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Os Sertões E Os (des)caminhos Da Mudança Social No Brasil

Monografias: Os Sertões E Os (des)caminhos Da Mudança Social No Brasil. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  27/3/2015  •  1.785 Palavras (8 Páginas)  •  399 Visualizações

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Introdução

s sertões tem sido um dos livros significativamente discutidos no

Brasil. Já foram publicados, sobre esta obra, inúmeros estudos, principalmente

sob a forma de artigos em revistas especializadas de

literatura, ciências sociais e história, bem como diversos textos em

jornais de grande circulação e outros periódicos de caráter humanístico, de

modo geral. Basta citar, somente a título de ilustração, a lista feita pela editora

Aguilar, em 1966, sob a direção de Afrânio Coutinho, na qual constam aproximadamente

800 artigos sobre Euclides da Cunha1

. Dentre esses a maioria

versa sobre a análise feita por Euclides da Cunha a respeito do movimento de

Canudos que ocorreu no período de novembro de 1896 a outubro de 1897 nos

sertões da Bahia.

Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 13(2): 201-226, novembro de 2001. ARTIGO

Os sertões e os (des)caminhos

da mudança social no Brasil

MARIA JOSÉ DE REZENDE

Professora de Sociologia

da Faculdade de

Ciências Sociais-UEL

PALAVRAS-CHAVE:

Euclides da Cunha,

mudança social,

sertão,

conflito,

República,

Brasil.

O

REZENDE, Maria José de. Os sertões e os (des)caminhos da mudança social no Brasil. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S.

Paulo, 13(2): 201-226, novembro de 2001.

202

No transcorrer do séc. XX foi travado um amplo debate sobre qual

seria o caráter da obra Os sertões. Sociológico? Literário? Antropológico?

Histórico-geográfico? Tudo isso ao mesmo tempo? (cf. Freyre, 1944;

Fernandes, 1977; Galvão, 1980, 2000; Lima, 1998; Hardman, 1998). Assinale-se

que as principais controvérsias têm-se dado em torno do caráter científico

ou não do livro de Euclides da Cunha. Os principais argumentos visam

destacar tanto as contradições presentes em suas filiações teóricas quanto a

circunscrição ou não de um objeto de análise nos escritos sobre o conflito de

Canudos (cf. Rosenfield, 1998).

Partiu-se, neste artigo, do pressuposto de que as contradições no

plano teórico e a dificuldade de circunscrição do objeto devem ser

problematizadas à luz de um dado momento histórico em que Euclides da

Cunha ensaiava os primeiros passos de uma análise sociográfica. Walnice

Nogueira Galvão afirma que, ao tentar dar conta dos acontecimentos de Canudos

no calor da hora, ele se viu obrigado a “explicitar por tentativas um

quadro teórico” (Galvão, 1980, p. 36). Neste estavam presentes, principalmente,

as influências de Buckle, Taine, Spencer e Darwin, segundo ela.

“Entretanto, é a partir desse quadro teórico, ou apesar

dele, que Os sertões se coloca como um livro precursor,

posto na raiz do desenvolvimento das ciências

sociais brasileiras nos anos 30 e 40. As interpretações

gerais que surgem nos anos 30 apontam para

a coexistência de dois países – um litorâneo e adiantado,

o outro interiorano e atrasado –, lição aprendida

em Os sertões e que mais tarde será radicalizada

em contradição ferrenha substituindo a noção de

coexistência. Essa é a maior e, até hoje, permanente

influência de Os sertões em nossa reflexão social. (...)

Na década de 40 começa propriamente a especialização

das ciências sociais aqui, abandonadas as

preocupações de grandes sínteses expressas na forma

do ensaio histórico-sociológico com alcance literário,

dada a ênfase agora à pesquisa objetiva e

aos pressupostos científicos. A influência de Os sertões

vai se fazer sentir na persistência dos temas que

levantava – o negro, o mestiço, o índio, os movimentos

insurrecionais populares, o subdesenvolvimento

(...)” (Galvão, 1980, p. 36).

Segundo Florestan Fernandes, a publicação do livro Os sertões,

em 1902, constituiu um divisor de águas no processo de formação das ciências

sociais no país. Isso ocorreu em razão de ser ele “o primeiro ensaio de

descrição sociográfica e de interpretação histórico-geográfica do meio físico,

dos tipos humanos e das condições de existência no Brasil. (...) Daí em

diante, o pensamento sociológico pode ser considerado como uma técnica

1 Recentemente têm

sido publicados vários

trabalhos sobre Os

...

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