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Bias de palavras

Tese: Bias de palavras. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  23/11/2014  •  Tese  •  353 Palavras (2 Páginas)  •  363 Visualizações

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O viés das palavras

É comum as gentes eruditas desprezarem a moda em suas diferentes modalidades e generos. Julgam-se comprometidas com os valores eternos que repudiam o efêmero. Elas reclamam de tudo o que pode ser transitório, mas são as primeiras a embarcar na canoa furada das novidades em matéria de linguagem. Já foi tempo que era erudito falar em "a nível de", como foi radiante quem descobriu que as coisas devem se inserir num contexto. Os jornalistas mais escolados descobriram o verbo "disparar" para se referir a alguma coisa que é respondida na bucha – e aí está uma palavra, "bucha", contemporânea das Guerras Púnicas e da descoberta da roda.

Entrou em circulação, entre as cultas gentes, a palavra viés. Fui ao "Aurélio" e ao "Houaiss" para saber do que se tratava. Para Aurélio, viés é uma direção oblíqua ou uma tira de pano cortada no sentido diagonal da peça. Olhar de viés equivale a olhar de esguelha.

Para Houaiss, que sempre foi moderadamente complicado, viés é "o meio furtivo, esconso, de obter ou fazer concluir algo". Tive preguiça de consultar o que era "esconso", mas acho que entendi mais ou menos.

O espantoso é que, há cinco, seis anos, ninguém se atrevia a mencionar essa palavra, a não ser em matéria de costura, ou seja, da tira de pano cortada em sentido diagonal da peça. De repente, tudo passa a ser viés, o econômico, o social, o político, o artístico, o esportivo e o culinário.

Quem diz ou escreve "viés" sente-se um iluminado, um Moisés com as tábuas de lei. Outra noite, numa palestra com estudantes, um deles me perguntou se era legítimo o viés da literatura atual.

Sinceramente, não entendi bem a pergunta, porque ainda não havia ido ao dicionário do Houaiss. Se tivesse ido, responderia que a literatura olha de esguelha a sociedade. No fundo, é uma coisa esconsa.

(CONY, C.H. In COSTA PINTO, M. Crônica Brasileira Contemporânea. São Paulo: Salamandra, 2005.)

O fragmento "embarcar na canoa furada das novidades em matéria de linguagem" (L. 3-4) exemplifica o uso de linguagem figurada no texto.

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