas, com o anjo e com o diabo.
Os personagens do Auto, com exceção do anjo de do diabo, são representantes típicos da sociedade da época. Eles raramente aparecem identificados pelo nome, pois são designados pela ocupação social que exercem. Como exemplo pode-se cita o onzeneiro, o fidalgo, sapateiro etc.
Abaixo segue o resumo da obra, bem como um comentário sobre os personagens e suas características principais.
No começo do Auto o anjo divide o palco com o diabo e o seu companheiro. Os dois últimos estão muito eufóricos enquanto realizam os preparativos da sua barca, pois sabem que ela partirá repleta de almas. As posturas assumidas pelo anjo e pelo diabo acentuam ainda mais a tradicional oposição entre Bem e Mal.
As poucas falas, que fazem do anjo uma figura quase estática, se contrapõem a alegria e ironia do diabo. Assim, o diabo, que conhece muito bem cada um dos personagens que serão julgados, revelando o que cada um tenta esconder, torna-se o centro das atenções e praticamente domina a peça.
A primeira alma a chegar para o julgamento é o fidalgo. Ele vem vestido com uma roupa cheia de requintes e acompanhado por um pajem, que carrega uma cadeira, simbolizando o seu status social. Esse representante da nobreza é condenado à barca do inferno por ter levado uma vida tirana cheia de luxúria e pecados. A arrogância e o orgulho do fidalgo são tantas que ele zomba do diabo quando fica sabendo qual seria o destina do batel infernal, pois deixou "na outra vida" quem reze por ele. O fidalgo dirigi-se então a barca da glória e só quando é rejeitado pelo anjo percebe que de nada valem as orações encomendadas. Só então mostra-se arrependido, mas como já era muito tarde, embarca no batel infernal.
O segundo personagem que sofre julgamento é o onzeneiro ambicioso. Ao chegar a barca do inferno o diabo o chama de "meu parente". Ao descobrir o destino do batel infernal, ele recusa-se a embarcar e vai até a barca da glorificação, mas o anjo o acusa de onzena(agiotagem) e não permite a sua entrada. Condenado pela ganância, usura e avareza, o onzeneiro retornar a barca do inferno e tenta convencer o diabo a deixá-lo voltar ao mundo dos vivos para buscar o dinheiro que acumulou durante a sua vida. Mas o diabo não cede a seus argumentos e ele acaba embarcando no batel infernal.
A próxima alma a chegar é o parvo. Desprovido de tudo, ele é recebido pelo diabo, que tenta convencê-lo a entrar em sua barca. Ao descobrir o destino do batel infernal, o parvo xinga o diabo e vai até a o batel da glória. Lá chegando, o parvo diz não ser ninguém e, por causa da sua humildade e modéstia, a sua sentença é a glorificação.
O outro personagem que entra em cena é o sapateiro, que traz consigo todas as ferramentas necessárias para a execução do seu trabalho. Ao saber o destino da barca do inferno, ele recorre ao anjo, mas sua tentativa é vã e ele é condenado por roubar o povo com seu ofício durante 30 anos e por sua falsidade religiosa.
Acompanhado pela amante, o próximo personagem a entrar em cena é o frade. Alegre, cantante e bom dançarino, o frade veste-se com as tradicionais roupas sacerdotais e sob elas, instrumentos e roupas usadas pelos praticantes da esgrima, esporte esse que ele se revela muito hábil. O frade indigna-se quando o diabo o convida a entrar em sua embarcação, pois acredita que seus pecados deveriam ser perdoados, uma vez que ele foi um representante religioso. Então ele, sempre acompanhado da amante, segue até o batel da glória, onde o anjo sequer lhe dirige a palavra, tamanha a sua reprovação, cabendo ao parvo a tarefa de condenar o frade à barca do inferno por seu falso moralismo religioso.
Depois do frade, entra em cena Brísida Vaz, uma mistura de feiticeira com alcoviteira. Ao ser recebida pelo diabo ela declara possuir muitas joias e três arcas cheias de materiais usados em feitiçaria. Mas seu maior bem são "seiscentos virgos postiços". Como a palavra "virgo" corresponde ao hímen, pode-se dizer que a alcoviteira Brísida Vaz prostituiu 600 meninas virgens. No entanto, o adjetivo postiço dá margem a interpretação de que as moças não eram virgens e Brísida Vaz enganou seiscentos homens. Ao saber qual era o destino do batel infernal,
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