O LÚDICO NAS SÉRIES INICIAIS: BREVE HISTÓRICO DA LUDICIDADE
Por: Annia Araújo • 27/8/2020 • Artigo • 12.683 Palavras (51 Páginas) • 243 Visualizações
CAPITULO I
O LÚDICO NAS SÉRIES INICIAIS: BREVE HISTÓRICO DA LUDICIDADE
O intuito deste capitulo é suscitar a gênese da atividade lúdica, a qual vem desde a pré-história com a realização das atividades de caça, pesca, dança e luta, em que estas não se restringiam somente ao caráter de sobrevivência, mas possuíam também, em sua essência, o aspecto natural de prazer. Apesar disso, a educação deste período era única, tanto para os adultos quanto para as crianças, pois a cultura de sobrevivência era passada de geração a geração.
Com a evolução dos tempos em Roma e na Grécia Antiga percebe-se um novo sentido lúdico. Nessa época, por volta do séc. V a.C, Platão defendia a ideia de que, nos primeiros anos de vida, as crianças deveriam ter acesso a jogos educativos onde deveriam aprender brincando, em oposição à utilização da violência e da repressão tão cultivados pelo Estado espartano, quando este assumia a instrução infantil para transformar as crianças em bravos soldados. Nesse sentido percebe-se o total desprezo que o estado destinava ao lúdico.
Nessa mesma época, em Roma, Horácio e Quintiliano associaram o sentido prazeroso à educação, ao afirmarem que o interesse educacional baseado no lúdico foi iniciado com o uso de guloseimas e doces em forma de letras e números para ensinar as crianças. Nesse contexto, vale ressaltar que a brincadeira normalmente era considerada como uma fuga ou recreação e a criança não tinha seu espaço para se comportar espontaneamente.
Com o advento do cristianismo, este pequeno espaço que era destinado ao jogo educativo foi reduzido pelo fato de a sociedade cristã estabelecer uma educação que se caracterizava como disciplinadora, valorizando a memorização e a obediência, além de considerar o jogo como profano, imoral e sem nenhuma significação.
Somente a partir do sec. XVI, com o Renascimento, os humanistas passaram a admitir o valor educativo dos jogos, os quais voltaram a ser adotados nas escolas fazendo com que as pessoas se desprendessem da visão deturpada que desenvolviam em relação a eles. O jogo, nessa época,
... deixa de ser objeto de reprovação oficial, incorpora-se no cotidiano de jovens, não como diversão, mas com tendência natural de ser humano. É nesse contexto que Rabecq-Maillard situa o nascimento do jogo educativo. (KISHIMOTO, 2002 p. 15)
Ainda no século XVI, o jogo educativo recebeu grande destaque devido ao surgimento da Companhia de Jesus. Inácio de Loyola[1], militar e nobre, reconheceu a significância que os jogos de exercícios representavam para a formação do sujeito.
Além disso, Inácio de Loyola preconizou a utilização dos jogos como recurso auxiliar no ensino de indivíduos, frente ao exposto enfatiza-se que somente com o Renascimento, como afirma Kishimoto (2002 p. 62), as pessoas passavam a “ver a brincadeira como conduta livre que favorece o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo. Por isso foi adotado como instrumento de aprendizagens de de conteúdos escolares”.
Diante dos acontecimentos, o século XVII deu continuidade a propagação das ideias renascentistas, divulgando de modo expansionista os jogos didáticos ou educacionais. Nesse contexto, alguns filósofos se destacaram, visto que desenvolveram novos métodos ativos na educação, a exemplo de Comenius que utilizou três ideias que fundamentaram a nova didática: a naturalidade, a intuição e a auto-atividade. Tal método trouxe para a aprendizagem aspectos como rapidez, facilidade e consistência, obedecendo ao desenvolvimento da criança.
Comenius, nessa mesma época, relata em seu livro Orbis Sensualuim Pictus, a importância das imagens para a educação infantil, essa ideia foi apoiada por Locke, o qual a sustenta dizendo que tudo a ser encontrado na inteligência passa pelos sentidos da criança, isso fez com que os jogos de leitura se multiplicassem.
No século XVIII, ocorre uma nova situação em relação à inserção do lúdico na educação infantil: a eclosão do movimento científico inovou e popularizou os jogos, visto que, nesse tempo, a criança, enquanto portadora de uma imagem que apresenta uma natureza infantil distinta do adulto, começou a ser propalada e defendida ardentemente por muitos estudiosos.
Essa concepção teve maior sustentação a partir do século XIX, com o Romantismo, que forneceu o cenário onde se pudesse pensar na valorização do brincar e da criança. Dentro desse contexto, o surgimento de inovações pedagógicas junto com o esforço de praticar os princípios de alguns teóricos como Rousseau, Pestalozzi e Froebel, propiciaram a busca pelo reconhecimento do lúdico na educação, pois “O romantismo especifica o pensamento da época um novo lugar para a criança e seu jogo, tendo representantes, filósofos e educadores, que consideram o jogo como conduta espontânea, livre e instrumento de educação, da primeira infância”. (Kishimoto, 2002 p. 63).
Rousseau, por exemplo, é um desses filósofos que contribui para evolução dos jogos educativos, pois defendia o fato de a criança possuir sua maneira própria de ver, pensar e agir, distinta do adulto. Também esse filósofo acreditava na relevância dos sentidos para o exercício do pensar, em conjunto com o bom desenvolvimento do corpo.
Pestalozzi também consolidou a importância dos jogos a partir do momento em que o considera como fator fundamental para o engrandecimento do senso de responsabilidade e cooperação, elementos básicos para a educação da criança. Froebel, como discípulo de Pestalozzi, foi quem consagrou o jogo como fator essencial para a educação da criança, uma vez que conduziria os mesmos à atividades, à auto expressão e à socialização. Segundo a teoria Froebeliana, o jogo consistia em objeto e ação de brincar, caracterizando pela liberdade e espontaneidade.
Considerando esses pressupostos, percebe-se que o lúdico na educação infantil, aos poucos vem sendo reconhecido como fator importante que facilita o processo ensino-aprendizagem da criança. Sendo assim, teorias que divulgam a criança tem o poder de “reconhecer analogias e semelhanças, dar vida às coisas inanimadas, atribuir personalidade a tudo, ver significações ocultas e estabelecer relações” (Kishimoto, 2002 p. 71) passam a ser aceitas no âmbito educacional.
Esses princípios citados acima, que envolvem a criança, tornam-se visíveis diante do ato de brincar ao estimular o livre manifesto da emoção, do intelecto, do desejo, da criatividade, do afeto. E considerando esses mesmos princípios, Froebel, o criador do jardim-de-infância, inclui o jogo como parte do currículo de educação. Por 50 anos, a ideia mística e romântica Froebeliana predominou no âmbito da educação – mesmo com a ambiguidade que sua teoria apresentava – visto a mesma propalar a auto atividade e expressão das capacidades da criança. No entanto, manifestava atividades de natureza imitativas, além de conteúdos predeterminados, mas esse fato não ofuscou a relevância que a teoria Froebeliana representa para o reconhecimento do lúdico na educação da criança.
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