TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Linguagem E Ideologia

Trabalho Universitário: Linguagem E Ideologia. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  10/3/2015  •  6.378 Palavras (26 Páginas)  •  266 Visualizações

Página 1 de 26

Filosofia da Linguagem e Ideologia

Linguagem e Ideologia

José Luiz Fiorin – ed. Ática, 1988 (série Princípios)

. Introdução

A linguística não se preocupou com as relações entre a linguagem e a sociedade, mas apenas com as relações internas entre os elementos linguísticos.

A linguagem é, antes de tudo, uma instituição social, o veículo das ideologias, o instrumento de mediação entre os homens e a natureza, entre os homens e outros homens.

O objetivo do livro não é mostrar que uma pronúncia de prestígio é imposta com a finalidade de discriminar pessoas; nem que o acesso a certas posições de destaque está ligado à aquisição de variedades linguísticas consideradas certas ou elegantes; nem que a norma linguística utilizada pelos que detêm o poder transforma-se em “língua modelo”; nem que as variedades linguísticas utilizadas pelos segmentos sociais subalternos são consideradas “erros”, “transgressões” e por isso seus usuários são ridicularizados; não é dizer que a linguagem é um instrumento de poder e que os segmentos sociais dominantes tentam ridicularizar a palavra dos dominados... O objetivo do livro é refletir sobre as relações que a linguagem mantém com a ideologia: o autor deseja analisar qual o lugar das determinações ideológicas neste complexo fenômeno que é a linguagem, bem como analisar como a linguagem veicula a ideologia, demonstrando o que é que é ideologizado na linguagem.

2. Marx e Engels dão as primeiras dicas

Os autores da obra A ideologia alemã mostram que, nem o pensamento, nem a linguagem constituem domínios autônomos, pois ambos são expressões da vida real.

Ao mesmo tempo em que goza de certa autonomia, a linguagem sofre determinações sociais e é preciso separar estes dois níveis: o de sua autonomia e o de suas determinações.

3. As primeiras distinções

A língua é social na medida em que é comum a todos os falantes de uma comunidade linguística.

O sistema (língua) é mais do que uma lista de palavras, ela é um sistema de oposições, de valores ( /l/ é diferente de /r/, diferente de /m/.....; dizemos o homem e não *homem o ...)

Um sistema linguístico é uma rede de relações que se estabelece entre um conjunto de elementos linguísticos e estas relações dão um determinado valor a cada componente do sistema e permitem selecionar o elemento apropriado para figurar em cada ponto da cadeia da fala e combinar adequadamente esses elementos entre si. A língua é uma estrutura internalizada pelos falantes (abstrata) que se realiza nos atos de fala.

Necessidade de distinguir discurso e fala

Discurso: são as combinações de elementos linguísticos (frases ou conjuntos de frases), usadas pelos falantes como o propósito de exprimir seus pensamentos, de falar do mundo exterior ou de seu mundo interior, de agir sobre o mundo.

Fala: é a exteriorização psico-físico-fisiológica do discurso. Ela é rigorosamente individual, pois é sempre um eu quem toma a palavra e realiza o ato de exteriorizar o discurso.

4. Quem determina o quê?

A fala não sofre qualquer determinação social, mas o discurso sim.

Se o sistema se altera por causas internas ao próprio sistema (fatores linguísticos: stella> estrela; latu>lado; desaparecimento do neutro etc.) ocorre também que algumas categorias gramaticais ou semânticas podem se justificar podem depender de fatores sociais (no latim árvore é feminino = por ser reprodutora, gerar frutos; o uso do masculino como genérico = o prestígio dos homens nas sociedade patriarcais...)

Se na história da língua se perdem as razões que motivam o aparecimento de certas categorias, é no nível do discurso que devemos, pois, estudar as coerções sociais que determinam a linguagem.

5. Discurso: autonomia e determinação

A frase não é um amontoado de palavras e o discurso não é um amontoado de frases.

O discurso pressupõe uma sintaxe e uma semântica.

A sintaxe discursiva compreende os processos de estruturação do discurso:

a) se ele é construído na primeira pessoa ou não:

Eu acho que Pedro foi ao cinema: efeito de subjetividade

Pedro foi ao cinema: efeito de objetividade

b) o tipo de discurso:

Discurso direto (efeito de sentido de “verdade”): Vou trabalhar pelo social.

Discurso indireto: Ele disse que vai trabalhar pelo social. Ele pensa trabalhar pelo social

A semântica discursiva diz respeito aos conteúdos que são investidos nos moldes abstratos sintáticos: determinar o tipo de discurso é um procedimento sintático, mas a personagem a quem se delega voz, o que ela diz, pertence à semântica.

(Exemplo: João disse que os EEUU vão entrar em guerra/ O presidente Bush disse que os EEUU vão entrar em guerra).

O conteúdo do que se diz pertence à semântica discursiva: depende da estrutura social.

Há no discurso o campo da manipulação consciente (sintaxe: como o falante organiza sua estratégia argumentativa) e o campo da manipulação inconsciente. Já, falando a respeito dos elementos semânticos de um discurso, o autor ressalta que:

o conjunto de elementos semânticos habitualmente utilizados nos discursos de uma dada época constitui a maneira de ver o mundo numa dada formação social. Estes elementos surgem a partir de outros discursos já construídos, cristalizados e cujas condições de produção forma apagadas. Esses elementos semânticos, assimilados por cada homem ao longo de sua educação, constituem a consciência e, por conseguinte, sua maneira de pensar o mundo. Por isso, certos temas são recorrentes na maioria dos discursos: "os homens são desiguais por natureza"; "na vida, vencem os mais fortes"; "o dinheiro não traz a felicidade".

...

Baixar como (para membros premium)  txt (33 Kb)  
Continuar por mais 25 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com