RESENHA CRÍTICA DO FILME "QUE HORAS ELA VOLTA"
Por: rutipelotas • 7/11/2018 • Resenha • 1.058 Palavras (5 Páginas) • 944 Visualizações
RESENHA DO FILME “QUE HORAS ELA VOLTA”
A pernambucana Val se mudou para São Paulo com o intuito de proporcionar melhores condições de vida para a filha, Jéssica. Dez anos depois, a garota lhe telefona, dizendo que quer ir para a cidade prestar vestibular. Os chefes de Val recebem a menina de braços abertos, porém o seu comportamento complica as relações na casa.
O filme consegue confrontar o Nordeste e o Sudeste, os ricos e os pobres, o Brasil segregacionista e a ideia de união nacional.
Val é uma empregada doméstica de Recife que mora há mais de uma década na casa dos patrões. Dentro deste amplo lar de classe média-alta, Val é considerada “quase da família”, tendo criado o filho dos patrões como se fosse próprio, mas ela ainda faz as suas refeições em uma mesa separada, dorme no quartinho dos fundos (o pior cômodo da casa) e jamais colocou os pés na grande piscina onde os outros se divertem. Val é mantida numa condição totalmente serviçal. Nestes dez anos de convivência, a “patroa” nunca se interessou por sua vida, ignorando até mesmo que esta tem uma filha. A empregada doméstica foi o símbolo escolhido para ilustrar a condescendência de certa elite que “acredita sinceramente ter sido feita para ocupar tal posição”.
O elemento que permite implodir a dinâmica familiar é a chegada de Jéssica, filha de Val, à casa dos patrões, na intenção de se preparar para o vestibular. Questionadora, ela funciona como um elemento de subversão que ressalta a artificialidade daquela estrutura, que parecia natural tanto à família quanto a Val.
O casal deixa muito claro qual é a posição e o lugar das pessoas na casa quando define quais coisas da geladeira podem ser consumidas pelos empregados e por quais ambientes podem circular. Depois que Jéssica entrou na piscina com Fabinho e seu amigo, foi mandado esvaziar e trocar a água. Atitudes que denotam a ideia de repulsa dos patrões.
A família fica bastante surpresa ao constatar o nível de conhecimento da “filha da empregada” e mais incrédula ainda quando esta passa no vestibular e seu filho não.
O filho, “Fabinho”, é um adolescente mimado, que tem problemas de relacionamento com a mãe mas é super amoroso com Val. Ganha uma viagem de seis meses para a Austrália como um consolo por não ter obtido êxito nas provas de vestibular.
Os patrões fazem a imagem do casal rico e supostamente descolado, apesar de serem presos às convenções sociais, tendo um relacionamento superficial. Há um breve momento em que o filme trata da questão de assédio sexual quando o pai tenta maiores intimidades com Jéssica.
A condição de Val, uma retirante do nordeste que viaja para São Paulo para ganhar a vida, lhe custou caro uma vez que sua relação com a filha é bastante distante e impessoal (não sabe para que curso ela vai prestar vestibular e muito menos que a mesma já possui um filho).
O filme retrata também a condição de muitas mães que não acompanham o crescimento e desenvolvimento de seus filhos por conta de sua atividade profissional. O que por consequência acaba gerando inúmeros conflitos familiares. Daí a ideia do nome do filme, quando em criança, tanto a Jéssica quanto Fabinho perguntam “que horas ela volta”, se referindo à ausência da mãe. Claro que a resposta é a mesma, mas o motivo é outro, a ausência de muitas mães Bárbaras é completamente diferente de tantas outras mães Vals.
É possível que muitos brasileiros se identifiquem com este filme. Muitas pessoas poderão enxergar em tela as próprias famílias, ou as famílias de pessoas que conhecem.
Penso que a problemática do filme possa estar relacionada ao texto de Ricardo Antunes: A classe-que-vive-do-trabalho, que trata da forma de ser da classe trabalhadora hoje.
A classe trabalhadora de hoje inclui a totalidade daqueles que vendem sua força de trabalho, tendo como núcleo central os trabalhadores produtivos. Incorpora a totalidade do trabalho coletivo assalariado; Engloba também os trabalhadores improdutivos cujas formas de trabalho são utilizadas como serviços, trabalho consumido como valor de uso e não como trabalho que cria valor de troca (assalariados do setor de serviços, bancos, comércio, turismo, serviços públicos etc.).
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