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RIO 450 ANOS

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Por:   •  22/3/2015  •  2.562 Palavras (11 Páginas)  •  428 Visualizações

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A cidade do Rio de Janeiro completa no dia 1 de março do 2015, 450 anos. Seguindo a lógica das cidades globais, concorrentes num mercado internacional de cidades para atrair investimentos, o Rio é gerido como uma empresa e um produto a ser amplamente explorado.

Considerando as grandes vantagens que as características do Rio oferecem para os empreiteiros como, por exemplo, as riquezas do petróleo o prefeito Eduardo Paes junto com os empresários cariocas aproveitaram a ocasião do aniversário da cidade para transformá-la com uma série de comemorações festas e eventos que se estenderão até março de 2016. Estes eventos começaram no dia 31 de dezembro de 2014, com o réveillon de Copacabana. A desculpa perfeita para emendar a Copa do Mundo e as Olimpíadas, e não parar a festa de lucros que a cidade maravilhosa oferece à burguesia nacional e estrangeira. Lucros que também se relacionam com as imensas intervenções urbanas, deslocando e removendo moradores e contribuindo para a especulação imobiliária.

Mas além da sede de lucro por trás do RIO 450 qual o discurso da comemoração dos 450, ou dito de outra forma, o que a prefeitura comemora e o que oculta com a comemoração do RIO 450?

Cidade Maravilhosa? Nem para todo mundo...

O portal da prefeitura criado para o 450º aniversário apresenta um calendário anual dedicado inteiramente a comemorar um determinado Rio de Janeiro. O portal retrata uma cidade de fantasia, distante da realidade da maioria da população carioca, onde tudo é festa, praia e samba, cultura e conversa de boteco. Isto dista do dia a dia de milhões de cariocas da zona norte, oeste e baixada e mais se aproxima com a realidade dos moradores da "cidade formal" na zona sul da cidade, ou de outras áreas, mas que gozem de tempo suficiente para tal modo de vida em toda sua extensão de tempo.

O vídeo promocional do RIO 450faz um chamado a uma comemoração com "a cara do carioca". Em 37 segundos, a prefeitura do Rio simplifica a realidade de uma cidade inteira, de quase sete milhões de habitantes a "quem gosta de praia, de samba, de funk, cinema, skate e boteco". Isto é verdade. Muitos cariocas gostam de praia, samba ou funk, mas representa só uma pequena parte da vida desses Cariocas, muitos deles trabalhadores e moradores de zonas distantes das praias. A praia está lá, o sol nasce para todos, porém a sombra para se refrescar do sol, o fácil acesso à praia, o tempo para deslocarem-se à praia, os custos de consumir coisas, bem isto, aí não é para todos e choca-se com o mundo da cidade maravilhosa da propaganda oficial.

A marca RIO450 torna uma "obrigação" o ser feliz, ou ao menos mostrar-se feliz. Não importa o trabalho precário, as horas no trem, a moradia precária, a violência policial. Os cariocas, "gente que vive, cria, sofre, ama e enfrenta a dificuldade sem nunca tirar o sorriso do rosto". Isto faz parte do que define os ideais burgueses para a cidade, mas não estão separados da dura vida dos trabalhadores da cidade do Rio, e que acontece, na sua maioria, longe das praias de Copacabana e Ipanema ou da Barra da Tijuca.

450 anos reduzidos a um "estilo de vida", e que tentam tornar feliz tudo, até mesmo o sofrido trabalho dos vendedores de mate na praia. Os vendedores deste produto viram uma marca da cidade na propaganda da prefeitura, ignorando o drama do sol, os danos aos olhos que sofrem estes trabalhadores tão expostos à luminosidade e reflexo da areia.

Segundo a declaração da marca do RIO450 "é uma proposta para provocar reflexões lúdicas sobre quem somos e o quanto amamos estar onde estamos. Ela foi pensada para resgatar o orgulho de pertencer" (ao Rio). Neste esquema o trabalho que sustenta a fantasia do Rio nem é reconhecido nas comemorações do 450º aniversário. Quase como se todo gari, todo motorista de ônibus devesse agradecer por ser explorado no Rio e não em São Paulo ou BH porque pode fazer isto enquanto observa uma bela paisagem. Sabemos que essa prazerosa vida de sonhos não é a realidade da maioria dos cariocas. Muitos dos moradores da cidade do Rio têm pouco e difícil acesso as principais praias da zona sul. E os cariocas que chegam deônibus da zona norte são revistados e achacados pela polícia.

Esse amor pela cidade é utilizado por estes políticos e empresários corruptos e disfarçam a roubalheira e as negociatas com a cara da "felicidade do povo". Porque numa cidade tão dividida entre as classes sociais, entre áreas cheias de direitos, inclusive “à cidade”, com praças, transporte, e outros objeto de descaso com direito a moradia e sob mira da polícia e UPP, o amor pela cidade e o sentimento de se sentir parte desse sonho e desta festa, as vezes é a única forma de inclusão dos trabalhadores e dos negros nas favelas.

Esta “inclusão” dos trabalhadores nesta cidade, é parte fundamental da hegemonia burguesa no Rio. Sem este “pertencimento” a tão flagrante contradição social só poderia explodir e o medo burguês do “morro descer” ser contido com um nível ainda maior de repressão e assassinatos policiais. Sem “amor ao Rio”, “um Rio de todos”, sem estes elementos de “consenso” a hegemonia exigiria níveis ainda maiores, e difíceis de lidar, de coerção. Para fundar este consenso, que se insere na ideia de “democracia racial”, é preciso apagar as classes sociais, sobretudo a classe trabalhadora.

A Carioquice do RIO450 promovida pela prefeitura representa os interesses que as elites cariocas conseguem manipular para fazer do aniversário da cidade um grande negócio a sua imagem e semelhança, para consumo do capital imperialista. Não nasce de uma analise dos cariocas, mas do projeto de sociedade e de cidade que está sendo impulsionado. E não é novo na história da cidade do Rio.

A cidade de todos por todos e para todos

A partir do final do século XIX, começou a implementar -se um projeto de cidade conforme os padrões das grandes cidades europeias. O ideal era Paris, cidade cosmopolita e moderna. O Rio, na cabeça da burguesia local, já era europeia, mas na realidade a cidade parecia um grande mercado persa, mais semelhante às cidades do oriente médio do que das cidades europeias referências das elites. Foi expulsa do centro cidade uma grande parte da população. Uma gentrificação implementada pelo Estado, principalmente pelas mãos da polícia, sob pretexto de melhorar a saúde, associando as moradias do povo pobre com doenças e retirando a grande maioria dos moradores do centro da cidade e deslocando-os para os morros e novos bairros em formação nos limites da cidade. Por exemplo, o magnífico Teatro Municipal e a Avenida Rio Branco, que estilizam este projeto foram

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