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Por:   •  11/5/2014  •  3.147 Palavras (13 Páginas)  •  314 Visualizações

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A história e a lenda

O Infante D. Pedro (1230-1367) era casado com D. Constança, mantendo, no entanto, uma ilícita relação amorosa com D. Inês, de quem tinha três filhos. Dada a ascendência castelhana de D. Inês, o Rei D. Afonso IV e os seus conselheiros viam, nesta relação, um potencial perigo para a independência nacional.

Inicialmente, o rei D. Afonso IV tentou pôr fim a tal relação, expulsando D. Inês de Castro do reino. Esta, no entanto na fronteira espanhola, continuando a manter contacto com D. Pedro. A situação agravou-se quando D. Constança morreu. D. Pedro, agora viúvo, fez regressar D. Inês à corte, contra ordem expressa de seu pai, D. Afonso IV.

O Rei Afonso IV temendo pela sucessão do trono que seria seu neto, filho de Constança e pela influência dos nobres que temiam uma influência castelhana, tenta resgatar o filho e conduzi-lo a um casamento que obedecesse não aos caprichos de cupido, mas às conveniências políticas de Portugal. Para isso, vendo como única saída, o Rei manda vir Inês para que seja executada. Aproveitando a ausência de D. Pedro numa caçada, D. Inês foi morta pelos conselheiros (Diogo Lopes Pacheco, Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves), por ordem do Monarca.

Mais tarde, quando D. Pedro I subiu ao trono, mandou matar aqueles conselheiros, vingando a morte de D. Inês, executando de modo cruel os ex-conselheiros do seu pai, na altura refugiados em Espanha. Diz a lenda que retirou o coração, a um, pelas costas, a outro, pelo peito. O terceiro conseguiu refugiar-se em Castela. Reza, ainda, a lenda que D. Pedro coroou D. Inês rainha depois de morta.

A reabilitação da figura de D. Inês completou-se com a transferência do seu cadáver, de Coimbra para o mosteiro de Alcobaça, numa cerimónia que se revestiu de uma imponência nunca presenciada em Portugal.

A trágica história de D. Pedro e D. Inês inspirou poetas, dramaturgos, compositores e artistas plásticos, em Portugal e no estrangeiro. Camões foi um dos escritores a celebrar a lenda, referida em Os Lusíadas.

Episódio de Inês de Castro ( Canto III est. 118-137)

118

Passada esta tão próspera vitória,

Tornado Afonso à Lusitana terra,

A se lograr da paz com tanta glória

Quanta soube ganhar na dura guerra,

O caso triste, e dino da memória

Que do sepulcro os homens desenterra,

Aconteceu da mísera e mesquinha

Que depois de ser morta foi Rainha.

119

Tu só, tu, puro Amor, com força crua,

Que os corações humanos tanto obriga,

Deste causa à molesta morte sua,

Como se fora pérfida inimiga.

Se dizem, fero Amor, que a sede tua

Nem com lágrimas tristes se mitiga,

É porque queres, áspero e tirano,

Tuas aras banhar em sangue humano.

120

Estavas, linda Inês, posta em sossego,

De teus anos colhendo doce fruto,

Naquele engano da alma, ledo e cego,

Que a Fortuna não deixa durar muito,

Nos saudosos campos do Mondego,

De teus formosos olhos nunca enxuto,

Aos montes ensinando e às ervinhas

O nome que no peito escrito tinhas.

121

Do teu Príncipe ali te respondiam

As lembranças que na alma lhe moravam,

Que sempre ante seus olhos te traziam,

Quando dos teus formosos se apartavam;

De noite, em doces sonhos que mentiam,

De dia, em pensamentos que voavam;

E quanto, enfim, cuidava e quanto via

Eram tudo memórias de alegria.

122

De outras belas senhoras e Princesas

Os desejados tálamos enjeita,

Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas

Quando um gesto suave te sujeita.

Vendo estas namoradas estranhezas,

O velho pai sesudo, que respeita

O murmurar do povo e a fantasia

Do filho, que casar-se não queria,

123

Tirar Inês ao mundo determina,

Por lhe tirar o filho que tem preso,

Crendo co sangue só da morte indina

Matar do firme amor o fogo aceso.

Que furor consentiu que a espada fina

Que pôde sustentar o grande peso

Do furor Mauro, fosse alevantada

Contra ua fraca dama delicada?

124

Traziam-a os horríficos algozes

Ante o Rei, já movido a piedade;

Mas o povo, com falsas e ferozes

Razões, à morte crua o persuade.

Ela, com tristes e piedosas vozes,

Saídas só da mágoa e saudade

Do seu Príncipe e filhos, que deixava,

Que mais que a própria morte a magoava,

125

Pera o céu cristalino alevantando,

Com lágrimas, os olhos piedosos

(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando

Um dos duros ministros rigorosos);

E depois

...

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